spoiler visualizarArthur Bambini 14/09/2023
A proposta é interessante, já a narrativa...
"A Flor da Inglaterra" é um livro abaixo dos padrões de George Orwell, pela sinopse, pode-se resumir o livro à trajetória de um poeta frustrado, Gordon Comstock, que, durante sua luta contra o "Deus Dinheiro", abdica de bens materiais. Esse pequeno resumo não é muito animador, assim como a narrativa da obra, ao longo de 10 capítulos temos algo monótono, durante o texto o leitor se entedia com a vida de Gordon. sem reviravoltas, sem mudanças bruscas de comportamento, e mesmo quando o autor tenta inserir uma reviravolta, a obra segue sendo sem graça.
É evidente que, durante a obra, o discurso de luta contra o dinheiro, ódio ao capitalismo, o qual é constantemente repetido pelo poeta frustrado em TODAS as situações da narrativa: frustração amorosa? culpa do dinheiro; frustração com os poemas? culpa do dinheiro; não consegue ser feliz? culpa do dinheiro. Em todas as vezes que é proposta uma mudança de vida Gordon não consegue abrir mão, prefere morrer na sua luta contra o dinheiro. Depois de ler exaustivamente a mesma conversa é impossível não nutrir um ódio contra o protagonista.
Se de um lado Gordon é um personagem detestável, do outro os coadjuvantes conseguem se salvar: Rosemary e Ravelston possuem um bom desenvolvimento, com suas próprias preocupações e dilemas, porém, sua trajetória na obra é manchada por Gordon, todas as suas aparições são para tentar ajudar Gordon, para tirá-lo dessa vida de sofrimento e tristeza, tentativas essas, evidentemente, frustradas.
Mesmo com os problemas atrelados a Gordon, a obra tem alguns pontos que devem ser valorizados. Orwell se mostra, mais uma vez, um mestre das palavras, conseguindo inserir o leitor na posição, física e emocionalmente, de Gordon, tentando justificar ao máximo as decisões dele. Outro ponto para valorizar é a proposta do livro, é inovador a tese de Gordon de abdicar totalmente de uma vida marcada pelos bens materiais, indo em uma direção oposta da sociedade londrina de 1930. E por fim, minha parte favorita da obra: A Aspidistra, a flor da Inglaterra, um simples elemento que carrega um enorme simbolismo envolvendo a classe média londrina e a luta de Comstock contra o dinheiro, essa flor o acompanha desde o primeiro capítulo até o décimo, sendo um reflexo de sua vida e simbolicamente da vida de Eric Arthur Blair, o autor, pois acontecimentos de Gordon se misturam com elementos da vida de Orwell enquanto ainda era um escritor em ascensão, o que pode levar a uma conclusão de que na verdade, Gordon é uma ilustração da vida de Orwell.
Em suma, essa obra tem uma narrativa fraca, protagonista fraco e apresentação fraca, com certeza está longe de ser um acerto da literatura orwelliana. Por mais que seja uma boa proposta e que tenha elementos interessantes, " A flor da Inglaterra" é um livro que, assim como a vida de Gordon, tenta, de todas as formas, ser mediano.