livrosepixels 11/05/2018Estamos sós?Imagine a seguinte situação: um belo dia, tudo aquilo que você sabe sobre ciência, fé, religião e, principalmente, vida, se mostra incorreto, incompleto, ou até mesmo, sombrio. É por esse caminho que trilha a narrativa de Sombra do Paraíso. O paraíso sempre existiu, mas esteve o tempo todo ocultado pelas sombras da nossa própria ignorância.
Há algum tempo eu tenho voltado minha atenção mais para livros de ficção científica do que outros gêneros, e tenho notado que muitas das histórias que leio se parecem mais do mesmo. Entretanto, os autores David e Michael conseguiram apresentar uma história plausível, com um bom suspense e muitas, muitas críticas, filosofias e perguntas que ficam na cabeça mesmo dias depois de completar a leitura. Tem pequenos clichês, claro, mas em grande parte, tudo é novidade e misterioso.
“Era por isso que ele tinha estudado estrelas e planetas… por isso ele tinha se tornado um astronauta. Para aprender os segredos do universo… para ver novas maravilhas.”
Aqui vamos conhecer o personagem Zack Stewart, comandante da nave Destiny-7, da Nasa, e sua equipe. O objetivo da missão é pousar em Keanu e pesquisar sua origem, geologia e composição química. Será um grande marco histórico na história da cultura americana desde o pouso na Lua. Porém, a cabeça do personagem ainda estava presa na Terra. Como é apresentado através de flash-backs logo no início da trama, três anos antes, no dia em que foi convocado a comandar a missão, sua esposa Megan e filha Rachel sofreram um acidente de carro. Megan não resistiu e morreu. O relacionamento de Rachel com o pai não era muito bom, e após a tragédia ficou um pouco pior. Agora, diante da missão, Stewart se pergunta se um bom pai não teria recusado a missão e ficado com a filha na Terra.
Já não o bastante, Stewart também precisa lidar com o conflito político que a missão gera. A Coalisão é um rival em potencial e que também enviou uma nave tripulada para pousar em Keanu. Ambos estão em uma corrida para ver quem chega primeiro. Está nas mãos do comandante honrar sua pátria e colocar os EUA mais uma vez no pedestal da conquista espacial. Caso não consiga, não só a Coalisão chegará primeiro, como fará os países membros serem vistos com mais respeito e candidatos a investimentos futuros. Mas nem tudo são flores e logo o que parecia ser uma missão científica tranquila se tornará um grande pesadelo.
Keanu esconde um segredo milenar e que pode balançar os pilares da ciência moderna. O que as missões da Nasa e da Coalisão descobrem lá vão intensificar os debates científicos em todo o planeta Terra, e muitos dos conceitos aceitos como leis universais precisarão ser revistas. O conflito político aumenta, e o caos social pode se instalar a qualquer momento. Orações religiosas se intensificam. O que era para ser uma nova corrida espacial se torna uma corrida pela vida. Interessante notar que quando o livro entra nesse ponto dos conflitos, ele assume o seu lado mais “filosófico” e a todo momento fui bombardeado com perguntas que me levaram a muitos becos sem saída. O drama vivido pelos personagens começou a transcender a história e aos poucos eu estava me sentido aflito com eles. O suspense paira fortemente e cada passo pode ser de vida ou morte.
“Não sei qual dos dois é pior, Houston ou Bangalore. É como se um cone gigante de silêncio tivesse descido sobre ambos os centros. Alguma coisa de muito errado aconteceu com as missões a Keanu e NINGUÉM FALA!”
Os capítulos vão alterando, sem uma ordem necessária, mostrando o que acontece em Keanu e na Terra, nas agências da Nasa e da Coalisão. No início de cada capítulo, também, há epígrafes narrando de forma curta eventos que acontece além das agências, como por exemplo, o comentário de algum internauta que acusa o governo de conspiração, uma matéria de jornal que afirma a chegada do apocalipse, entre outros. Em meio aos conflitos, alguns dos personagens em Keanu se aproximam dos “rivais”, enquanto outros preferem manter a disputa em pé. Ao mesmo tempo, aqui na Terra vemos a transformação da personagem Rachel, que antes não via o pai com bons olhos, mas diante dos novos eventos, passa a entendê-lo e a respeitá-lo mais.
O livro tem um ritmo bom, mas chegou em um momento em que começou a declinar e se tornar cansativo. Para quem já viu o filme Prometheus, vai notar uma grande similaridade em alguns detalhes, como nomenclaturas, desenhos, objetos, ambientação, entre outros. Pode ser apenas coincidência, mas a imagem do filme fica bem vívida na mente. Outra questão que torna o livro um pouco tedioso para perto do final é que de uma hora para outra, os personagens param de descobrir as coisas em Keanu. Acontece uma pequena reviravolta na trama e a partir desse ponto, as surpresas são entregues aos personagens. Todas as perguntas que o enredo poderia ir respondendo aos poucos, são resolvidas em duas linhas de forma direta. Não tem descoberta, apenas a resposta já pronta sendo oferecida.
“O esforço sobre-humano não vale nada, a não ser que atinja resultados.”
É um pouco complicado tentar falar muito desse livro sem correr risco de spoilers, pois a premissa é bem curta, e o resto da trama faz parte de todo o “grande show”. Mas como eu disse no começo, as descobertas em Keanu vão contestar religião, ciência, política e a própria existência do ser humano. É uma longa jornada de conhecimento, então não espere ler este livro em busca de uma aventura espacial ou guerra estelar. A ficção científica se faz bastante presente, e há muitos termos astronômicos, físicos e políticos ao longo das páginas. Assim, é necessário ler cada linha com o grande atenção para não deixar nenhum detalhe importante passar.
A edição está bem adequada trazendo no começo imagens das naves usadas pela Nasa e pela Coalisão, um Dramatis Personae, que é uma seção que lista quais são os personagens atuantes e suas respectivas funções dentro da história e também no final do livro há um glossário contendo todos os termos técnicos, siglas e abreviaturas utilizadas. A capa está muito bonita e o papel é agradável de ler. Sem dúvida, um belo exemplar de ficção científica para se ter na estante.
Se você gosta de sci-fi com temas mais profundos do que apenas aventura, vai gostar de ler Sombra do Paraíso. É uma grande viagem espacial e que é capaz de misturar de forma crível elementos da imaginação com a nossa realidade. É um convite a descobrir novos horizontes e a expandir a mente para uma conscientização global de que, por mais avançados tecnologicamente sejamos, ainda temos muito a aprender sobre nossa própria existência dentro do universo.
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http://resenhandosonhos.com/sombra-do-paraiso-david-s-goyer-e-michael-cassut/