WillZoka 16/06/2020
A Cidade é um ser Vivo
A cidade é um ser vivo, imenso, complexo, cheio de qualidades e defeitos, com memorias, sonhos, objetivos, arrependimentos, lagrimas e amor. O maior e mais bonito reflexo das pessoas que nela moram e lhe dão, ou ao menos tentam lhes dar significado.
A muitos anos atrás, mais exatamente em 2014 eu tive o meu primeiro contato com o livro “Após o Anoitecer” do autor Japonês Haruki Murakami. Um livro que me foi concebido graças a um evento da escola em que me formei. Nesse mesmo ano eu estava descobrindo o poder, o prazer e o significado que os livros possuem e encarei a leitura aparentemente curta e fácil. Ao chegar no fim dele alguns dias depois com lagrimas nos olhos e momentaneamente perdido não sabia como expressar minhas ideias, o choque que o livro havia me causado era especial.
Passei mais alguns anos mantendo ele comigo, apenas me lembrando de certas cenas que iam e vinham na minha cabeça, mas sem me aprofundar como ele merecia. Demorei seis anos para reabri-lo, e novamente, o choque foi imenso.
São inúmeros os questionamentos que me vem à mente quando me lembro dessa história que, é tão atual, real e cheia de pessoas vivas que a compõem.
Qual o significado que nós buscamos? Onde queremos chegar? Porque somos quem somos? Quem realmente são as pessoas a minha volta? E a pergunta que mais me seguiu, o que acontece na minha cidade, comigo e as pessoas após o anoitecer?
Na obra seguimos a protagonista Mari Asai que abandona a casa dos pais para enfrentar uma noite sozinha em Tóquio, solitária, buscando fugir de si mesma e da situação que precisa encarar em casa. A história será entrelaçada por outros personagens, como Takahashi que é um músico procurando assim como eu, e muitas pessoas um sentido para sua vida, e com Shirakawa, um empregado em uma empresa de tecnologia que vara as noites em seu serviço, porém escondendo uma personalidade brutal, que ao mesmo tempo assusta e nos deixa curioso. Por fim, Kaoru, gerente de um motel que tenta ajudar uma prostituta que foi espancada por um cliente e acaba se envolvendo com a máfia chinesa.
É muito difícil iniciar um pensamento sobre esse livro enquanto e depois de lê-lo, já que pra isso, preciso não só pensar em mim primeiro mas também em toda a cidade a minha volta. Qual significado nós atribuímos a nossas vidas, qual valor, quais signos.
O autor propõe que nós acompanhemos os personagens em alguns momentos como pássaros ou entidades onipresentes, nos sentimos invasores de sua personalidade, tentamos ao mesmo tempo entende-los, o que os move, para onde vão? Ficarão juntos? Como enfrentarão os problemas que os acompanham diariamente e os que surgiram com a madrugada?
Em contra partida somos surpreendidos por momentos sufocadores que vão muito além de uma simples passagem pela mente do personagem, é como se entrássemos dentro de seu corpo, sua mente e visemos o que muitos tentam esconder, por trás das máscaras sociais, momentos surreais que são dignos de lhe faltar oxigênio. O medo, a insegurança, a ansiedade, a melancolia nos acompanham quase que de mão dada nesses momentos.
“- Mari. Vou te dizer uma coisa. O chão que pisamos parece ser bem firme, mas uma coisinha de nada é o suficiente pra fazer ele ceder (...) Uma vez que caímos, não podemos mais voltar (...)”
Esse me livro me fez perceber o grandioso universo que existe dentro de cada ser vivo, sua história pessoal, sua cultura, suas lembranças, sonhos e objetivos que se integram a cidade a fazendo se tornar parte de si. Não somos pessoas vazias em nenhum sentido, buscamos alguma coisa ou alguém. Estar vivo é se completar com os outros e com a natureza, aproveitar cada instante até o fim, porque, o que resta depois que partimos? O que deixamos para trás? Quem somos hoje, o que nos tornamos? Em que escolhi acreditar?
Mas é óbvio que não é tão fácil assim, posso muito bem ter me precipitado em alguma reflexão, mas é ai que as coisas ficam mais belas, a troca de ideias, de leituras, de experiências nos tornam ricos. Como já dito antes, somos grandes universos cheio de pequenas estrelas impossível de se catalogar, diminuir ou reprimir, ninguém é “isso” ou “aquilo”, quando você toma tal consciência as pessoas se tornam maravilhosas, (ou não).
Precisamos sentir que estamos vivos, precisamos de amor, tristeza, magoa, sonhos, precisamos aproveitar a noite que se aproxima e viver seus momentos únicos, porque, ela sempre irá chegar e partir uma hora, tudo passa, nada é eterno, então, após o anoitecer eu espero que você consiga
chegar mais perto de ser você mesmo.