spoiler visualizarTiago Pedro 21/01/2017
Tudo passa sobre a terra.
Iracema é daqueles livros clássicos que, a partida, parecem chatos, morosos, cheios de descrições, mas não! Há uma riqueza enorme de informações sobre as tradições, culturas e vocabulário tupi e isso exige uma edição com notas de rodapé que tratem disso.
A linguagem poética (já que o livro foi pensado pra ser uma poesia) e o estilo romantico acabam por deixar algumas passagens engraçadas. Romantismo prevalece em todas as linhas do texto! O mel dos lábios da Iracema escorre pelas páginas do livro de tanta melação. A cena da flecha deixada à praia com uma flor de maracujá (A flor da lembrança) é um exemplo (em um outro contexto seria breguíssima)! Há passagens, no entanto, que a profundidade da cena é descrita com tanta poesia que somente um autor, escritor de verdade poderia fazê-lo:
“ Nessa hora em que o canto guerreiro dos pitiguaras celebrava a derrota dos guaraciabas, o primeiro filho que o sangue da raça branca gerou nessa terra da liberdade, via a luz nos campos da Porangaba”
“ Fica tu, escondido entre as igaçabas de vinho, fica, velho morcego, porque temes a luz do dia, e só bebes o sangue da vítima que dorme. “
Há, como é próprio do estilo, uma idealização dos personagens, colocando características europeias em índios, enaltecendo as qualidades do heroi, muito drama e, nesse caso, um final trágico, mas poderia ser pior.
Iracema, ou o anagrama de América, é importante, é engraçado, é rápido, e romantico.