Aline Marques 20/08/2018Ter coragem é reconhecer o próprio medo. E enfrentá-lo. [IG @ousejalivros]Este livro não é sobre a guerra. Ou mesmo sobre a garota destemida de quatorze anos de idade, apaixonada por livros.
A história é sobre o peso da verdade e as diversas faces da força. É sobre a humanidade, sua misericórdia e perversidade, sobre os livros e seus poderes de cura e libertação. Fala sobre os saltos de fé, mesmo quando posicionados na beira de precipícios, e na perspectiva de olhar para cima, do fundo de um abismo.
Esperança.
Não de sobrevivência ou de melhora, mas de ser.
Ser a bibliotecária do bloco 31, alguém com uma função que destaca sua individualidade, coragem e curiosidade, num mundo onde nada disso é tido como possível. Ser um líder para crianças que não lembram como era a vida fora do maior e mais cruel campo de concentração nazista. Ser um soldado, uma mãe, um pai ou uma irmã. Um amigo. A Resistência.
Ser alguém digno de um título que o reconheça como real, existente.
Então, sim. Mais do que divulgar os sofrimentos da guerra e celebrar a luta dos judeus, Iturbe deseja mostrar a força de quem viveu, mesmo que por um único dia, numa realidade que jamais deveria ter sido cogitada, quem dirá existido.
Entre dores imensuráveis e perdas irreparáveis, os livros e seus possíveis leitores, sobreviveram, cumprindo o papel que lhes foi ditado, acreditando que o futuro, se viesse, não seria um algoz.
Fatos históricos se misturam com a ficção, narrando horrores e, também, coisas extraordinárias, que transformam quem tem a oportunidade de ler. (Re)viver.
Referências a histórias que amamos e trechos memoráveis, tornam a experiência inesquecível. O ritmo não é consistente e os diálogos, por vezes, escassos. Todavia, você sorrirá ao alcançar a última linha, com o coração comprimido no peito e a certeza de que nada assim pode acontecer novamente. O que você faz para evitar?