Ana Luiza 01/02/2014
Aventuras e desventuras em nome de Datahriun
Em uma galáxia distante, um planeta chamado Datahriun parece estar começando a ter seus últimos suspiros. Um mundo dividido em nove continentes e noves clãs que está tendo seus piores dias; o clima está mudando, terras estão se desertificando e as diferentes nações parecem cada vez mais hostis entre si. Lícia é uma jovem do clã Kan, que assim como todos da sua terra, possui belas asas e a capacidade de controlar o vento. Entretanto, a garota não está vivendo um momento feliz. Seu avô acaba de falecer e, por ter perdido os pais em uma antiga guerra, ela se vê sozinha e com uma missão.
''Os cabelos eram cor de fogo e em suas veias corria o vento. De suas costas brotavam asas e seus olhos dourados de águia alcançavam longas distâncias. E, por mais estranho que soe, ela era uma garota normal. Era.'' Pág. 11
Trinta e cinco anos antes, Selaizan, o Senhor da Luz, o mago mais poderoso de toda a história de Datahriun foi assassinado. Com a vida do mago, também se fora o equilíbrio da vida naquele planeta. A última atitude de Selaizan, antes de morrer, foi proteger uma misteriosa caixa que guarda um incalculável poder mágico. O mago enviou para diferentes partes de Datahriun as cincos chaves que abrem a caixa, cada uma para uma pessoa de coração puro e de um clã diferente. O avô de Lícia era o portador de uma das chaves e passou para ela não só a missão de guardá-la, mas de encontrar também as outras chaves e usar o poder da caixa para salvar o planeta.
“’Filha de Kan.’ A frase retumbava em sua cabeça. Lícia era uma herdeira do poder do vento, uma legítima. Um poder puro.” Pág. 71
A missão confiada à menina não é fácil. Lícia vê-se assim em uma aventura que jamais teria imaginado, nem mesmo em seus maiores sonhos. Sozinha, ela inicia sua jornada pelos clãs, apesar de fazer pouca ideia de onde ou exatamente como procurar e encontrar os outros guardiões das chaves. E sua tarefa é ainda mais difícil, pois ela não é a única interessada no poder da caixa. Mas assim como seus inimigos possuem aliados, Lícia também fará amigos que a ajudaram nessa jornada. Um povo que vive debaixo do deserto e que não pode ver o sol, uma domadora do fogo e seu dragão, até mesmo fadas e o misterioso filho exilado de um rei a auxiliarão em seu caminho, uma aventura cheia de adversidades e mistérios, que irá levá-la aos lugares mais belos e aos mais horríveis, que a fará conhecer das criaturas mais belas aos monstros mais apavorantes e que a colocará diante as pessoas mais puras e os espíritos mais maléficos.
“Todas as fadas da Ilha de Samui acenavam enquanto os viajantes ganhavam altura no céu. Lícia descreveu-as lá de cima como estrelas caídas, as estrelas mais belas e brilhantes de toda Datahriun.” Pág. 236
Histórias de fantasia, com guerreiros nobres em missão contra o mal, enfrentando aventuras e desventuras em uma terra fantástica ao lado (ou contra) seres mágicos, não são exatamente minhas favoritas, apesar de que gosto bastante. Tinhas boas expectativas para “O Senhor da Luz”, primeiro volume da trilogia “A Saga de Datahriun”, livro que se mostrou muito superior ao que esperava e que acabou obrigando-me a rever minha opinião sobre esse tipo de história. Com uma narrativa em terceira pessoa objetiva, mas detalhista na medida certa, começamos o livro cercados por informações sobre esse maravilhoso mundo, Datahriun. A princípio, tantos detalhes confundem o leitor, mas logo eles se tornam um toque imprescindível e muito charmoso. A sensação é de que a autora pensou em tudo. Ela criou não só um cenário completo ao ponto de parecer completamente real, mas também muito cativante. Apaixonei-me pelo planeta e, em seguida, pelos personagens.
Nossa protagonista, a bela ruiva Lícia, é uma personagem dividida pela dor e determinação no começo da história. Entretanto, logo a determinação se torna seu foco e a garota começa a superar suas fragilidades em nome de sua missão. Gostei do fato de Lícia não ser uma jovenzinha arrogante louca por aventuras. A garota tem consciência de suas limitações, que por não poucas vezes acabam levando-a a cometer erros que poderiam ser evitados, mas se levanta depois de cair, sempre levando a sério a lição que aprendeu. Aos poucos Lícia vai amadurecendo diante de nossos olhos, mas não de forma acelerada, o que a deixaria pouco convincente. A personagem é cativante e uma boa protagonista e se destaca tanto quanto os personagens secundários, o que aqui é bom, já que todos eles exercem papéis fundamentais na trama. Com personalidades bem definidas, os outros personagens cumprem bem suas funções, seja de conquistar o leitor ou fazê-lo sentir repulsa. Apesar de não gostar dessa divisão clara entre vilões e mocinhos, afinal bem e mal não são como água e óleo, aqui não chega a ser clichê, já que, pelo menos acredito, seja essa uma das características desse tipo de história.
Com ótimos personagens e um lindo cenário, Ruiz ainda traz uma boa trama. A história flui com rapidez, a autora deixa a tensão presente do início ao fim, o que deixa a leitura ainda mais rápida. O livro é recheado de muitas surpresas, apesar de conter seus momentos de obviedade. Entretanto, a sensação geral é de que não se sabe o que virá a seguir, o que impulsiona o leitor sempre para o final, que foi simplesmente perfeito e me deixou ansiosa pela continuação. O único detalhe que me soou negativo na trama foi como a maioria dos acontecimentos parece ser obra do destino. Se a protagonista descobre uma resposta que procurava ou mesmo é encontrada por inimigos, tudo acontece por acaso, uma coisa ruim levando a uma coisa boa e vice-versa. Essas marés de boa e má sorte dos personagens ficaram um pouco forçadas, apesar de que se os acontecimentos ou sua ordem fossem alterados, talvez o desenvolvimento da história não ficasse tão natural como ficou.
É preciso comentar que a autora foi mais que feliz na criação do universo de “O Senhor da Luz”, ela foi maravilhosamente incrível. Ruiz criou uma mitologia própria, com seres, povos, deuses, mitos e lendas que mesmo fora da trama do livro parecem reais. Datahriun em muito me lembrou Nárnia, outro mundo em que adoro e que não hesitaria em conhecer. O livro como um todo me lembrou o livro de C. S. Lewis, assim como as lendárias histórias de J. R. R. Tolkien.
“O Senhor da Luz” nos introduz belamente a trilogia “A Saga de Datahriun”, que promete muitas aventuras. Perfeito em todos os aspectos, o livro é cativante, surpreendente e emocionante, uma leitura que recomendo para todos os amantes de fantasia. Estou ansiosa pelo próximo volume e espero poder lê-lo em breve, assim como outras obras da Graciele Ruiz, que aqui provou seu talento para a escrita e histórias fantásticas.
Falando em edição, a diagramação, apesar de simples, estava perfeita. Encontrei um ou dois erros durante a leitura, coisas simples - como um W no lugar do E, uma palavra repetida, um trecho em itálico que deveria estar normal -, nada que atrapalhasse a leitura. O tipo e tamanho da fonte, assim como as páginas amareladas ajudaram a deixar a leitura ainda mais rápida. Gosto bastante do fundo do livro e das orelhas, que trazem o desenho de uma chave, mas apesar de gostar muito também da capa, ela não representa nenhum momento da história ou mesmo a protagonista. Se pudesse mudar a capa, escolheria talvez uma ilustração da Lícia ou mesmo de alguma paisagem de Datahriun, esse maravilhoso planeta.
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