Laura.Oliveira 13/05/2021
Azul da cor da raiva que passei
Azul da cor do mar conta a história da Rafaela, uma estudante de jornalismo, que conquista a chance de estagiar em um jornal de renome de Belo Horizonte. Porém, como nem tudo são flores, o supervisor dela no jornal é um troglodita chamado Bernardo, que parece bastante disposto a complicar a sua vida profissional. Para além disso, Rafaela guarda consigo uma recordação de dez anos antes, quando viu um menino durante as férias e se apaixonou, mesmo sem nunca ter falado com ele. Desde então, ela busca pela chance de reencontrar o garoto e uma chance parece surgir sempre que ela se depara com um homem de olhos azuis como os que ele tinha, que é o caso de Bernardo. Partindo disso, já dá para saber o que rola, certo?
Pois bem, como eu já conhecia a Marina Carvalho de outras leituras, tive minhas expectativas de encontrar nesse livro outro romance de deixar o coração quentinho. Por isso, foi como um balde de água fria quando eu me deparei com uma história sem sentido, uma protagonista irritante e um protagonista nada carismático. Azul da cor do mar é, de longe, um livro repleto de problemas SÉRIOS.
Como ponto positivo, deixo apenas a escrita da Marina. Ela é muito fluida e envolvente, ao ponto de ter me feito terminar de ler o livro, mesmo não gostando dele desde os 25% de leitura. Por isso, recomendo outros livros da autora, como "Simplesmente Ana" e "Um dorama para chamar de meu", pois Azul da cor do mar não deu certo. Longe de mim querer fazer a minha opinião de quem não gostou ser absoluta, até porque o livro tem várias resenhas positivas, mas deixarei uma lista de coisas que não me agradaram e, se você que estiver lendo a resenha ainda assim quiser encarar o livro, boa sorte e paciência.
Para começar, a proposta do livro não faz tanto sentido. A Rafaela tinha 10/11 anos quando viu o garoto na praia e desde então alimentou uma obsessão por ele, que a fazia escrever cartas para o sujeito (extremamente vergonha-alheia) e até escolher relacionamentos com base nele. Loucura total. No entanto, mesmo obcecada, ela não chega a fazer nada demais para encontrar o sujeito, além de ficar de olho em homens de olhos azuis. O "mistério" do garoto não faz diferença alguma para a história, porque até quando ela descobre quem ele é (sem surpresa alguma), o momento é bem morno.
Para além disso, a Rafaela por si só é uma protagonista chata. Não bastando o lance do garoto, os únicos outros traços de personalidade dela são puritanismo, hipocrisia, curiosidade e desastre. Ela se acidentou várias vezes ao longo do livro e nem uma das vezes agregou em nada na história, mesmo as feitas para causar clima entre o casal. Também perdi a conta das vezes em que ela fez burrada e se meteu em confusões que tampouco acrescentaram. Quanto ao puritanismo e a hipocrisia, essas foram as características que mais me fizeram odiar o livro, porque ela inicia a história amiga de uma garota e depois julga horrores o caráter da menina só porque ela ficou com o Bernardo (sendo que a santa da Rafaela nem tinha nada a ver com isso e não fez julgamento algum sobre o Bernardo). A rivalidade feminina aqui foi podre e desnecessária. Elas eram amigas e uma brigou com a outra por ciúme do envolvimento dela com o cara, sendo que a Rafaela negou veemente sentir algo pelo Bernardo quando questionada pela amaiga em questão. Enfim.
Por fim, teve o Bernardo. Deixei ele por último, porque foi a decepção maior. Sempre gostei dos protagonistas masculinos da Marina e ele não chegou ao dedo mindinho do Alexander e do Joaquim, de seus outros livros. O Bernardo foi tóxico com a Rafaela o tempo todo. Ele fez Bullying com ela no trabalho (coisa que a própria Rafaela o acusa de ter feito na narrativa, mas, ainda assim, se apaixona por ele), impôs situações constrangedoras sobre ela com a desculpa de ser para o "bem" dela (sendo que só a fazia chorar e se envergonhar) e, acima de tudo, admitiu que ficou com a amiga dela para provocá-la. Tipo, faz sentido a Rafaela gostar dele mesmo diante disso tudo????
O romance desse livro é problemático e sem química. Ele rola só nos 20% finais do livro, que é quando tudo acontece de uma vez só após muita enrolação. É extremamente horrível o quanto as atitudes ruins do Bernardo foram encobertas por algumas palavras doces e o famoso "passado difícil" (que nem foi tão difícil assim) e é por isso que dei só uma mísera estrela para a narrativa, em consideração à Marina. No mais, não recomendo nem para quem não gosto.