Leonardo 22/04/2014
Ótimo livro para crianças
Este é um livro infantil, algo raro de se ver resenhado neste blog. Isto porque este é um blog feito por adultos que leem o que gostam, ou seja, livros para adultos (ou, no máximo, “literatura infanto-juvenil clássica”, tais como livros de Júlio Verne, Pinóquio e Mark Twain, ou literatura fantástica, como livros de Tolkien ou a série Harry Potter). Pensando bem, a lista de exceções é bastante grande, maior do que eu havia pensado… Deixe-me reformular minha ideia então: livros pura e exclusivamente infantis são raros neste blog. Não lembro de nenhum além deste.
Para quem não sabe, este blog mantém uma parceria com a Editora Intrínseca. Escolhemos os livros que desejamos a partir de uma lista disponibilizada pela editora, recebemos o livro em casa, lemos, escrevemos a resenha e a publicamos no blog. Por conta desta parceria, posso escolher livros que normalmente eu não leria. Neste caso, posso dizer que Vovó Vigarista faz parte da minha coleção particular “Formando um filho leitor”. Tenho um filho de dez anos que lê bastante. Ele já tem uma inclinação natural para isso, já que é bastante tranquilo e quieto, podendo passar horas parado, seja com um livro nas mãos, seja na frente do videogame ou do computador, se eu deixar. Procuro impulsionar essa sua tendência levando-o sempre às livrarias, comprando livros que ele gosta (séries como Diário de um Banana, As aventuras do Capitão Cueca, Nate etc.) e vez ou outra incluindo em sua lista algum livro diferente, do qual ele goste e que possa despertar nele o gosto por outro tipo de ficção. Foi assim com Pinóquio, por exemplo, que li com ele (resenhado aqui), com Matilda, A Fantástica Fábrica de Chocolates e James e o Pêssego Gigante, todos ótimos livros de Roald Dahl, e com A ilha do tesouro, que estou lendo com ele (há bastante tempo, frise-se). Detalhe fundamental: meu filho se apaixonou por todos estes livros, mesmo tendo começado a leitura com visível apreensão.
E foi assim com Vovó Vigarista. Não superestimei o livro, querendo colocá-lo no mesmo patamar dos livros citados. É que, ao pesquisar sobre a história, imaginei que se tratasse de um livro que se situa numa zona intermediária entre os Diários de um Banana e seus congêneres (quase livro, quase quadrinhos, todos livros confessionais de losers) e uma ficção mais de aventura (afinal, não é todo dia que você descobre que sua avó é a maior ladra de joias do mundo).
Foi neste espírito, portanto, que escolhi Vovó Vigarista: li-o rapidamente para avaliar se, de fato, é um livro do qual meu filho deverá gostar. E não me arrependi da escolha.
Vovó Vigarista conta a história de Bem, um garoto de onze anos que toda sexta-feira tem que passar as noites na casa de sua avó, que só sabe fazer comidas à base de repolho – torta de repolho, bolo de repolho, sopa de repolho – e jogar palavras cruzadas. Ben detesta as noites que passa lá. Até que descobre um terrível segredo: sua avó é uma das maiores ladras de joias do mundo.
Vovó Vigarista é, como falei, um livro infantil, o que transparece nas situações irreais e, principalmente, nos personagens caricaturais: os pais de Bem são um exemplo claro disso. Obcecados por programas de dança, eles vivem em função do Dançando com Superestrelas, e sonham inclusive que o filho um dia se torne dançarino para participar do programa. Ben, por sua vez, é um garoto que não gosta de ler e cuja única paixão verdadeira são os encanamentos. Isso mesmo. Seu sonho é ser encanador quando crescer e sua revista preferida é, surpresa!, a Revista do Encanador.
Se para um adulto estes personagens caricatos podem parecer distantes da realidade, creio que esta é uma maneira bem eficiente de se comunicar com as crianças. E neste quesito, Vovó Vigarista pontua muito bem. A prosa de David Walliams é informal e é comum ele abrir parênteses (todos bem interessantes) para conversar com o leitor.
“Os adultos sempre perguntam às crianças como elas estão na escola. O assunto que as crianças mais detestam. Não dá vontade de falar sobre a escola nem quando se está na escola.”
Os “parênteses” mais legais, contudo, são aqueles ajudados pelas ótimas ilustrações de Tony Ross, como este em que o autor ensina como fingir escovar os dentes:
dentes
Ou este, em que o autor mostra que a avó de Ben é igual a todas as outras avós:
vovo
As ilustrações são muito criativas, não se resumindo a desenhos. Há diagramas e até gráficos, como este abaixo, mostrando os níveis de levação de bronca:
bronca
Não vou entrar nos detalhes da trama, mas devo dizer que o fim foi bem satisfatório. Não é por ser um livro infantil que ele é totalmente previsível. Claro, chega um momento em que você entende o que vai acontecer, mas o autor ousa bastante e usa da prerrogativa que citei antes, das situações irreais, para levar Ben e sua avó vigarista a viver uma aventura que, imagino eu, vai deixar meu filho bastante satisfeito.
E tem, é claro, uma importantíssima lição. Não é apenas um livro com uma aventura engraçada e sem propósito. Ben aprende a enxergar sua avó com outros olhos. Não, não se preocupe, que ele não vai aprender a roubar. Tudo se resolve. Mas Vovó Vigarista ainda fará a criança refletir bastante sobre o respeito aos mais velhos sem ser chato.
Esta resenha só vai ter fim, de fato, quando meu ele ler o livro e me disser o que achou. Neste exato momento, ele aproveita seus últimos dias de férias, e por isso não tenho muita esperança de que vá ler nada. Seu tempo agora é para brincar com o primo, seja de videogame, seja de jogos de tabuleiro, de correr, de RPG… não sou eu que vou querer bancar o chato e obrigá-lo a ler agora o que quer que seja. Corro o sério risco de perder um leitor.
Quanto a Vovó Vigarista, se você estava pensando em dar de presente a um filho, sobrinho, filho de um amigo ou irmão/irmã mais novo/nova, nem pense duas vezes: é uma ótima pedida.
Minha Avaliação:
3 estrelas em 5 (poderá ganhar uma ou duas estrelas dependendo de quanto meu filho goste do livro).
site: http://catalisecritica.wordpress.com