Rav 30/09/2014Swimming at night Me interessei por esse livro pelo fato de começar pelo fim. No caso, a morte de uma das protagonistas. (Não é spoiller, porque isso consta nas primeiras páginas). Fala sobre a complexidade dos laços familiares, a morte, o luto e sobre como cada um lida com as dores do caminho.
Amo narrativas que buscam fugir do lugar comum e gostei de tê-la sob o olhar das duas irmãs, divididos e intercalados nos capítulos. Acho que seria ainda mais perfeito se fossem escritos em primeira pessoa, mas apesar de se dar em terceira pessoa, a autora permite trazer à tona os pensamentos das personagens. Enfim, o fato é que Lucy Clarke conquistou meu coração e esse livro tornou-se um dos meus preferidos.
De modo singelo e profundo, as relações humanas em suas complexidades evocam os conflitos internos de cada indivíduo para assim compor às crises e teias formadas no contato com o outro. Um dos diálogos marcantes, na minha opinião, se dá entre Mia (a irmã que morre no início da história) e Jaz (personagem coadjuvante):
"_ Você tem uma irmã?
_ Tenho.
_ Então você conhece um pouco sobre o amor e um pouco sobre o ódio.
Mia abriu a boca para falar, mas voltou a fechá-la. Jez estava certo: às vezes a linha entre os dois sentimentos é tão tênue que é difícil enxergar de que lado se está." [pp. 290]
Quem tem a chance de dividir a vida com um irmão sabe o poder que essa outra parte de você tem para despertar o amor, afeto e desejo de proteção; e o quanto paradoxalmente, esse mesmo ser, te conhece o suficiente pra fazer exatamente tudo o que pode para causar dor, mágoa e ódio, às vezes. Mais do que a questão entre irmãos, esse livro traz à tona a humanidade de seus personagens e o dilema que todos sentem em relação ao "e se fosse eu tivesse feito diferente..." e o quanto isso nos aflige diante de escolhas tomadas e imutáveis. O tempo, que é implacável na vida, mostra seu poder nessa narrativa.
A fragilidade dos personagens vem à tona em ondas, mostrando que, assim como na vida, ninguém é mocinho ou bandido o tempo todo. A dinâmica que conduz a trama é composta por pontos de interrogação que se dissolvem à medida que novos questionamentos surgem.
O efeito erosivo do tempo faz lembranças emergirem e transforma expectativas de um futuro sólido em meras projeções. Como na vida, os tempos verbais se entrelaçam a todo momento, obrigando-nos a continuar remando e se reinventando a cada mudança da maré.
Alguns livros trazem consigo a escolha de sentar na areia e apreciar a obra ou permitir-se mergulhar e sentir a profundidade e os riscos de ser atravessado por uma história.
Cuidado pra não se afogar.
"_ E onde você é feliz?
Os marulhos das ondas tornaram-se suaves murmúrios do ser amado.
_ Perto do mar." [pp.110]