Mi 27/12/2020
Um foco no pano de fundo das histórias
Conheci a Carol Bensimon numa das tantas lives do perfil @novasclarices. Me encantei com a forma de ela se expressar e guardei aquele nome na lista e sabia que nosso encontro não demoraria a acontecer. Como ela já tem 5 livros publicados, aleatoriamente escolhi “Pó de parede”, publicado em 2008 pela Não Editora, um livro composto por três histórias independentes: A caixa, Falta Céu e Capitão Capivara. A relação que estabeleci entre elas foi a presença do tema adolescência, essa fase de transição e mudança. Nas três histórias, há personagens fazendo essa travessia de descobertas: primeiro beijo, primeiros amigos, primeiro trabalho, alguns traumas, segredos, etc. Como pano de fundo, percebi alguns temas pertinentes sendo levantados, então, vou focar nessas temáticas exploradas.
No primeiro conto, por exemplo, é apresentada a questão do padrão versus diferente, pois a protagonista morava numa casa arquitetonicamente “fora do padrão” e, por isso, apelidada de Caixa. A casa, no entanto, não era a única coisa fora do padrão ali. Finalizei a primeira história pensando: a gente perde tanto tempo analisando desimportâncias que falta tempo e atenção para coisas realmente importantes, como o estado mental das pessoas que nos cercam. Depois só nos resta clichês: “ela parecia bem”, “ela parecia ter uma vida feliz” (dois pontos numa única frase aliás: parecer é superficial demais pra se definir a profundidade que é viver, e será que há diferença entre SER feliz e TER uma vida feliz?).
A segunda história, Falta Céu, explora, a meu ver, o universo do marketing se apresentando a uma pequena cidade. Com a construção de um condomínio, a publicidade vende a vida perfeita em família à beira do rio. Construções tomando áreas públicas, destruição da natureza, e construção do consumismo foram temas que vi nessa segunda história.
Capitão Capivara fecha o livro foi o meu conto preferido. Nele, é retratado o universo de um escritor famoso e infeliz que escreve sob encomenda, ou seja, escreve aquilo que vende e não aquilo no que acredita, se é que ele ainda sabia no que acreditava. Achei esse tema bem pertinente de se abordar, sobretudo, em contraste com a protagonista que estava iniciando sua carreira de escritora. No meio artístico, as pessoas estão produzindo o que amam e sentem ou que vende? E nós estamos consumindo o que gostamos ou o que está na moda?
Já tenho outro livro na autora na minha lista.