spoiler visualizarMateus 13/06/2020
bom pano de fundo, narrativa decepcionante
Só compreendemos como verdade aquilo que constatamos empiricamente no decorrer da vida. No Silo, gerações nascem e morrem, e as únicas verdades que todos compartilham dentro dele dizem respeito a sua forma de funcionamento, de que o ar do lado de fora é mortal, que expressar vontade de sair é assinar uma declaração de suicídio. Ganhar na loteria é a forma de perpetuar a ordem e os costumes, as “sombras” são a garantia de que os mais jovens preencham o espaço daqueles que virão a falecer, esses são seus mestres. A atmosfera da verdade deve imperar sobre dúvidas, e a ordem deve prevalecer sobre qualquer coisa que a desvirtue. Mas o que acontece quando os eixos do funcionamento do Silo são quebrados? Essa é a atmosfera da distopia criada por Hugh Howey.
Se a sua mente é bastante criativa e capaz de preencher lacunas chave para o entendimento de uma narrativa, este livro é para você. Compreendo, no entanto, que toda e qualquer narrativa necessita de um mínimo de descrição, seja de ambiente, seja de personagens. Howey... Não segue essas premissas. Ao decorrer da minha leitura, não senti profundidade emocional nas personagens e muito menos consegui estabelecer um vislumbre satisfatório dos ambientes. A protagonista não convence no heroísmo, na força, ou em qualquer das atitudes, e isso segue-se a todas as personagens, exceto duas. É possível, vislumbrar a ambientação do Silo e o que tem fora dele, mas sempre como se estivesse faltando detalhes. A dificuldade (ou opção) do autor em não descrever personalidades ou ambientes, se torna ainda menos palpável quando a narrativa minimiza grandes episódios, aqueles em que a gente espera para chegar, e maximiza todo o lento processo até chegar a esses episódios. Quando, finalmente chegam os acontecimentos que tanto aguardamos, Howey nos brinda com amargas duas ou três páginas, onde os acontecimentos se sobrepõem, se confundem, e são superficiais. Uma pena, já que a atmosfera e o pano de fundo mereciam mais do que personagens quase sem emoções e ambientações não convincentes.
Por outros lado, Bernard e Solo são personagens agraciados com personalidades e modos de agir muito mais palpáveis do que aqueles que os cercam. É possível sentir um mínima antipatia por Bernard e simpatia por Solo. Solo, no entanto, é bonificado ainda com uma camada de carisma e profundidade em termos de personalidade, já que assume todas as características de alguém que a muito vive na solidão. Os acontecimentos no Silo 17, também são melhores desenvolvidos, tanto em termos de narrativa, quanto na ambientação em si, onde até mesmo a apática Juliette, ganha episódios que quase podem ser entendidos como surpreendentes e agoniantes, dignos de um verdadeiro suspense. Vejam bem, eu disse quase.
Com um pano de fundo que tinha tudo para ser explorado, Silo peca por simplismos, capítulos supérfluos e desnecessários, personagens superficiais e ambientações pouco palpáveis. O que vai acontecer nos próximos volumes da trilogia? Eu jamais saberei... Pelo menos não por Howey.