As cidades invisíveis

As cidades invisíveis Italo Calvino




Resenhas - As Cidades Invisíveis


180 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Arsenio Meira 18/05/2014

"a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos."

O viajante de Calvino surge como a possibilidade que a ele se apresenta: guiado pelo desejo de conhecer o outro, o diverso, o imperscrutável. Marco Polo, deste excepcional "As Cidades Invisíveis" é um viajante incansável que percorre sendas fantásticas nas quais é possível transitar pelos mais diversos percursos. Uma coisa é o mapa que serve de referência ao viajante, que ele consulta ao longo do percurso, ou que estuda antes de empreender a viagem.Outra coisa é o mapa que o viajante desenha enquanto viaja.

Na verdade, o viajante experimenta outras direções, outras velocidades e outros repousos, funda outras escalas, isto é, constrói um mapa diferente daquele outro que lhe serve de guia, Compondo um delicado mapa delimitado pela memória de Marco Polo e pelos sonhos de seu imperador Kublai Khan, as cidades de Calvino (é interessante ressaltar que elas trazem inscritas as marcas do feminino, tendo todas nomes de mulheres: Berenice,Teodora, Cecília, Olívia, Isaura...) são mais que lugares fantásticos ou oníricos.

Elas podem ser lidas como verdadeiros espaços de conhecimento, de desejo, de humanidade, de busca.Viajar por essas cidades invisíveis é percorrer um mapa em filigrana, um labirinto-espelho assimétrico e hipertextual, no qual é possível adentrar por diferentes portos e percorrer rotas diversas, alcançando lugares que são sempre vários e sempre os mesmos, espaços mutantes e híbridos que somente se concretizam com o olhar e a presença dos que os percorrem.

Há, pois, o mapa de viagem e o mapa-viajante. É possível que existam diferentes espécies de viajantes. Encontra-se os que planificam a viagem a partir de um mapa pré-existente e “esvoaçam” até à exaustão na esperança de tornarem o seu mapa-viajante o mais semelhante possível com o mapa de viagem que escolheram previamente. Mas existem também os que consultando certamente mapas de viagem se abandonam aos fluxos da viagem, aos imponderáveis do percurso, aos seus acidentes próprios desenhados em sincronia com as contingências da viagem.

O mapa-viajante tem a sua sede no caminho do viajante, não na estrada mas no corpo, nas esquinas dos sorrisos, nos cansaços, nas horas das sedes, na poeira alegre ou triste, nas tibiezas de quem ao certo não sabe, nas luzes das conversas que ficam, no do centro da praça pensante, no caminhar irrefutável. A viagem? De todos. De todos os dias. Um incessante renovar-se ou descobrir-se. Aprimorar o seu itinerário com o outro. Carlos Drummond de Andrade não fugiu ao tema (e qual tema Drummond não adornou?), e em seu poema "O HOMEM; AS VIAGENS', nos forneceu a senha para a portão de embarque às Cidades invisíveis, posto que o mapa inexplorado não pode triunfar:

"[...]
Restam outros sistemas fora
do solar a col-onizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver. "
Luis 11/04/2015minha estante
Arsenio, brilhante a sua resenha relacionando Drummond a Calvino. Estou lendo no momento e o seu texto acerta em cheio ao descobrir e apontar toda a poesia nas cidades femininas, como você bem salientou. Guia perfeito para a viagem de sonho de Marco Polo. Como diz um amigo meu, ouro puro. Abração e parabéns.


Arsenio Meira 11/04/2015minha estante
Grande Luis
Valeu, camarada! Os seus comentários, o seu entendimento são sempre lúcidos, mesmo quando porventura dissonantes do meu. Logo, ele são muito mais valiosos do que esses "gostei" que existem nas resenhas. A você, de quem já li todas as resenhas com entusiasmo e contentamento, pois que escritas com legitimidade e ao sabor de um bate papo esclarecedor, nítido, objetivo, leve e profundo,; resenhas que você escreveu com a graça de uma escrita que não descura, e que permitem o diálogo, em função do brilhante conteúdo, o meu abraço fraterno de apreço e admiração.
Arsenio


Ulisses 18/04/2015minha estante
arsenio meu caro vc por aqui!? vou começar a ler hoje,


Arsenio Meira 24/04/2015minha estante
Opa Ulisses,
Espero que tenhas ou que estejas gostando.
Abraços




Will 09/09/2022

Escrita linda, belas descrições, mas não consegui captar a obra como um todo como outras pessoas relatam. Talvez o livro exija mais calma ou um método de leitura diferente. Teve bons diálogos filosóficos entre os personagens, mas alguns capítulos de descrições eu implorava pelo fim.
Algaier 09/09/2022minha estante
Adorei a sinceridade haha


Will 09/09/2022minha estante
Imagina meu estado mental pra chegar num desabafo desses. Isso em dois dias de leitura...




Leo 14/09/2009

"As cidades invisíveis" tem presença garantida nas listas de melhores romances do século XX, mas talvez não mereça o título. Não por sua qualidade literária, que é indiscutível, mas sim porque a classificação “romance” talvez não seja suficiente para descrever esta obra ou abranger a sua imensidão temática.

Isso porque “As cidades invisíveis” é prosa, mas é também poesia: suas páginas são repletas de lirismo. Não há um fio narrativo claro. Marco Polo descreve a Kublai Khan uma série de cidades imaginárias em capítulos curtos, organizados por temas. Às vezes, um ou outro diálogo mais extenso entremeia os relatos. Mas, para Calvino, famoso por sua inventividade, isso basta.

O próprio autor uma vez afirmou que “As cidades invisíveis” é o livro em que conseguiu dizer mais coisas, uma vez que encontrou na cidade um grande símbolo para todas as suas reflexões. Há divagações sobre semiótica e metafísica, sobre a linguagem e a morte, enfim, sobre a própria essência humana. As metáforas espalhadas pelo livro são inúmeras e abertas, obrigando o leitor a empreender sua própria viagem pelo universo fantástico narrado por Marco Polo.

Já foi dito que o ideal, aqui, não é fazer como o turista que para, bate uma foto e já parte para a próxima atração, mas sim saborear cada cidade vagarosamente de forma a aproveitar o que ela tem para oferecer. Mantenha “As cidades invisíveis” ao lado de sua cama, abra suas páginas aleatoriamente e deixe-se surpreender. Se ler é uma viagem, este livro é um daqueles destinos obrigatórios.
Juliana 01/10/2012minha estante
Nossa só de ler sua resenha fiquei doida pelo livro... será minha próxima leitura com certeza....


Samara 19/10/2012minha estante
Se já estava com vontade de ler, a coisa ficou pior depois dessa resenha! Amei!




jota 08/08/2014

Fantástica geografia
Diomira, Zirma, Fedora, Zobeide, Eutrópia, Laudônia e muitas outras cidades. É Marco Polo viajando no tempo e no espaço pelo vasto império do tártaro Kublai Khan, enquanto vai destacando suas paisagens ambíguas, os comportamentos singulares dos habitantes dessas cidades, as enganadoras aparências urbanas, etc.

São relatos curiosos e ao mesmo tempo poéticos, plenos de simbologia e encantamento e que não dispensam um bom dicionário (a não ser que você seja um sujeito de grande erudição; eu não sou) dada a quantidade de palavras desconhecidas que encontramos em todas as narrativas.

Para melhor aproveitar o livro – que na verdade é bastante curto, como são curtas as descrições de Marco Polo - é preciso que a leitura seja feita vagarosamente, sem pressa, saborear as palavras servidas, imaginar (até onde isso for plenamente possível) a fantástica geografia que vai se desenhando à nossa frente a partir do que o famoso viajante veneziano nos conta. Melhor, conta para o poderoso Kublai Khan.

Calvino, que sempre é muito imaginativo, aqui é mais ainda e então tem horas em que parece que você está lendo Ficções, de Jorge Luis Borges – pode não ser exatamente isso, minha memória pode estar me traindo, mas foi o que senti em certos trechos do livro. Eu não me espantaria se alguma das cidades de Calvino se chamasse, por exemplo, Uqbar – embora elas tenham somente nomes femininos.

E nas páginas finais o grande Khan “já estava folheando em seu atlas os mapas das ameaçadoras cidades que surgem nos pesadelos e nas maldições: Enoch, Babilônia, Yahoo, Butua, Brave New World.” Ligadão na invisibilidade esse Khan. Marco Polo também.

Lido entre 06 e 08/08/2014.
Marta Skoober 29/09/2016minha estante
São contos, Jota?
Pensei tratar-se de uma única novela.




Beatrizjesus 25/02/2024

Talento com as palavras
Esse primeiro contato com a obra de Ítalo Calvino já foi suficiente para me cativar. A delicadeza, a beleza e a sábia forma com que o autor descreve as cidades que Marco Polo passou são únicas. Foi uma leitura labiríntica e cheia de significados.
Se ler, de um modo geral, já é uma forma de viajar, ler As Cidades Invisíveis é quase que um teletransporte subjetivo e imaginativo ao redor de um mundo cheio de cidades ?femininas? e do que ele tem a nos ensinar.
Nada neste livro é dispensável.
Lis 27/02/2024minha estante
Descrição fidedigna a sensação de lê-lo. Belíssimo!




Luke_Vieira 23/06/2023

Um convite à imaginação, mas para poucos convidados.
Infelizmente, eu não sou um desses convidados. Se sou, fui embora do evento bem cedo.

As Cidades Invisíveis é, acima de tudo, uma coletânea de ideias sobre cidades imaginárias, ou talvez variações imaginárias sobre Veneza (cidade pela qual o autor, um cubano que se mudou ainda muito novo para Itália, claramente era apaixonado).

Cada cidade do livro, com suas particularidades sociais, culturais e arquitetônicas, te convida a interpretá-la da forma que quiser, bem como o livro também faz.

Sem muita narrativa linear (o que só acontece em curtos trechos ao fim ou começo de capítulos), cabe ao leitor dar sentido à escrita vaga e as vezes simplesmente confusa de seus textos.

Dentre algumas reflexões humanas ou ideias realmente revolucionárias do que poderia ser uma cidade inovadora, senti que a maioria das páginas mais divagam sobre conceitos banais e ordinários do que chocam sua mente com frases impactantes e sacadas criativas.

Pela minha leitura e, principalmente, na minha opinião, percebi que Italo Calvino, autor da obra, faz uso de três categorias claras de escrita:

A) Descrições arquitetônicas ou organizacionais sobre as cidades;
B) Descrições físicas ou psicológicas sobre as pessoas das cidades;
C) Reflexões filosóficas sobre os textos que misturam a opção A com a opção B.

Para mim, o tipo de escrita C é quando o livro realmente brilha. Nesses momentos, você repara que Italo, na verdade, não está descrevendo cidades, mas sim a consciência humana. É, de fato, uma leitura única, bem como também é, de fato, uma leitura entediante durante a maioria das páginas.

Acho importante, porém, destacar que vi muitos relatos sobre jogadores de RPG ou contadores de histórias que se inspiraram na escrita de Italo para dar vida à uma ambientação fantasiosa em suas próprias criações. Vejo esse potencial. O tipo de escrita A e B podem muito bem servir como um backlog de referências criativas, mas não é o que As Cidades Invisíveis foi para mim.

Como disse no início da minha resenha, infelizmente não sou o público-alvo da obra. Esse é um livro que apenas será tão profundo e marcante quanto você está disposto a racionaliza-lo ou senti-lo. Como Marco Polo, personagem da narrativa, diz:

- Eu falo, falo, mas quem me ouve retém somente as palavras que deseja... Quem comanda a narração não é a voz, é o ouvido.

Por agora, levo comigo 6 ou 7 trechos filosóficos e ideias curiosas, mas garanto que já me esqueci de pelo menos 70% dos textos que li por aqui. Talvez no futuro, com mais anos de vida, eu possa reler As Cidades Invisíveis e me conectar um pouco mais com sua escrita experimental.

?????????????????

Para finalizar, esta é a minha avaliação pessoal, por área de análise, da obra:

(As notas, aqui, vão de 0 a 5)

- Enredo: 0
- Personagens: 0
- Tema e capacidade reflexiva: 5
- Estilo de escrita: 1
- Contexto histórico, temporal e espacial: 2

Nota final: 1.6 estrelas.
Leo 16/02/2024minha estante
Amigo, As Cidades Invisíveis não é um livro que se propõe a ter enredo ou contexto histórico/temporal. Ao invés de ter dado nota 0 ou 2, você simplesmente deveria ter colocado um "não se aplica".

Não vou comentar sobre os "conceitos banais e ordinários", porque, como você mesmo disse, talvez no futuro você possa reler o livro e se conectar um pouco mais. Sugiro enfaticamente que o faça.

Agora, nota 1 pra estilo de escrita...
Pro Calvino, considerado o maior escritor italiano do século XX.
Tá certo.




Valério 03/01/2014

Uma viagem
O livro é um bocado surreal. Fantasioso, interessante em alguns pontos. Mas não me convenceu. Li "Se um viajante numa noite de inverno", do mesmo autor. Também um bocado surreal, mas achei bem mais interessante. Não apenas na concepção, como no estilo e no enredo.
Há quem poderá me atirar pedras por não ter gostado tanto deste livro. Mas uma das belezas da literatura é um mesmo livro poder agradar tanto alguém desagradando outrem com gostos parecidos.
Marco Polo descreve a Kublai Khan diversas cidades imaginárias, cada uma com uma característica peculiar. Talvez eu pudesse ter "viajado" mais na história. Quem sabe se um dia animar a reler?
Flávia 03/09/2017minha estante
xi... acabei de por na minha meta! confio bastante nas suas resenhas, acho que se não fosse nossa última discordância (que me fez ver q sempre haverá divergências, msm qdo há gde afinidade) acabaria por tirar... tô pra perder tempo com "livro ruim" não... ultimamente andei errando a mão com alguns livros consagrados. mas este é fininho, acho que vou encarar.




e-zamprogno 02/01/2013

Não sintonizei
Uma série de descrições delirantes de cidades -como o título diz- invisíveis, intercaladas com diálogos entre Marco Polo e Kublai Khan.
Pode ser que minha sensibilidade para o tema não esteja à altura do autor, mas simplesmente não entendi nada. Ao colega Denis cheguei a escrever:

"Parece que não entendo direito o que o autor quis dizer e, quando acho que entendo, sempre fico com a impressão que aquilo poderia ser dito de outra forma... em outras palavras, se entendo o conteúdo, não entendo as razões."

denis.caldas 02/01/2013minha estante
Destarte, não fiquei curioso em ler... Tô querendo saber como é a Trilogia do Visconde... Um abraço Emerson!




Toni 20/03/2012

Exercício de leveza
"As cidades invisíveis" será uma experiência diferente para cada leitor. Assim como o viajante experiente vê numa nova cidade todas as cidades em que já esteve, da mesma forma que todas as descrições são possíveis a partir de um único lugar, para onde cada palavra se volta ansiosa por reencontrar sua origem, "As cidades invisíveis" é um livro que contém todos os livros, ou ainda uma narrativa que parte de todas as narrativas, que se afasta e se perde delas, escrito às margens da memória. “Cada pessoa tem em mente uma cidade feita exclusivamente de diferenças, uma cidade sem figuras e sem formas, preenchida pelas cidades particulares”, de maneira análoga, cada leitor pode encontrar lá um exercício imaginativo ou um caderno de sonhos, uma proposta para o próximo milênio ou um diálogo dos mortos, um compêndio de ilusões, um labirinto de palavras, visões fantásticas, desvarios históricos, uma coisa ou outra, quiçá todas elas imbricadas. Certamente, encontrará um livro indefinível.

São narrativas imaginadas, ou que se imaginam narrarem, ou que são imaginadas narrando, ou que enfim narram imaginativamente diálogos entre o maior viajante de todos os tempos, Marco Polo, e o famoso imperador dos tártaros, Kublai Khan. O primeiro, viajante infinito, que através de símbolos e palavras é capaz de engendrar infinitas cidades para saciar a curiosidade de Khan; o segundo, soberano de um vasto império que sofre com os limites da idade avançada e a falta de limites do mundo, e busca lenitivo nas descrições de Polo que, entretanto, adverte: “jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve”.

O discurso é, pois, o ponto de transcendência da obra, que tudo comporta e tudo olvida. Nele, imprimem-se os valores que Calvino considerou fundamentais à literatura do século XX, nas conferências que compõem as "Seis propostas para o próximo milênio". Escrito com a leveza de imagens sutis e abstrações emblemáticas, é rico em formas breves que denotam rapidez, "uma mensagem de imediatismo à força de pacientes e minuciosos ajustamentos". Traz, por meio da crença na exatidão, “um projeto de obra bem definido e calculado, a evocação de imagens visuais nítidas, incisivas e memoráveis e uma linguagem que seja a mais precisa possível”. "As cidades invisíveis" é, ainda, obra de visibilidade, ao mesmo tempo instrumento de saber e comunicação com a alma do mundo, uma vasta enciclopédia que revela a multiplicidade do mundo, e faz conhecer “as redes de conexões entre os fatos, entre as pessoas, entre as coisas do mundo”. Nele, “cada objeto mínimo é visto como o centro de uma rede de relações de que o escritor não consegue se esquivar, multiplicando os detalhes a ponto de suas descrições e divagações se tornarem infinitas. De qualquer ponto que parta, seu discurso se alarga de modo a compreender horizontes sempre mais vastos, e se pudesse desenvolver-se em todas as direções acabaria por abraçar o universo inteiro” (CALVINO, Seis Propostas...).

"As cidades invisíveis" revela uma compreensão da história do mundo como o espaço do potencial, “do hipotético, de tudo quanto não é, nem foi e talvez não seja, mas que poderia ter sido”. Um texto multíplice que bebe de várias fontes, desde as "Mil e uma noites" às metrópoles hollywoodianas, substituindo a unicidade pela coexistência de várias vozes e olhares sobre a realidade. Da mesma forma que muitas cidades, nesse livro de Calvino não se encontra o paliativo que uma narrativa com início meio e fim proporciona aos escapistas; pelo contrário, dele se aproveitam as respostas aos nossos anseios de habitantes inquietos em um mundo veloz, em busca de leveza, e que, como Kublai Khan, não dispõem mais de tempo para conhecer a própria amplitude.
Hélio Rosa 02/03/2018minha estante
Tua resenha expressa aquilo que eu gostaria de ter dito sobre Calvino, essa paciente afinação entre a mão e o olho, ajustando os ideais de uma possível literatura à arte de escrever.




Marcos Bassini 28/03/2009

Um livro que não é sempre que se vê
Afinal, se em vez dos gestos exagerados, típicos dos italianos, que poderiam sugerir as mais fantásticas histórias para um espírito sedento de novidades e fantasias, Marco Polo se utilizasse dos limites da gramática para apetecer Kublai Khan, o curioso imperador mongol, será que seus relatos seriam realmente tão maravilhosos?

É com este mote que Ítalo Calvino constrói um dos mais poderosos livros do século passado, um romance que, assim como um país, é construído ao erigir-se um sem número de cidades (reais? Imaginárias?), cada uma com sua cor, cultura, pensamento e idioma. Idioma que nos une através da palavra. E que nos afasta, também por causa dela.

Uma obra-prima que se lê agradecendo pelo sucesso das aulas de alfabetização, aquelas lá, brincando até hoje no jardim de infância.



comentários(0)comente



Viviane646 18/05/2009

Sonhos Concretos
Primeiro a estranheza ao se deparar com traços rebuscados de supostas cidades tão desconhecidas, depois o fascínio de se perceber morador de qualquer palácio ou qualquer casebre que a imaginação nos levar..Com esse maravilhoso livro Calvino nos desdobra a realidade, em que constantemente interligamo-nos uns aos outros por fios invisíveis, em que somos intrigados e intrincados por metáforas e labirintos que pensávamos insondáveis, levando-nos a perceber que só somos aquilo que deixamos como herança pelo que fazemos com a matéria dos nossos sonhos.
comentários(0)comente



Hamurabi 22/10/2009

As cidades de Calvino
Ao olharmos para cidade a qual habitamos o que a nossa percepção consegue apreender? Conhecemos realmente o espaço geográfico no qual vivemos? E para além das nossas sensações o que enxergamos nas cidades? “As cidades invisíveis” de Ítalo Calvino não responde as essas questões, mas através de suas analogias estabelece um elo entre o universo de sua obra e as cidades construídas pelo homem. Em seu livro a cidade deixa de ser esse espaço geográfico no globo terrestre e é tratada como uma metáfora da complexidade da existência humana. Escrito em 1972, a obra é um retrato imagético das viagens do veneziano Marco Polo. Após voltar de suas missões no Império Mongol, o viajante se reunia com o imperador Kublai Khan para relatar-lhe sobre suas incursões, momento esse que é questionado no desenrolar do enredo do livro.
Ítalo Calvino nasceu em Cuba em 1923 e logo após seu nascimento foi para Itália, terra de seus pais. Formado em Letras, participou da resistência ao fascismo durante a Segunda Guerra Mundial, filiou-se no Partido Comunista em 1956. No ano seguinte desfiliou-se do partido. As cidades invisíveis é um dos mais conhecidos livros de Calvino e um dos últimos a serem escritos e publicados pelo autor que faleceu em 1985 em Siena, Itália. No Brasil a primeira edição da tradução dessa obra para o português é de 1990. Um dos mais importantes nomes da literatura italiana e mundial, Calvino de tradição modernista deixou 15 obras, muitas delas também traduzidas para o nosso idioma, como Os amores difíceis, O cavaleiro inexistente, Palomar entre outras.
O livro é construído através de diálogos entre Marco Polo e Kublai Khan. Divididas entre temas, as cinqüenta e cinco cidades formam arquétipos. Um modelo ideal que servem a todas e a uma única cidade, o que forma um paradoxo ao mesmo tempo em que cada cidade se torna singular. A divisão que Calvino estabelece em sua obra torna a leitura e a compreensão do enredo da obra mais interessante. Os onze temas tratados no livro se espalham entre os capítulos como se fosse recortes de uma cidade que encontram pontos de congruência uma na outra e também sua antítese ou complemento entre os tema.
É com essas dimensões da natureza humana que Calvino trabalha a sua obra. A dubiedade, a identidade, a percepção, as trocas, a perfeição, a harmonia, a desordem. Marco Polo descreve nas cidades-mulheres os espaços imagéticos traçados por ele. Se tais cidades existem a pista pode estar no livro As Viagens, em que Polo conta suas excursões no território do Oriente Médio e Ásia. Porém os nomes dados as cidades esses sim, podem nos remeter, como já dito antes a uma metáfora do ser humano. As cidades de Calvino podem não ser as mesmas de Marco Polo, mas assim como o veneziano que junto com sua família foi o primeiro ocidental a percorrer a Rota da Seda, Ítalo Calvino desbrava as cidades invisíveis que existem no interior de cada ser.
comentários(0)comente

'Dani Oliveira 24/10/2009minha estante
aff sua resenha,pra variar, deixou a minha no chinelo... ;/ auhauahu tá muiiito booa =)




Allan 01/06/2010

Na prática, Cidades Invisíveis é uma coletânea de minicontos, um para cada cidade, totalizando 55 cidades divididas em 11 temas.

O que eleva Cidades Invisíveis a um nível superior são as maravilhosas descrições de cada uma das cidades visitadas por Marco Polo. As cidades aqui descritas são fantásticas, únicas. Calvino deixou sua imaginação viajar, capturou a essência da qual são feitos os sonhos e a usou para escrever este livro.
comentários(0)comente



Silvana (@delivroemlivro) 25/11/2012

Quer ler um trecho desse livro (selecionado pelos leitores aqui do SKOOB) antes de decidir levá-lo ou não para casa?
Então acesse o Blog do Grupo Coleção de Frases & Trechos Inesquecíveis: Seleção dos Leitores: http://colecaofrasestrechoselecaodosleitores.blogspot.com.br/2012/09/as-cidades-invisiveis-italo-calvino.html

Gostou? Então também siga e curta:
*Twitter: @4blogsdelivros
*Facebook: http://www.facebook.com/ColecaodeFrasesTrechosSelecaodosLeitores

Tks!
comentários(0)comente



Lorena Morais 24/08/2010

Metaforizando Calvino
No ano de 1923 nasceu em Santiago de Las Vegas, Cuba, um dos maiores escri-tores da literatura contemporânea do século XX. Italo Calvino, filho de cientistas italianos, acabou nascendo na América Latina devido às constantes viagens realizadas pelos seus pais, porém passou toda a sua vida na Itália. Tendo escolhido percorrer outros caminhos matriculando-se na escola de Agronomia, o desenrolar da II Guerra Mundial acabou levando Calvino a desistir do curso e participar da resistência ao fascismo.
Decidido pelo curso de Literatura, após a guerra o escritor inicia seu fascínio literário em 1947, escrevendo sua primeira obra intitulada Sentiero dei Nidi di Ragno (O Caminho para os Ninhos de Aranha), que é inspirada em sua participação na Resitência. Mas foi a partir dos anos 50 que Calvino passou a escrever obras que o tornariam famoso internacionalmente. Dentre elas está Le città invisibili, livro de 1972 - o qual me refiro nessa resenha - traduzido para o português As cidade invisíveis, por Diogo Mainardi.
Que faria Kublai Khan – rei de um grandioso império tártaro – para conhecer os territórios do seu reino? Ele se daria ao luxo de deixar seu belíssimo e confortável trono do palácio de Kemenfu para conhecer cidades tão distantes? Enfrentaria tempestades, subiria morros, atravessaria rios?
Aí é que entra Marco Polo – o famoso viajante veneziano saiu das histórias da vida real para navegar no universo ficcional de Italo Calvino. Polo é um dos enviados encarregados de visitar as cidades do reino e descreve-las em suas missões diplomáticas. As cidades invisíveis, relatadas através de toda uma simbologia do diálogo sem palavras, porém baseados em gestos que o grande Khan consegue compreender.
A história vai muito mais além do que descrições geográficas. Ela proporciona a quem lê uma visão mais apurada e complexa das relações entre os seres humanos. Marcos expõe as cidades de uma maneira que não nos faz imaginar como são feitas e sim de como nos sentirmos perante cada descrição.
O livro é composto por nove capítulos que narram os caminhos do viajante pelas cidades. Sem seguir uma trajetória linear, o leitor pode viajar pelas entrelinhas de qualquer capítulo sem se fazer necessário prender-se a uma ordem cronológica. Cada cidade possui um título relacionado à temática apresentada; como A cidade e a memória, referente à espetacular Diomira, que nos faz rememorar momentos felizes; As cidades e os mortos, da Argia que vive debaixo da terra ou As cidades e o céu contemplado ao fim do dia, na cidade de Tecla. Tantas outras cidades que nos faz viajar pelo reino das palavras.
Com uma linguagem bastante rebuscada, Calvino desafia o leitor através de suas metáforas surpreendentes. À medida que o mesmo vai adquirindo maturidade pode-se abarcar com mais facilidade na invisibilidade sensitiva do autor.
A leitura pode não agradar devido à linguagem utilizada pelo autor, contudo não se torna cansativa, por ser dividida em capítulos compostos de pequenos relatos.
Há um fato curioso que muitas vezes foge a nossa percepção: todos os nomes das cidades são nomes femininos. Que diria isso, então? Pode-se afirmar que Calvino quis relacioná-las às antigas cidades que também possuíam nomes de mulheres, de deusas. Como a cidade de Atenas - da Grécia antiga -, relacionada a Atena, deusa da sabedoria e das artes. A figura feminina soa como protetora das cidades, como ocorre na maior parte das cidades católicas, devotas de padroeiras. Esta seria mais uma das metáforas elaboradas pelo escritor, que, no entanto, deixou a critério da imaginação de quem penetra na narrativa.
Possa ser que dentro de cada cidade visível – de asfalto e concreto – exista uma cidade invisível repleta de significações. Nos diálogos entre os habitantes, na árvore da esquina, na criança abandonada, na localização do banco da praça, no cachorro deitado a uma sombra qualquer. Cidades invisíveis que nos ensina não a aproveitar suas maravilhas, mas a encontrar respostas dadas às nossas perguntas.

Por Lorena Morais
comentários(0)comente



180 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR