Flávia Menezes 25/06/2022
NÃO VOU PENSAR NISSO AGORA. PENSAREI NISSO SÓ AMANHÃ!
?E o Vento Levou?, de Margaret Mitchell, lançado em 1936, é um clássico que foi escrito pela autora durante um período em que esteve doente, e que levou anos para ser trabalhado, até chegar a sua publicação. E como resultado, temos uma quantidade grande de páginas, porém que não são suficientes para que, ao terminar, não queiramos ainda mais dessa história que nos conquista de forma arrebatadora.
Muito embora esse seja um clássico cuja questões raciais estejam bem-marcadas, e que chegaram a levar grandes redes de streaming a banirem sua adaptação para o cinema, eu penso que é uma questão que faz parte de uma época, e que infelizmente não pode ser apagada. E embora seja realmente doloroso, eu penso que existem tantas mensagens contidas neste livro, que se pudermos enfrentar todo o desconforto, poderemos nos beneficiar em tirar todas as suas boas lições.
Scarlett O´Hara é uma das personagens mais icônicas de todos os tempos, e junto com Holly Golightly (Bonequinha de Luxo), sua personalidade é tão marcante a ponto de ficar gravada na nossa memória para sempre.
Scarlett começa a história como uma menina jovem, cheia de sonhos, mimada e cheia de vontades, nutrindo uma paixão por um homem que apesar de também ter sentimentos por ela, não a escolhe. Ao contrário, sua escolha para esposa é uma mulher bem mais simples em atributos físicos, porém bondosa ao extremo, e que ao longo da história vai ganhando nossos corações de um jeito que nem sequer esperávamos.
Melanie, a Melly, é a única personagem boa e ingênua de que me lembro ter gostado tanto em toda a minha vida. E a autora foi tão brilhante em construí-la, de forma a mostrar porque, mesmo na simplicidade, pode haver tamanha beleza em um personagem, sem que isso diga respeito ao aspecto físico. Aliás, uma das maiores habilidades dessa autora, são as oposições. Assim como Melly é praticamente o oposto de Scarlett, Ashley é o oposto de Rhett.
Ashley é o amor da adolescência de Scarlett, e esse clima de amor impossível é algo que nos faz questionar o porquê de Scarlett amar tanto um homem que tem tão pouco a oferecer. Mas quando analisamos bem de perto, a personalidade forte de Scarlett, sua força que vai se manifestando conforme os obstáculos vão surgindo, é o que a faz, no fundo, desejar um homem que não está acima dela. Scarlett quer brilhar, quer ser a força, e um homem para ela é aquele que vai adorá-la, colocando-a em um altar.
O que também nos conta o motivo pelo qual Ashley sempre a afasta. Como um homem pode permanecer ao lado de uma mulher que o enfraquece tanto? Por mais tolo que Ashley pareça, a verdade é que ele é corajoso o suficiente para dizer não a esse amor que o reduz, mesmo que a princípio pareça tão cheio de devoção. E é aí que entendemos a grande mulher que Melly é. Porque com sua delicadeza, sua humildade, ela é quem fortalece Ashley. Não Scarlett.
Sobre Rhett... ah, o que dizer de Rhett? Sabe aquele personagem que vai te ganhando aos poucos, só para depois te deixar caidinha por ele? Esse é o Rhett. No começo, ele pode até ser visto como um vilão, um homem ruim que faz coisas piores ainda para Scarlett, quando na verdade, é um homem que esconde um amor enorme, atrás de uma inteligência muito sagaz.
Só ele sabe como domar a indomável Scarlett. E quer saber? Essa relação deles é tão divertida, que você acaba passando pano para tudo o que ele faz. Eu confesso que passei e até o fim! Até mesmo porque no final, quando esse personagem abre o seu coração e escancara tudo o que sente, ele acaba nos levando às lágrimas.
Sabe aquela vontade de que exista na vida real um homem capaz de nos dizer todas as coisas que ele dizia sentir pela Scarlett, e fazer tudo o que ele fazia por ela? Foi exatamente o que senti pelo Rhett. E tenho que dizer que essa autora fez meu coração ficar em inúmeros pedacinhos, só de lembrar que ele é apenas um personagem, e não existe na vida real. Os sentimentos e ações de Rhett o colocam no patamar do homem mais incrível que já vi em toda a minha vida. Mesmo sendo apenas um personagem.
Se Gustave Flaubert despertou as mulheres para as delícias da paixão e do amor romântico, ao invés das uniões frias por conveniência, Margaret Mitchell nos faz perceber o quanto a paixão nos cega, e nem sempre o homem real é o mesmo daquele que vive em nossa fantasia. É a típica lição para levar para a vida toda e passar para todos os que amamos.
Nada do que eu escreva sobre esse livro vai poder demonstrar 1% da sua grandiosidade. A narrativa é poética, e flui de uma forma que você nem sente as páginas passando. E por mais que seja um livro longo, sua trama é tão perfeitamente desenvolvida, que te prende do início ao fim. Nas partes boas e nas partes tristes. E no final, eu queria mais uns 3 calhamaços desses de continuação. Até porque não há um único erro que eu consiga apontar. Essa história é simplesmente perfeita!
De fato, depois de uma leitura como essa, eu me pergunto como superá-la. E honestamente, acho que nunca irei superar não ter mais nenhuma história sobre a audaciosa e corajosa Scarlett para ler. E sabe o que é pior? Eu já não sei mais o que fazer sem o Rhett e suas provocações, e seu jeito de cuidar da Scarlett à moda antiga, como só um homem do passado sabia cuidar. Não sei como superar a partida de todos esses personagens incríveis. Não sei como uma nova leitura poderá me distrair de tamanho impacto.
E como resposta a todo sentimento que essa leitura me despertou, e também para conseguir encerrar essa resenha, eu preciso pegar por empréstimo o bordão de Scarlett O´Hara: ?Não vou pensar nisso agora. Pensarei nisso amanhã, porque amanhã será outro dia!?