Sâmella Raissa 27/09/2016Resenha exclusiva para o blog SammySacional
Foi em Dezembro de 2014 que tive a oportunidade de conhecer a narrativa de Iris Figueiredo pela primeira vez como romancista. Dividindo Mel, ainda que com suas breves ressalvas, foi uma leitura que muito me agradou na época e divertiu por entre os dilemas e confusões amorosas de Mel, e agora volto a falar sobre mais um livro da autora, dessa vez trazendo como protagonista a irmã da Melissa do livro anterior, a Mariana Prudente, que de prudente não tem nada, diferente do que anuncia seu nome. Vivendo o que se pode chamar de um verdadeiro giro de 360 graus na vida que ela tão bem conhecia, ela retorna das férias escolares sob os julgamentos silenciosos, mas não menos pesados e constantes de seus colegas de classe que pensam mal de sua índole após um grande mal entendido envolvendo o seu agora ex-namorado e a garota que ela acreditava tanto ser sua melhor amiga, mas que agora só se prova cada vez mais o contrário.
Até então, a vida já estava bastante complicada para a adolescente que, porém, ainda tem de lidar com o sonho de intercâmbio indo por água abaixo com o casamento iminente da irmã mais velha, as pressões constantes do vestibular e de um certo distanciamento que tem sofrido de sua única melhor amiga, Carina, em meio a novos conflitos que geram ainda mais pressão no mundo de Mariana. A forma de descarregar um pouco tudo isso? Um canal despretensioso no youtube e o vídeo pra lá de inédito e inesperado com as histerias da irmã durante uma prova de vestido de noiva, resultando em um sucesso na web que será apenas o começo da jornada a ser vivida por ela. Um clichê adolescente, talvez você diria com uma premissa dessas, e eu até quase pensei dessa forma antes de iniciar a leitura, mas a verdade é que fico feliz em dizer que me surpreendi muito com o enredo elaborado pela Iris e já digo o porquê.
“Por mais que ela quisesse, não havia solução possível. Era fácil plantar uma mentira, regá-la e fazê-la vingar, se espalhando como erva daninha. Quando o mundo acreditava em uma história, era difícil convencê-lo a respeito da verdade. Reconstruir castelos após duras batalhas sempre seria mais difícil que destruí-los e, após um ataque, eles nunca mais seriam os mesmos. Transformaram meu castelo em um amontoado de pedras quebradas e eu não sabia como reerguê-lo.”
Primeiramente porque, após a leveza com que Dividindo Mel foi escrito e lido, nós então nos deparamos com Confissões On-line que, ainda que com seu teor leve e jovem, traz uma carga bem considerável de temas importantes do universo adolescente a serem discutidos constantemente, como o vestibular, relações familiares, amizades boas ou más, amor, além de alguns um pouco mais sérios como distúrbios alimentares e anorexia, que apesar do que muitos pensam, estão mais presentes na vida de muitos adolescentes do que podemos perceber, infelizmente, e é preciso estar atento, portanto, a qualquer sinal de um amigo, filho, irmão ou sobrinho que esteja demonstrando tendência a adquirir esses males. Mais do que tudo, Iris acaba por usar um pano de fundo aparentemente de adolescente dramática para, no entanto, mostrar que nem tudo é só drama adolescente e que, por vezes, coisas muito sérias e intensas acontecem por trás e precisamos, sim, dar atenção e importância a alguns deles antes que problemas ainda mais densos venham como consequência por tê-los ignorado.
Sobre a protagonista, também, foi mais um ponto em que a autora acertou de cheio. Se eu havia ficado um pouco com um pé atrás com relação a Mariana em Dividindo Mel, por ela ter sido apresentada simplesmente como a irmã caçula irritante da Mel, foi ótimo poder conhecê-la melhor agora em uma narrativa que, por sem em primeira pessoa, deixa o leitor completamente por dentro do que ela pensa, sente e vive, aproximando ainda mais a leitura e possibilitando um envolvimento de tal forma maior que nos vemos tensos e angustiados junto com ela durante os conflitos enfrentados no colégio, após ser acusada de trair o namorado em um total mal entendido, e por toda a pressão de se ver perdida ainda quanto ao vestibular e sobre os próximos rumos a tomar em sua vida, após o término do ensino médio. Ela é uma garota simplesmente doce e meiga, determinada quando põe uma ideia na cabeça, mas ainda insegurança sobre como agir em alguns momentos, evoluindo um pouco mais, porém, com o avançar do ano, à medida em que ela vai conhecendo pessoas novas e começando a enfrentar seus problemas mais de frente, ao ganhar mais confiança em si mesma e disposta a não se deixar mais abalar por eles.
Quanto aos demais personagens, o mérito continua, ainda que eu não tenha me apegado tanto a eles como foi com a Mari. Carina, entre eles, é a então melhor amiga que a protagonista tem de verdade, uma garota determinada e segura de suas ações, com exceção da pressão igualmente sofrida só que pela mãe, que exige o sucesso absoluto da filha no vestibular e, consequentemente, no meio de tamanhas exigências, acaba levando ela a contrair hábitos alimentares cada vez mais escassos e restritivos, sem dar-se conta do mal que faz a própria filha. Nesse ponto, a vontade que eu mais tinha era de adentrar ao enredo e falar umas poucas e boas para a mãe dela, e só de pensar que essa ainda é uma realidade para muitos, meninos ou meninas, é de apertar o coração. A forma como Carina negava tais problemas perante os questionamentos de Mari sobre sua saúde, porém, eram quase tão dolorosos quanto as atitudes da mãe, quando ela mesma se via em perigo mas não conseguia aceitar que precisava de ajuda, levando-me a torcer muito pela melhora da personagem ao longo da leitura.
“Me surpreendi ao perceber que não estava abalada com seu comentário. Pela primeira vez, as mentiras que ela disparou contra mim não tiveram efeito. Eram apenas isso: mentiras. Não precisava me sentir mal com palavras que eu sabia não serem verdadeiras.”
Outro personagem que merece certo crédito também é Arthur, que chegou de mansinho e foi conquistando a protagonista aos poucos, com uma inicial amizade que logo mais vem a mostrar-se um romance em potencial. O romance, no entanto, foi um dos únicos pontos que deixou um pouco a desejar para mim, uma vez que eu não consegui me envolver pelo personagem do Arthur, ainda que tenha, sim, simpatizado com ele, mas não ao ponto de suspirar por ele e nem mesmo de ser convencida de seu romance com a Mari. Para mim ainda faltou um pouco mais de sentimento, não ficou tão convincente por ter acontecido de forma que soou um pouco automática para mim, mas também não é como se os próprios personagens levassem o relacionamento tão à sério, uma vez que tudo se inicia ainda de forma despretensiosa para só no final se firmar um pouco mais. Ainda assim, não foi de todo ruim e não atrapalhou realmente a leitura, uma vez que o foco, apesar de tudo, acaba sendo mais voltado à Mari e seu amadurecimento ao longo do último ano do colégio.
Assim sendo, Confissões On-line - Bastidores da Minha Vida Virtual, acaba tornando-se mais uma leitura que recomendo fortemente para aqueles que gostam de um bom livro juvenil, mas que apesar da faixa etária de seus personagens, carrega abordagens importantes e sérias que fazem parte do universo adolescente e precisam estar em constante discussão e observação por parte de todos, além de trazer momentos divertidos e leves por entre personagens que, mesmo no auge dos conflitos do dia-a-dia, conseguem parar para ver o lado bom da vida e sorrir pelas pequenas coisas. Mal posso esperar por ler o segundo volume da duologia, Confissões On-line 2 - Entre o real e o virtual, e acompanhar um pouco mais nossos personagens rumo à realização de suas vidas.
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