spoiler visualizarLucas1429 07/02/2024
O mito da fundação do Brasil a partir da prosa indianista
O livro sem dúvida revela-se desde o início uma obra inquestionável do ponto de vista indígena que trata nao somente do processo de colonização do Brasil, mas aprofunda-o trazendo as duas figuras principais que vão desenhar de forma análoga a paixão de Portugal com o Brasil, e o interesse que o Brasil cria sobre Portugal. Sendo parte de uma trilogia - O Guarany, Iracema e Ubirajara, O título de destaque, Iracema, traz uma série de tradições e nomes originais de locais e costumes indígenas que trazem á prosa um enriquecimento substancial. Principalmente no que tange ás referências entre os atos cerimoniais descritos nos primeiros capítulos onde a virgem dos lábios de mel encontra pela primeira vez Martim, flechando-o no rosto e logo em seguida quebrando a flecha simbolizando harmonia paz e submissão ao estrangeiro, coisa que de fato ouve com a chegada dos portugueses ao Brasil, tanto na recepção quanto posteriormente na submissão, com excessão da paz. Além do indianismo retratado aos detalhes, existem também referências intertextuais com a grande literatura estrangeira, como por exemplo na ocasião após a batalha entre os pitiguaras e os tabajaras por ocasião da fuga de Iracema sob a "posse" de Martim, essa referência é a mesma a que ocorre com Helena quando se percebe raptada por Teseu e posteriormente resgatada pelos seus irmãos Castor e Pólux, entretanto Iracema não foi raptada, ela mesma decidiu ir embora da taba de seu pai Araquém pois já havia perdido a virgindade após oferecer o segredo de Jurema ao guerreiro branco, ou seja, de dar o vinho de Tupã para Martim e se deitar com ele ainda em estado de entorpecimento da bebida. Salvas as demais observações a respeito da forma, a Linguagem do livro tambem é muito importante, na verdade fundamental. Ela se mostra quase lírica e traz á prosa uma desconexão de seu gênero tornando-o quase uma poesia, tamanha a qualidade da descrição fundadora presente nos romances. Sua principal figura de linguagem é a própria natureza, e isso fica retratado em todas as comparações que o autor traz tanto ás características da virgem, quanto á descrição de seus sentimentos ao longo do enredo. Fora a estética literária, o livro traz um arranjo gramatical sensacional que exprime a justa fala do povo tupi conforme o pensamento selvagem, que flexiona sua fala não pela reflexão mas sim pela coordenação curta e simbólica de seu ato naquele momento.