spoiler visualizarthai :D 09/06/2024
O que dizer da escrita de Phillip K. Dick?
Fui muito surpreendida pela obra, sobretudo por não comumente gostar de ficção científica.
A construção do universo cyberpunk pelo autor é primorosa, nos mostrando seus diversos elementos ao longo da narrativa, com uma descrição bem elaborada e, ao mesmo tempo, pessoal para as personagens que protagonizam cada capítulo, ou seja, Rick Deckard e J. R. Isidore.
Creio que muitos leitores fiquem encantados com o pioneirismo do Phillip nesse estilo pós-apocalíptico, ou mesmo com os elementos de robótica, porém, duas coisas centrais chamaram minha atenção durante a leitura: empatia e mercerismo.
Para que isso faça sentido, é importante saber que o autor escreveu essa obra enquanto fazia suas pesquisas para o livro "O homem do castelo alto", uma distopia do que seria o mundo caso a Alemanha nazista e o Japão imperial houvessem vencido a Segunda Guerra Mundial. No meio de seus estudos, ele encontrou relatos de generais alemães que alegavam estar tendo problemas para dormir por conta do barulho das crianças famintas.
Essa falta de empatia apresentada pelos solados impele Phillip a escrever os andróides e seus caçadores sob essa perspectiva, ligados pelo conceito de "empatia" ao mercerismo, sistema religioso presente na Terra.
Seriam os andróides e os especiais de fato formas de vida "inferior", ou será que os caçadores de recompensa não seriam aqueles desprovidos da real humanidade?
"Andróides sonham com ovelhas elétricas?" responde essa pergunta e propõe muitas outras: o papel - e o valor - do sofrimento, a relevância da natureza e das relações interpessoais, a sedação que administramos a nós mesmos apenas para lidar com a realidade e tantas outras.
Após finalizar a leitura, só me resta um questionamento: humanos sonham com ovelhas elétricas ao ponto de produzirem andróides?
Bem, o futuro que nos dirá.