Portela 20/01/2023
"É como se, sedentos, disséssemos ao mundo: Dá-me de beber. E porque fossem palavras mágicas, uma fonte se abre, em água viva."
Água Viva é um poema em prosa da brilhante Clarice. Esse livro não tem divisão, ele é simplesmente uma cadeia de pensamentos escritos irrefreadamente que dialoga sobre assuntos cotidianos, mas de forma profunda, por uma lente que só Clarice consegue ver e transmitir.
Ler Clarice é sempre uma experiência quase que mística, o jeito que ela escreve e usa as palavras e ideias é etéreo. A forma dela de navegar de um tema para outro e ir numa cadeia de pensamentos a partir de uma coisa simples é algo que só ela sabe fazer. E que, particularmente, é uma das característica que mais gosto em sua escrita. E mesmo que muita das vezes ela fuja da lógica, não deixa de ser incrível, profunda e poética.
Não tem como explicar Clarice, é muito sobre o sentir e se entregar às suas ideias. Confesso que muitas partes eu não encontrei sentido algum, mas em muitas outras eu consegui me identificar. Eu sublinhei tanta coisa nesse livro que dá vontade de escrever essas frases em todos os lugares.
No posfácio do livro, é feito um paralelo entre Clarice e o pintor Jackson Pollock. Pois se pararmos pra analisar, Água Viva é como uma pintura abstrata traduzida em palavras. Particularmente, acredito que essa seja a verdadeira essência desse livro e a única forma de tentar descrevê-lo.
Não é um livro que eu recomendaria a todos, só pra quem gosta desse estilo de escrita mesmo. Até porque muitas vezes as ideias são confusas e o livro não tem divisão, para algumas pessoas pode se tornar entediante.
Esse é o terceiro livro que leio de Clarice e tenho cada vez mais interesse em suas obras. Espero ler mais dela nesse ano.