Livy 07/09/2014
Ótima pedida para os fãs de distopia e ficção-cientifica...
Silo, primeiro livro da série de Hugh Howey, me surpreendeu em muitos aspectos, e em outros esperava um rumo diferente para a trama, mesmo sabendo que ela tinha que ser exatamente como foi. Mas considero Silo uma das melhores distopias que já li, sem dúvida. Não apenas pela história, mas por todos os elementos que o autor usou. Além disso, Silo começou como uma publicação independente, e Howey levou três anos para escrevê-lo. Inicialmente lançado na Amazon como e-book, e então depois do sucesso entre os leitores se tornou best-seller do New York Times. Não é um feito para qualquer um. E, claro, percebe-se que esta série veio para ficar, e com certeza ainda vai dar muito o que falar. Não tenho dúvidas de que estará, futuramente, entre os grandes nomes do gênero como: 1984 e Fahrenheit 451, por exemplo.
Silo é uma distópico pós-apocalíptico de ficção-científica, e é realmente surpreendente, apesar de não ser exatamente, ou completamente, original. Acho que um dos elementos que mais gostei é que a protagonista, Juliette, não é uma adolescente mimada, insegura e cheia de porquês mas sim uma mulher madura, de 34 anos, decidida, forte e muito inteligente. A sagacidade e mente analítica de Juliette me ganhou. Sem dúvidas ela é a minha personagem preferida, e também quem leva a história do Silo para o surpreendente e inimaginável.
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Centenas de anos atrás o mundo foi destruído: o ar não é mais respirável, as toxinas são mortais. O solo é árido e os ventos fortes. Não há mais cor ou vida. Apenas um silo encravado na terra, onde uma comunidade gigantesca vive controlada por um poder totalitário. Os cidadãos desta comunidade vivem divididos em camadas, onde cada um exerce uma função que visa manter o silo em pleno funcionamento: desde a Prefeita até o nível mais profundo do silo, a Mecânica.
Neste mundo limitado, em um silo de proporções incríveis, a qualquer cidadão que demonstre rebeldia com a simples menção de querer sair do silo é imposto a limpeza. Um procedimento onde a pessoa veste uma roupa especial e é mandada para fora, para uma morte certeira. Neste processo todos que saem acabam limpando as câmeras que filmam o ambiente hostil no qual qualquer humano morre em poucos minutos. O "querer sair" é apenas uma ideia, um sussurro perdido em meio às profundezas de um imenso silo. Uma pequena faísca que pode detonar uma verdadeira guerra.
O xerife Holston está desiludido com a perda de sua esposa alguns anos atrás para a limpeza. Ela sabia de coisas que ninguém poderia sequer imaginar, e compartilhou seus pensamentos com ele. Ela não conseguia mais ficar presa ali no silo, e por isso precisou sair. Morrendo. E Holston vai pelo mesmo caminho, querendo ver com os próprios olhos o que a esposa viu antes de morrer.
Com a morte de Holston, a Prefeita Jahns e o delegado Marnes vão em busca de Juliette, uma moça que trabalha nas profundezas do silo, no setor da Mecânica. Marnes confia que é ela a pessoa perfeita para o cargo de xerife, com sua mente aguçada, que consegue ver tudo de forma bem clara e analítica, como vê suas máquinas. O que ambos não esperavam, assim como Juliette, é que tudo tomaria um rumo inimaginável, mudando o rumo da história do silo.
Um dos pontos fortes da narrativa de Howey é que ele é minucioso. Ele não poupa detalhes. Eu gostei muito de sua narrativa, bem característica e única. O modo como ele narra a história é muito boa, os detalhes são incríveis e me proporcionaram uma total imersão na história e no mundo de Silo. Mas confesso que em grande parte do livro o excesso de detalhes me incomodou. O problema é que ele descrevia tudo muito detalhadamente, e isso tornou a leitura um pouco cansativa e demorada para mim. Na verdade não tenho problemas com narrativas bem detalhadas, pelo contrário, adoro quando o autor detalha os elementos, ambiente, personagens, etc.
Mas o excesso de Howey me irritou um pouquinho porque é nas ações dos personagens, que muitas vezes se tornam até mesmo redundantes. Por exemplo, logo nas primeiras 100 páginas do livro Jahns e Marnes descem do nível mais alto do Silo para o nível mais profundo, a Mecânica para encontrar Juliette e convencê-la a assumir o cargo de xerife. O problema é que Howey detalha cada passo dos personagens nesta descida: o momento em que param para beber água, o momento em que param para respirar. Um tanto de enrolação para o meu gosto. Isto acontece em muitos momentos do livro, o que acaba proporcionando uma trama intercalada entre momentos muito empolgantes e momentos um pouco cansativos.
Outro detalhe que me pegou é a descrição do Silo. É tão inacreditável que eu nem mesmo conseguia visualizar, devido à grandiosidade do ambiente. Pense em um silo com mais de 100 andares, totalmente encravado no solo. Fiquei imaginando o quão grande teria que ser este silo para ter tudo o que o autor propôs ali. É tão surpreendente e grandioso que não consegui conceber. Então durante a leitura pesquisei na fotos de silos e descobri alguns que servem de abrigo nuclear. O mais perto que consegui achar do silo criado por Howey. Mas então consegui imaginar, mesmo que superficialmente, como seria. E continuo achando tão inacreditável quanto antes.
Tirando estes detalhes temos um livro muito bom aqui. Howey tem uma narrativa única que prende de uma forma que é impossível largar o livro. A trama segue num crescendo, com muito tensão e suspense. Conflitos são inevitáveis, e em meio a mistérios, descobertas e reviravoltas, me vi presa. É um livro do qual não sabemos o que esperar, e por isso é tão surpreendente. Eu realmente não sabia que rumo Howey iria tomar, e justamente por seguir um caminho contrário ao que eu esperava, ganhou pontos comigo.
Realmente me vi envolvida, e não conseguia largar a leitura. Enquanto não terminei o livro, não consegui me ver em paz. Não é um livro cheio de ação, mas a tensão dos acontecimentos é o que faz o livro ser tão interessante. Juliette acaba sendo a faísca para mudanças, onde uma verdadeira luta, tanto psicológica quanto física, se desenrolará. Todo um mundo começa a ruir, verdades vêm à tona. Nada mais será como antes.
Silo é um livro diferente e surpreendente na medida certa, e é uma ótima pedida para os fãs de distopia, ficção-cientifica e livros bem narrados e descritivos. Silo é uma faísca, uma ótima introdução para uma série que promete incendiar. Um prato cheio para os ávidos por livros que saiam da mesmice.
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