Joao.Gabriel 06/09/2023
Ótimo. Um ótimo livro. Vou tentar fazer uma resenha mais elaboradinha aqui.
Como explicitado na própria edição: Noite é uma viagem para o interior da culpa.
O que quero fazer aqui não é falar, apenas, que o Homem de Gris é culpado. Isso todos sabemos. Vou tentar evidenciar o porquê dessa culpa.
Começamos o livro desnorteados, tal qual o Desconhecido. Não sabemos o que houve, o que aconteceu anteriormente, e por que ele está no estado que está. Ai desenrolar do livro, vamos conhecendo personagens repugnantes, mas interessantes e bem vívidos. Veríssimo traz uma personalidade singular a todos que o Desconhecido encontra, assim como uma própria personalidade complexa para o protagonista.
O Desconhecido carrega essa culpa, desde pequeno. Mas qual a origem dessa culpa, essa que impulsiona toda a narrativa? A infância.
O Homem de Gris, quando criança, sofreu um trauma terrível. Ao ver seus pais, na cama, "lutando bravamente e gemendo", imaginou sua mãe ser assassinada. Mas não era isso. Não preciso dizer o que o pequeno protagonista viu, aquela noite.
E o pequeno ouviu esses gemidos estranhos diversas noites. Esse é o trauma primevo que desencadeia toda a trama.
É por causa dele, que sua mulher o deixa. Ora, cresceu e se tornou impotente no ato do sexo. Ele se pergunta o motivo... É óbvio o motivo, mas nunca para o traumatizado.
E a culpa de não ter "salvado a mãe", na infância, segue com ele e cresce com ele. Cresce até o ponto do casamento, onde adquire ainda mais poder sobre ele, diante da impotência e "fraqueza" que vivencia perante a sociedade e sua mulher.
E é por esse motivo que sente o que sente: o ciúme da mulher, motivado pela sensação de fraqueza; Os pensamentos suicidas a todo momento de melancolia; O ato sexual como a morte. Também por isso pensa fielmente ter matado a sua esposa, ou a Ruiva, posteriormente. Associou o sexo ao assassinato inconscientemente, quando criança, devido ao trauma.
No final, recuperada as memórias, lembra-se que sua mulher o deixou. Um apanhado de acontecimentos (todos ligados à essa culpa) acarretou nisso. Mas anseia pela volta da amada, sonha com isso, é seu último recurso, e num ato desesperado ouve passos no andar de cima e, sem lembrar nem mesmo o nome da própria esposa, balbucia o nome daquela que nunca o deixou, lembrando-o sempre da culpa que ele carrega: Maria! Maria!
Sua mãe.