Pseudokane3 14/11/2010
'Ipsis literis' (um tanto envergonhado) de mim mesmo:
Bruna Surfistinha trabalhou como puta - e gostou! É assim que ela é, é assim que o livro é: linguagem chula, direta, sem rodeios. Vida real, oportunista, capitalizada, repleta de vaidade. Cheia de preconceitos, de senso comum, de putaria sensacionalista. É como se eu estivesse conversando com uma vizinha, no sentido mais dialógico do termo, inclusive! Se isto é ruim? Como diria a autora em várias passagens, “quem está na chuva é para se molhar”. Ou seja, se eu me atrevi a ler esta barbaridade, sabia o que iria encontrar – e encontrei. E, como não seria de todo surpreendente, me identifiquei muito com a personagem real. Para além de nossas diferenças de classe, intelectualidade ou o quer mais que seja, temos algo em comum no que tange ao tom sensacionalista das exposições sexuais, no sentido menos traumático e mais psicanalizante do termo. E basta no que diz respeito aos aspectos “positivos” do livro.
Se eu não consegui odiar de todo “O Doce Veneno do Escorpião”, a sua autora é uma pessoa desagradabilíssima. Viciada em cocaína, mimada, mentirosa, cleptomaníaca, preguiçosa (exceto para foder), desbocada... Não a teria como amiga, mas, enquanto pessoa, defendo a sua existência, defendo os seus direitos legais e, como tal, entendo o que ela quis dizer quando termina seu relato com uma frase-clichê em negrito: “o importante na vida é nunca desistir de buscar a felicidade”. OK, se ela diz...
Ao final do livro, escrito em 2005, ela alega estar feliz num relacionamento amoroso, explicita seu desejo de parir um casal de gêmeos, confessa ter largado a prostituição e as drogas. Único arrependimento: ter realizado um filme pornô, que a incomodou por ser ainda mais mecânico do que algumas das transas ruins a que teve que se submeter. E ela submeteu-se a muitas. Fodas e mais fodas são descritas em detalhes no livro, não sei com que intento... Desabafo apenas? Não sou ingênuo em pensar isso, por mais que ela tente nos convencer (e a si mesma) deste objetivo para-freudiano. Ela quer mesmo é imaginar seus leitores batendo punheta, como deixa escapar numa passagem e, se ela conseguiu sucesso no que tange à minha excitação pessoal, confesso que uma passagem é significativa neste sentido: um trecho adleriano, em que ela explica com minúcias o extremo prazer psicológico que sente quando se via induzida a “descabaçar” vários meninos de 12, 13, 14 anos que apareciam uniformizados no bordel em que ela trabalhava, não por acaso localizado perto da escola em que eles estudavam. Senti-me um tantinho irmanado com ela durante o processo de comunhão entre inexperiência sexual e desvirginização alheia. É algo que alimento enquanto fantasia pessoal. É assim que eu imagino a minha segunda (e definitiva) “primeira vez”...
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