Nossos ossos

Nossos ossos Marcelino Freire




Resenhas - Nossos Ossos


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Mari 03/02/2015

Nossos ossos é um livro pra sentir devagar. É breve, mas a leitura, ritmada, rimada, exige alguma paciência pra bem sorver sua cadência. É teatral, tragédia tão brasileira de um nordestino levado pela esperança (e pelo amor) à fera paulicéia, esmigalhado de sonhos, pra urdir seu talento artístico alimentado de faltas e desesperanças. Tecido com esmero, a montagem de uma peça própria nos títulos dos capítulos é uma obra à parte. Para ser lido com vagar, apreciado, descoberto, prêmio para o leitor atento, de coração aberto.
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Jacqueline 08/10/2014

A vida é tão curta para ser pequena
Nossos ossos, vencedor do prêmio literário de 2014 da Biblioteca Nacional, é o primeiro romance de Marcelino Freire. Mistura extratos biográficos e ficção de uma forma econômica, triste e honesta. Conta a história de Heleno, um dramaturgo migrante de Pernambuco que vem para São Paulo, um tanto por conta do teatro e quanto mais por causa de um namorado.

Dividido em duas partes, nomeadas de forma original Parte um e Parte Outro o livro fala dessas perdas dessas partidas e de como elas nos constituem.

As referências à terra de origem e ao ofício de escritor/dramaturgo transbordam e costuram a trajetória de Heleno.
A respeito da primeira não faltam alusões a brincadeiras de infância de juntar ossos de origem de vários animais, inclusive humanos, ou a marcas que a Geografia imprime: O sol deixava tudo do mesmo tamanho, deus, enguia, cotovia, formiga, moço, coruja, velho, estátuas de arquiteto, arames, andaimes...

A respeito do oficio de escritor, a relação de reflexão e refração que a escrita de ficção trava com a realidade objetiva e com nossa subjetividade e seu potencial elaborativo aparecem de forma quase visceral:

Mesmo quando escrevi o meu teatro, é da falta de vida que ele se alimenta, meus textos, dramáticos, só foram possíveis porque estão impregnados desta minha morte, um autor só é autor, digamos, quando é vítima de um crime, de um atentado, um desprezo, um exílio, um corte, um esquecimento

"Eu escrevo para dar vida de e novo as pessoas que amei"

Por vezes, as duas motivações se interpenetram:

Minha dramaturgia veio daí, hoje eu entendo, desses falecimentos construí meus personagens errantes, desgraçados mas confiantes, touros brabos, povo que se põe ereto e ressuscitado, uma galeria teimosa de almas que moram entre a graça e a desgraça

Os títulos dos capítulos fazem referências aos ossos e a partes do corpo humano, como se a história contada fosse literalmente de constituição e degeneração de um homem. Os capítulos curtos, a escrita econômica, a narrativa presente intercalada com a do passado ajudam a configurar a transitoriedade da vida.
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Ernane 05/03/2014

Nossos Ossos, uma dramaturgia lírica de Heleno "o heroi"
Nossos Ossos do escritor pernambucano Marcelino Freire é um verdadeiro relato poético da vida das lembranças dos escorregões e acertos. Um reencontro com a infância e com os pais sentados no oitão da casa.
O até então espetacular contista Marcelino Freire nunca se arriscou em uma prosa mais longa, mas nesse primeiro romance ele nos leva para uma atuação belíssima de um morto. O romance não perde a característica imediatista que Marcelino já carrega em seus contos.
O ponto é que o livro conta a peleja de um dramaturgo que atende por nome Heleno que tem como promessa levar um corpo de um jovem para sua família no interior do interior. O corpo vai de São Paulo para outro lugar que não precisava nem ter nome para saber onde fica. E enquanto não descobrimos os mistérios que contornam o pobre garoto morto o nosso heroi vai juntando fêmures e tíbias para conseguir decifrar aquilo que não tem cifras ou partituras.
O boy que tanto trabalhou para tentar vencer em São Paulo agora estirado morto com o rosto dormido. Heleno narra de forma quase policial os crimes os punhais que sustentam o cordel da prosa que nos dá e nos tira.
O livro é todo feito sobre paixão e ossos não sabemos de inicio os seus interesses, mas sabemos que é no fim que aquele corpo vai descansar e o heroi que tanto viu as cortinas longas do teatro abrir e fechar diante dos grandes prédios de São Paulo lembra que dos ossos que ele e seus irmãos desenterravam na velha casa saíram muitos guerreiros de bacias grandes e de sonhos possíveis e foi de lá que Heleno tirou sua melhor peça uma interpretação convicta do teatro da vida.
O fim da atuação de um personagem que carrega como Hamlet o coração do pai dentro do peito. Este livro é uma quebra da quarta parede do teatro da vida.


site: http://diariovapor.blogspot.com.br/
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Zilda Peixoto 01/02/2014

Por que ler Nossos Ossos?

Porque o autor é nada mais nada menos do que o gênio das palavras. Vencedor do prêmio Jabuti em 2006 com o livro Contos Negreiros lançado pela Record. Aquele tipo de escritor que arquiteta minuciosamente cada pedacinho da narrativa, que seduz e hipnotiza com sua escrita rítmica e melancólica. Um cara esquisito e desbocado que toca na ferida e sabe descrever como poucos sobre questões polêmicas? São tantas as qualidades de Marcelino como escritor que eu seria capaz de enumerá-las num livro. O fato é que toda vez que leio suas obras eu me sinto meio que fora do eixo.

Nossos Ossos conta a história de Heleno de Gusmão, dramaturgo de meia idade, natural de Sertânia, uma pequena cidade do interior de Pernambuco. Heleno é o caçula de uma família de nove filhos e que se destaca desde a infância como o artista da família. Heleno sai de Sertânia rumo à São Paulo em busca de Carlos, o seu grande amor.

Recém-chegado à São Paulo, Heleno tenta se virar como pode, se arranjando como tantos imigrantes que chegam à cidade grande com a promessa de melhorar de vida.
Longe de Carlos, Heleno irá descobrir os prazeres da vida noturna que a cidade grande pode oferecer. Freguês assíduo de inferninhos e das esquinas do sexo fácil e barato Heleno encontrará conforto nos braços de Cícero, um garoto de programa que Heleno jura ser diferente dos outros.

Como de costume em suas narrativas, Marcelino Freire fala sobre questões tida como polêmicas, tais como o homossexualismo. Mas como ele costuma dizer em suas entrevistas ele gosta mesmo é de escrever sobre a vida e que não há nada de polêmico nisso. Por isso, se você ainda não teve a oportunidade de conhecer a maneira como o autor aborda o assunto esse é o momento.
Nossos Ossos segue a linha do romance policial, porém com suas particularidades. A começar por se caracterizar-se como uma “prosa longa”. É como se estivéssemos assistindo a um filme aonde são lançadas as imagens e suas falas correspondentes. A idealização de cada cenário até a caracterização dos personagens secundários.

A oralidade típica do nordestino está presente ao longo de toda narrativa. Assim como em seus contos Marcelino brinca com as rimas em seu primeiro romance, o autor transborda criatividade e poesia.

O jogo das palavras está presente a cada parágrafo demarcando sua importância dentro da narrativa. Não há nenhuma palavra solta. Tudo está conectado.
A primeira impressão que se tem é de que estamos lendo um dos seus contos. A linguagem é rápida, fluída, rítmica. E por esse motivo Nossos Ossos torna-se um romance tão diferenciado. A escrita poética é quase que hipnótica.

O mote do livro se dá a partir da morte de Cícero, o Boy, assim chamado por Heleno. Boy é encontrado brutalmente assassinado e caberá a Heleno despachar o corpo do rapaz para sua cidade natal.

A trama de Marcelino apresenta diversos personagens bem característicos da noite paulistana. Entre travestis, michês, atores, putas, policiais e tantos outros personagens Nossos Ossos chama atenção do leitor para cada tipo particular. Não há simplesmente um apelo sexual em relação aos seus personagens e, sim um olhar diferenciado sobre cada um. Alguns são mais explorados propositalmente, como por exemplo, a travesti Estrela que não mede esforços para conseguir a tão sonhada prótese nos seios.

A trajetória de Heleno até Poço do Boi, cidade do interior de Pernambuco é quase que uma odisseia. É o momento do resgate do personagem central com sua própria alma.

O livro é dividido em duas partes: Parte Um, Parte Outro. Nota-se o jogo de palavras mais uma vez presente para confrontar o leitor. Quem conhece um pouquinho da história de Marcelino provavelmente irá se perguntar até que ponto Nossos Ossos é ficção. Pois são inúmeras as “coincidências” que unem criador(Marcelino) x criatura(Heleno). Como o próprio autor revelou Nossos Ossos não se trata de um livro autobiográfico e sim, um livro autopornográfico, já que o autor assim como seu personagem já praticaram muitas sacanagens em comum. Ta aí mais um motivo pra se esbaldar com as histórias de Marcelino Freire. Sempre tão espirituoso... aff!

De fato Marcelino cria uma narrativa fora dos padrões estilísticos. Com toda sua agilidade e perspicácia Marcelino conduz o leitor a uma experiência surreal.

Nossos Ossos descreve a vida de um personagem que sai de sua terra natal rumo à cidade grande em busca de um grande sonho: a realização e o reconhecimento profissional. Desde o início da narrativa esta visão relativamente utópica é apresentada. O êxodo rural aqui mais uma vez é discutido e apresentado assim como acontece na vida real.

O final do livro é surpreendente e deixa o gostinho de quero mais. A edição do livro está espetacular. Mais uma vez a editora Record dá um show. Capa linda, fonte agradável e revisão impecável.

Se você está à procura de algo realmente diferente, impactante e que lhe tire da tal zona de conforto, definitivamente pare de fazer tudo o que você está fazendo e busque, compre, pegue emprestado, que seja! Mas LEIA Nossos Ossos. Vocês não irão se arrepender! Mas se eu não consegui te convencer não tem problema, minha consciência tá tranquila.

Marcelino Freire é vida. O resto é conversa fiada.

site: http://www.cacholaliteraria.com.br/2014/02/resenha-nossos-ossos-marcelino-freire.html
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