Luara Cardoso 01/10/2013Merece ser lido!Vidas Trocadas é um livro único. Sabe quando você termina um livro sabendo que provavelmente nenhum terá a sensibilidade que ele teve para lidar com tal assunto? Tive a mesma sensação com
Não me abandone jamais, do autor Kazuo Ishiguro, e esse tipo de livro sempre me afeta, sempre me faz procurar mais sobre o que ele trata. Com Vidas Trocadas não foi diferente. Me emocionei, me afligi e encontrei
um bom drama como há tempos não encontrava.
Rosie acaba de perder a mãe por causa da doença de Huntington. Por causa do medo de ter herdado essa doença genética, ela decide que irá fazer um teste para saber o que seu futuro a reserva. Só que ela acaba descobrindo que Trudie não era sua mãe, uma vez que ela tinha sido trocada na maternidade. Com a esperança de encontrar sua verdadeira família, Rosie toma coragem e vai atrás de todas as pistas possíveis. Com isso irá desencavar segredos que irão afetar mais pessoas do que ela imaginava.
Os eventos daquela noite fatídica rodopiam como um furacão na minha mente; mil perguntas ressoam como chuva de granizo, perfurando e destruindo todas as verdades em que acreditei a vida inteira e deixando somente um vazio tão escuro e vasto quanto o céu noturno, embora com algumas poucas e preciosas estrelas para me guiar.
Meu futuro.
Uma pessoa não pode existir se não tiver passado. (...) Mas e se sua existência inteira for uma mentira? p. 53
Vamos aos fatos: quem não acha a capa desse livro linda? É lógico que qualquer leitor que a ver em uma livraria (física ou online) vai tirar um tempinho para ler a sinopse e ver do que se trata. Foi isso o que aconteceu comigo. Após ver essa capa em alguns lugares, procurei saber mais sobre ele e
me surpreendi, pois ele era totalmente diferente do que eu acreditei ser ao olhar a capa. Fiquei um pouco
receosa, afinal, não é qualquer drama que consegue me ganhar (a maioria me parece exagerada demais), mas, depois de ler algumas resenhas, resolvi que era hora de encará-lo. Sábia decisão.
A autora divide o livro em duas partes. Na primeira parte nos deparamos com a narrativa de Rosie, uma garota que acaba de perder a mãe e está assombrada pela doença de Huntington. Como vinha de uma série de livros com temáticas bem longe de ser dramáticas, me deparar com algo diferente foi um baque. Ou seja, logo de cara não conseguia lidar com a Rosie exatamente por causa disso. A construção do meu relacionamento com ela foi gradual, até que ela me ganhou completamente e isso se deu principalmente por causa da
sensibilidade da autora em demonstrar tudo que alguém faria caso estivesse à procura de sua família biológica.
Na segunda parte de Vidas Trocadas, conhecemos Holly e a partir daí as
narrativas são intercaladas entre ela e Rosie. Ela é aquela personagem que, por mais que você entenda o motivo de fazer determinadas coisas, você não cria nenhuma empatia com ela. Passei a maior parte do tempo
detestando suas atitudes, mas, se não fosse por elas, a carga dramática do livro não seria tão grande e isso faria com que nem tudo que a autora quis demonstrar fosse exposto. Ou seja, são meios para um fim.
A forma como o enredo foi conduzida é mais uma parte positiva. Algumas vezes eu cheguei a ficar confusa com algumas coisinhas que a autora fez, mas nada que atrapalhasse a leitura, uma vez que são explicadas logo em seguida. Mas, fora isso, a jornada de Rosie emociona desde o princípio. Você torce, fica ávido por mais informações e, mesmo assim quer e consegue degustar cada pedacinho da história. Isso tornou a leitura muito mais prazerosa.
A verdade pode até ferir, porém as mentiras são um ciclo vicioso. Elas se escondem aninhadas dentro de nós, para de repente nos atacarem sem aviso prévio, antes mesmo que percebamos que estão lá.
Preciso saber antes que seja tarde. p. 311
Katie Dale, além de fazer um
livro primoroso, consegue
informar e muito. Além de mostrar a realidade de trocas da maternidade, que, mesmo que a gente não veja muito, acontecem mais do que pensamos, temos uma visão bem aprofundada da doença de Huntington. Sabemos das partes médicas, como sintomas e que
não existe cura e também lidamos com a carga emocional que afeta não só a pessoa portadora, mas todos ao seu redor. São tantas nuances abordadas que eu sinceramente duvido que qualquer autor conseguiria fazê-lo.
Terminei o livro com aquela sensação de que é uma história que
merece ser lida, mesmo por aqueles que não curtem tanto a temática. É uma situação real, que mostra uma doença que pode acometer a qualquer pessoa. Livros assim sempre nos dão um choque de realidade, nos fazem dar mais importância às coisas ao nosso redor. É por isso que eu digo: se você tiver oportunidade, leia sem medo. Você não vai se arrepender.
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