lucyinmars 05/09/2011Lovecraft - escrito em 11/09/10Algumas semanas atrás fui até a uma livraria pouco movimentada, na esperança já fracassada de encontrar livros sobre Karl Marx. Ao invés disso encontrei duas pilhas enormes com temas filosóficos, que iam desde Baudelaire a Goethe. Revirei bem as pilhas e, no meio disso tudo encontrei dois autores que eu ansiava muito em ler: Lovecraft e Poe. Como amo escritos do século dezoito, não pude deixar de lamentar os demais títulos que não pude comprar. Os contos góticos são realmente minha paixão!
Gastei cinquenta reais nos livros e encomendei o infeliz livro de Marx, O Capital, que eu estava com vontade de ler desde que havia eu participado de uma palestra sobre as teorias do mais-valia e do fetichismo de mercadoria. Assim, voltei lá uma segunda vez, de lá saí e com mais dois livros debaixo do braço; desta vez de Nietzsche e Marx, ainda que não fosse exatamente os livros que eu precisava.
Destes livros concluí de ler apenas o de Lovecraft, que reunia alguns contos e tão comentado O Chamado de Cthulhu.
No começo da leitura tive muita dificuldade com a linguagem extremamente rebuscada e nada objetiva do autor, com frases intermináveis que se lidas em voz alta tiram todo o nosso fôlego. Como resultado negativo tenho eu mesma escrevendo à estilo Lovecraft.
Pois bem, continuando minha crítica posso citar aqui que no final da minha leitura, principalmente nos dois últimos longos contos, comecei a sentir uma dor no coração como efeito colateral que se deveu a mania do autor de em rigorosamente todo o conto deixar apenas a grande revelação para as duas últimas linhas.
Certos padrões que percebi em seus contos, que os tornam previsíveis e pobres, apesar de variarem de tema, são que todos os que li envolverem alguém morto, ou que vai morrer, ou seja, a morte em si. O medo, como o próprio autor menciona. A arte também torna-se padrão entre os protagonistas, como o violinista de "A Música de Erich Zann", o pintor de "O Modelo de Pickman", e o também pintor e escritor de "O Assombro das Trevas". Todos, praticamente todos trazem como objeto de medo algum ser inominável, geralmente rastejante e vindo das profundezas do mar, como Dagon e Cthulhu. Citação de artistas e escritores de admiração de Lovecraft são citados aos montes em seus contos. "Ar Frio' e " A Música de Erich Zann" são praticamente iguais, suas diferenças sendo apenas os perfis dos estranhos homens que viviam no andar de cima do cortiço em que o protagonista vivia.
Gostei particularmente de O Modelo de Pickman, que retrata o modelo que um pintor usava para compor suas estranhas obras em seu estúdio escuro e estranho, lugar este onde pintava cenas primitivas e atuais da vivência de estranhos e alienígenas seres que habitavam o poço do porão da pequena casa que alugou.
O Chamado de Cthulhu, tão aclamado conto de Lovecraft, foi o que mais deu dor-de-cabeça para mim. Não que seja ruim, mas para um conto sua extensão em páginas foi um tanto quanto cansativa (36 páginas) e um palavreado cada vez mais cansativo e subjetivo. Eu realmente ansiava pelo fim da maldita história que nunca se dava e já me via desistindo de ler na terceira página após o início da leitura. Foi terrível concluí-lo. Eu parava de parágrafo em parágrafo, com a mente cansada de ter de processar e relacionar tantas palavras em uma única frase. Como já li Machado de Assis e não vi severas dificuldades depois de ler as dez primeiras páginas, pensei que com os contos de Lovecraft daria se o mesmo. Mas não. Quando conclui o livro meus olhos até agradeceram pelo fim da torturosa leitura.
O conto O Chamado de Cthulhu nada mais é do que todos os padrões de Lovecraft reunidos em um único só conto. Começa com um sobrinho falando de anotações de um tio já morto, e assim começa uma narrativa de fatos descritos no diário deste mesmo tio. Fatos que puxavam para outros fatos mais antigos, e assim eu já me via perdida na história, sem saber de que ano estavam falando.
O sobrinho resolve investigar e relacionar os fatos e anotações deixadas pelo tio, a fim de descobrir o motivo que fez tantos artistas e homens sensíveis enlouquecerem e sonharem com as palavras "Cthulhu fhtagn" durante os dias 22 de Março e 2 de Abril. Já desistindo das investigações, ele encontra por acaso uma reportagem da Austrália, que falava de um ataque marítimo e de um sobrevivente abalado pscicológicamente. Além disso, havia como anexo a matéria a foto do ídolo de pedra que o jovem sobrinho já tão bem conhecia, e logo ele foi para Sydney em busca de informações. Lá pouco encontrando, descobriu que o tal homem voltou para a Nova Zelândia com sua esposa e que lá agora vivia. Viajando mais uma vez e descobrindo que o tal homem havia morrido logo depois do acidente marítimo, conseguiu com a mulher um manuscrito em que o marujo detalhava todo o ocorrido. Pouco havia ele falado para a polícia, por não querer parecer louco. Mas ele e sua tripulação haviam entrado em combate com uma escuna de mestiços, a caminho de uma estranha ilha. Matando todos os estranhos homens por auto-preservação, dirigiu-se ao lugar onde os mestiços pretendiam chegar, e se depararam com uma gosmenta cidade ciclópica, e logo atiçaram-se de curiosidade pelo que havia por trás da porta cheia de hieróglifos. Abriram-na, libertando o temível Cthulhu, o que na verdade era a missão dos mestiços ao se dirigirem para aquele local, uma vez que as estrelas estavam alinhadas para o mesmo pudesse andar sobre a Terra mais uma vez. Apenas o marujo e mais um homem escaparam da fúria do enorme monstro de cabeça de polvo, corpo e garras de dragão e asas de morcego, escapando para a escuna e navegando mares à fora. E depois disso, supôs-se que a cidade ciclópica afundou mais uma vez, para esperar o próximo alinhamento das estrelas. Pois se não assim, diz o protagonista, o mundo já estaria decaído pelo caos total.
Um fim tanto que brusco, sendo que em minha opinião seria de mais valia se o autor esticasse mais a escrita, mesmo que se fosse para fazer um livro, e retratasse o mundo decaindo sobre as maldades de Cthulhu, e mostrar seu verdadeiro poder e força, um verdadeiro final - ou continuação - góticos. Pois o estilo gótico para mim é aquele em que os finais não são nem de longe felizes, ou acomodados, como o caso deste. Para todos os efeitos, o final foi feliz, porque o terror maior seria o que o tio falecido mais temia, a ressureição de Cthulhu sobre a Terra, e desta vez eternamente, a destruindo completamente.
Apreensiva foi a leitura interminável e rebuscada, e não o terror causado pela história, que foi completamente previsível e com um final sem graça e acomodado.
Longe de mim ofender os adoradores de Lovecraft, não teria eu me arriscado em uma leitura destas se não tivesse profunda admiração pela sua escrita. Acredito que não se pode ter uma opinião formada do que não se sabe, e por isso vi-me diante do desafio de analisar suas obras expostas no livro que adquiri a algumas semanas atrás. Acho O Chamado de Cthulhu realmente um conto exímiamente bom, considerando o ano em que foi escrito em relação a atualidade.
Recomendo a quem queira ler contos de Lovrecraft iniciarem por este, pois assim no momento em que a leitura se tornar cansativa vocês já terão lido a obra-prima deste autor, assim não agravando tantos pontos negativos deste mesmo conto como eu.