spoiler visualizarLarissa.Carvalho 04/12/2020
1Q84, de Haruki Murakami
Resolvi ler 1Q84 sem saber muito bem o que esperar. O título do livro, que o associa a 1984, foi o principal fator que me atraiu para a obra, e exatamente pelo mesmo motivo, sua atmosfera é completamente diferente de qualquer coisa que eu pudesse imaginar. Na realidade, acredito que não há como imaginar algo como essa trilogia sem tê-la lido.
O livro é uma mistura de fantasia e suspense que nada tem a ver, diretamente, com 1984 de George Orwell. Embora haja evocação de realidades paralelas, revisionismo histórico, tiranias, etc., o caráter desta história é muito mais metafísico que político. Ao longo da obra, Murakami parece nos questionar acerca de nossa compreensão da realidade, espiritualidade, etc.
O texto é muito bem escrito, com cenários vívidos e uma imersão completa na vida dos personagens. Isso torna simples imaginar coisas absurdas, como a crisálida de ar, e realmente adentrar o romance. Em alguns momentos, porém, as metáforas são excessivas, e mais atrapalham do que ajudam na compreensão do que está acontecendo. Embora seja um livro de suspense, o enredo é lento, e talvez por ser uma trilogia longa, Murakami opta por ser explícito em certos momentos. Falas importantes são destacas em negrito e flashbacks são evocados constantemente em momentos decisivos. No terceiro e último volume, isso toma proporções descabíveis e irritantes.
Talvez também por ser uma trilogia longa, o livro muda um pouco de caráter entre seu início e seu fim. Em algum momento, a história de amor entre os dois protagonistas faz com que todo o resto do enredo - que não é pouca coisa - seja sufocado, e o melodrama tome conta da obra. Outra coisa que permeou a história e me incomodou, foi a maneira explícita e insensível com que Murakami lidou com temas sexuais.
Dito tudo isso, 1Q84 é uma obra interessante principalmente pelo caminho, e não por seu fim. Suas descrições de Tóquio, a imersão em hábitos e costumes tão diferentes dos nossos e seu enredo curioso e de cunho fantástico geram uma leitura prazerosa. Ainda assim, acredito que seja longo demais para aquilo a que se propõe, e chega a propor tantas questões, que muitas delas tornam-se irrelevantes no plano geral da obra.