Julianne.Santiago 24/08/2023
Ninguém passa ileso pelo Carandiru
Eu não vi o massacre de 92, era muito pequena, mas é como se eu tivesse visto. De 92 até 2002, quando o Carandiru foi desativado, era corriqueiro vermos reportagens sobre a maior casa de detenção do país. Para quem cresceu em São Paulo na década de 90, como eu, o Carandiru sempre foi assunto durante os jornais, entre os vizinhos, nas escolas e revistas. Ninguém em SP passou ileso ao Carandiru.
À vista era uma cena de solidão, dó, raiva e medo. Se olhássemos para cima, conseguíamos ver as pernas penduradas nas janelas. Na rua, principalmente nos fins de semana, sempre havia uma grande fila de mulheres e crianças, com muitas sacolas, e dor nos olhares.
Lembro como se fosse hoje o dia da demolição. Estava eu, ainda criança, sentada à frente da TV, esperando o momento em que tudo aquilo viraria poeira. A casa de detenção pode ter virado pó, mas quem viu ou viveu aquilo, não há demolição que apague da memória.
Drauzio Varella, com certeza é um dos homens mais corajosos que já vi. Muita gente não trabalharia no Carandiru nem se pagassem muitoooo dinheiro, e o cara foi lá como voluntário, ganhou o respeito de todos, fez seu trabalho e escreveu esse livro como realização de uma longa e difícil trajetória.
Tenho certeza que não foi fácil para ele, e com certeza ele não saiu de lá o mesmo que entrou, mas quero acreditar que ele saiu melhor. Melhor profissional, melhor homem, melhor humano.