Aline164 16/06/2015As descobertas do meninoEm geral não costumo escrever resenhas de livros que não apreciei muito, mas estou começando a fazer isso, pois acho importante debater também sobre o que não gostamos e por que não gostamos.
Quis ler "À margem da linha", pois ele apresenta temas que me interessam: a passagem da infância à vida adulta, a relação entre irmãos/relações familiares, personagens com situações socioeconômicas diferentes da minha. No entanto, a leitura não foi tão empolgante, pois:
1. por ter lido na biografia do autor que ele era "de origem humilde", às vezes parecia que estava lendo suas memórias de infância (é realmente necessário colocar esse tipo de informação na biografia do autor na orelha de um livro de ficção?);
2. o autor-narrador-personagem muitas vezes não dá margem para que os leitores façam suas próprias interpretações, pois ele mesmo narra os fatos e os interpreta, tudo é muito "mastigado", o que empobrece um pouco a história e me irritava às vezes (ex.: "Aos poucos - e a contragosto - fui percebendo que ele não era aquela fortaleza cultuada pela família. Como todos nós, tinha conflitos, suas fraquezas e suas contradições" - p. 74); gosto pessoal, talvez, mas esse tipo de conclusão não precisaria estar tão explícita nem ser tão clichê, poderia ser demonstrada por gestos, olhares ou falas dos personagens - o leitor seria capaz de chegar a essa conclusão sozinho;
3. inicialmente, deduzi que um adulto narrava a história/ as memórias de sua infância, mas uma passagem me fez questionar quem era o narrador (ainda criança? jovem? adulto?): "ULTIMAMENTE [grifo meu], me aplicava um castigo ainda mais duro, deixando de ir procurar próximo à lagoa e aos casebres da olaria, por entre os pés de amora-silvestre, o fruto que eu mais cobiçava" - p. 84). Se "ultimamente" o personagem se castigava, então o tempo entre a vivência narrada e o tempo presente talvez não seja tão grande, o que me faz pensar que talvez o narrador seja jovem.
4. a narração é inverossímil se considerarmos que o narrador ainda é uma criança ou um jovem "suburbano" (palavra bastante repetida ao longo do texto), pois a linguagem da narração segue totalmente a norma culta da língua, enquanto nos diálogos há o uso coloquial ("Tá certo, Mano. S'ocê não vai, eu vou!" - p. 85). Então há essa contradição entre linguagem coloquial x norma culta que torna a narração meio inverossímil. Se o narrador fosse em 3ª pessoa, seria melhor/ mais verossímil.