Paulo 27/09/2010
Eco, Loana, eu e as chamas da vida
Em uma sexta-feira, 29 de Julho de 2005
Hoje pela manhã terminei a leitura do livro “A Misteriosa Chama da Rainha Loana” de Umberto Eco. O livro contra a história de um senhor com 60 anos de idade chamado Giambattista Bodoni, vulgo Yambo, que acorda em uma cama de hospital sem saber quem é. A amnésia de Yambo afeta apenas a memória afetiva mas deixa intacto todo o conhecimento adquirido através dos anos. De repente vê-se com mulher, filhas e netos e proprietário de um antiquário de livros.
Yambo retorna a seus locais de origem na tentativa de recuperar sua memória e passa a reviver cada um dos momentos que lhe tocaram a alma. Emoções, lembranças e história se mesclam nessa aventura sensível, romântica e pacífica. Durante a leitura é impossível não relembrar fatos e emoções que nos tocaram pela vida como também não rememorar as perdas que porventura colecionamos pelo caminho.
Enquanto nosso herói busca pela “chama” perdida, aquela que aquece a alma, que impulsiona o espírito e que desperta o desejo, me vi, através de sua narrativa, de volta aos tempos de escola, aos tempos que morava com meus pais, revendo, rememorando, julgando, satisfazendo-me e por vezes lamentando-me de atitudes vividas e não-vividas. Imaginação e realidade se tocam, se confundem, e talvez por mero acaso, tive a impressão de que eu era o desmemoriado.
“No centro da África com dois amigos, Cino e Franco chegam a um reino misterioso onde uma rainha igualmente misteriosa guarda uma misteriosíssima chama que garante vida longa e mesmo a imortalidade, visto que Loana reina sobre uma tribo selvagem, sempre lindíssima, há dois mil anos” é o que se lê numa revista esquecida sobre a chama que desperta Yambo para a vida, que então passa a contestar sua história: “Vivi todos os anos de minha infância – e talvez até depois – cultivando não uma imagem, mas um som. Esquecida a Loana ‘histórica’, continuei a seguir a aura oral de outras chamas misteriosas. E anos depois, com a memória revirada, reativei o nome de uma chama para definir o brilho de delícias esquecidas”.
Aqueles que são afortunados se comoverão com a história de Yambo e com a sua própria, e passarão compreender (quem sabe?) a si mesmos e aos que o cercam. Esta, meus amigos, é a verdadeira auto-ajuda.
Ler é preciso. Viver é imprescindível.