Karini.Couto
24/07/2023Arrebatador"Você pode fechar os olhos para as coisas que não quer ver, mas não pode fechar o coração para as coisas que não quer sentir."
Aquele livro que é uma montanha russa de emoções conflitantes, e que promete deixar qualquer leitor refletindo por muito tempo após o término da leitura. Esse enredo levanta um assunto delicado que é o relacionamento entre irmãos de sangue, mas não fraternal. Um tabu, algo que de início, soa absurdo, mas que a autora consegue nos deixar completamente rendidos e ao mesmo tempo em desespero com tanto amor e sofrimento que transborda das páginas.
Lochan e Maya são irmãos de sangue, porém eles não tem uma criação comum, eles mesmos se criam e criam os irmãos mais novos, fazendo o papel de pai e mãe, já que seus pais, não estão presente.
"Como foi o seu dia, amorzinho?
Esboço um sorriso irônico.
- Foi ótimo, mãe. Como sempre
- Maravilha! Ela exclama, preferindo ignorar o sarcasmo na minha voz.
Se há uma coisa que minha mãe é mestra é cuidar da própria vida.
- Em um aninho, aliás, menos, você vai ficar livre de toda essa baboseira da escola.
- Seu sorriso aumenta. - E em breve vai finalmente fazer dezoito anos, e se tornar
o homem da casa!
Encosto a cabeça no batente da porta. O homem da casa. Ela me chama assim
desde que eu tinha doze anos, quando meu pai foi embora."
Lochan é o irmão mais velho de cinco, e claro, diante a falta de pais que o criasse e a responsabilidade que desde cedo assumiu em relação aos seus irmãos e à casa, ele é um jovem ressentido que tem fobia social. Seu relacionamento se resume à sua própria família, o que inclui Maya, sua irmã, com a qual divide as responsabilidade de criar os irmãos mais novos e cuidar das responsabilidades de uma casa, alimentos para os irmãos e todo tipo de cuidado que adultos deveriam se responsabilizar e dessa forma, eles evitam o conselho tutelar, que sejam separados e continuem a ser uma família.
Lochan não tem amigos e é visto como esquisito, sempre calado e isolado, e não consegue sequer falar com os professores sem gaguejar. Mas em casa Lochan é um grande irmão, ou seria um grande pai? Pois juntamente com sua irmã, Maya (16 anos), ele cuida de seus irmãos mais novos, Kit, Tiffin e Willa.. Está sempre revezando tarefas domésticas com Maya, lavando, passando, cozinhando, fazendo compras.. Se preocupando em cobrar a mãe dinheiro para manter a família. Ele é um jovem muito tenso, que a todo instante respira preocupações.
"Meus irmãos podem me deixar doido às vezes, mas são meu sangue.
São tudo que já conheci. Minha família sou eu. É a minha vida. Sem eles, eu caminho pelo planeta sozinho."
Maya é doce, gentil e um elo entre Lochan e Kit (pré adolescente), que já demonstra sinais de revolta diante o abandono e descaso por parte de seus pais! Maya cuida de todos como mãe e apesar de ter uma melhor amiga na escola (Francie) e não ter problemas de se relacionar com os outros, ela não faz coisas que meninas da sua idade costumam fazer, pois ela está sempre correndo da escola para casa, já que tem de cuidar dos seus irmãos. Apesar de ela demonstrar cansaço, tanto quanto Lochan, em momento algum ela pensa em não cuidar de seus irmãos ou os abandona.
"Nunca antes imaginei minha vida sem ele; com essa casa, ele é o meu único ponto de referência em meio a uma existência difícil, em meio a um mundo instável e assustador. A ideia de ele ir embora me faz sentir um terror tão extremo que chego a ficar sem fôlego.
Eu me sinto como uma daquelas gaivotas cobertas de petróleo após um vazamento, me afogando em num mar negro de alcatrão e pavor."
O enredo é tocante de muitas formas com reflexões sobre família, laços de sangue, responsabilidade afetiva e parental, transtornos causados por situações impostas por quem deveria ser protetor e garantidor do bem estar, além de tantos assuntos relevantes e importantes.
Intenso, arrebator e me arrancou muitas lágrimas e me deixou com o coração partido e ao mesmo tempo tranquilo, pois ao final, temos despedidas, mas também possibilidades para novos começos, novas oportunidades.
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