Maria - Blog Pétalas de Liberdade 13/03/2019Resenha para o blog Pétalas de LiberdadeO livro é composto por três histórias independentes, ligadas apenas pela presença de construções. A primeira se chama "A Caixa", e nos apresenta Alice, uma garota que morava com os pais numa casa que foi o grande projeto de um arquiteto e que, por isso, era muito diferente de todas as casas do bairro, inclusive era apelidada de Caixa e alvo da curiosidade dos vizinhos.
Alice acabava sendo vítima de bullying por parte dos colegas por morar numa casa tão excêntrica, mas tinha em Tomás um amigo, e também havia Laura, aparentemente uma garota perfeita, mas que escondia um espírito transgressor e rebelde.
A história vai e volta no tempo, alternando entre os anos noventa e dois mil, o que nos permite ver como esse trio de personagens e a amizade deles foi crescendo ao longo dos anos. A história mostra o conflito de gerações, onde os pais de Alice foram influenciados pelo movimento hippie, enquanto a garota admirava a "normalidade" da vida da família de Laura. E mostra também que, algumas vezes, um ato excêntrico pode ser uma grande prova de amizade, como o que estava por trás da construção da Casa Caixa.
O segundo conto é "Falta Céu", ambientado numa cidade pequena e pacata, onde o início de construções na beira do rio se tornaria uma novidade e motivo de curiosidade para João, Lina e Titi. A história reflete bem o que é viver num lugar pequeno e como a curiosidade adolescente enxerga as situações ao redor.
"Capitão Capivara" fecha o livro, é narrado em primeira pessoa por dois personagens: uma jovem que vai trabalhar num hotel e precisa se fantasiar para entreter as crianças, e um escritor que está hospedado lá para escrever seu próximo livro, embora não esteja muito empolgado com isso (talvez por ter sido deixado pela mulher recentemente). Temos dois personagens que definitivamente não estão em seus melhores momentos.
"Bem. Trate de falar coisas positivas sobre esse hotel hein. Faça um belo de um contraste entre o luxo do hotel e os pensamentos bárbaros do seu assassino. E, Carlo, você ainda vai fazer o cara matar o casal com veneno?
A princípio sim.
Certo. Pergunte então a algum médico que tipo de veneno você pode usar.
E a partir daí foi uma sucessão de tragédias. Primeiro desliguei bastante irritado com essa última colocação e fui até um cavalete com a programação do evento, por puro masoquismo. Na abertura, falaria um médico muito famoso. Ironicamente, era um sujeito que tinha publicado três livros pela minha editora. E eles venderam mais que os meus, porque qualquer coisa que venha com regras de funcionamento para a felicidade vende como água hoje em dia. São livros de bolso que dizem o que fazer para que as pessoas vivam mais, porque as pessoas sempre querem viver mais, mesmo que se queixem o tempo todo quando estão vivas." (página 115)
"Pó de parede" foi um livro que comecei a ler sem saber o que esperar (comprei porque tinha um vale numa loja e sabia que a autora foi indicada a prêmios). Logo no início da leitura, fui cativada pela escrita da Carol, por seus personagens, ambientações e histórias. Como vocês podem ver nas citações que coloquei na resenha, a escrita da autora é muito agradável, proporcionando uma leitura fluida. Os personagens que ela cria tem características que poderíamos encontrar em nós mesmos ou em pessoas que conhecemos ao longo da vida. Os lugares descritos são muito fáceis de imaginar, assim como as situações vividas pelos protagonistas (quem nunca passou por uma situação constrangedora no trabalho, ficou curioso com uma novidade por perto, teve um crush na adolescência ou se surpreendeu com um amigo e com os pais?).
Sobre a edição: acho bonita a capa desse livro, que tem páginas amareladas, boa revisão e diagramação com bom tamanho de letras, margens e espaçamento.
Falei mais sobre a primeira história, talvez por ela ser a maior e onde os personagens apresentam mais nuances, mas gostei muito de todos os três contos, ainda que o primeiro tenha me marcado mais. "Pó de parede" foi uma leitura rápida, cativante e muito agradável. Eu recomendo para todo mundo, especialmente para quem procura bons livros nacionais.
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