alinenotalien 21/02/2020
Aviso: esse livro pode desgraçar a sua cabeça!
"Como o nosso amor pode ser considerado horrível, quando não estamos fazendo mal a ninguém?" (Maya, cap. 12)
Antes de tudo, gostaria de deixar claro que essa resenha irá conter alguns spoilers, então leia por sua conta e risco, ok?
Não sei nem por onde começar a falar sobre Proibido, da Tabitha Suzuma. Acredito que seja impossível falar sobre esse livro em apenas uma única resenha. Esse livro surgiu na minha vida num simples grupo sobre livros no WhatsApp, gerou um alvoroço enorme por conta da polêmica. E agora, tema de um grupo de leitura coletiva, acabei lendo, mesmo com todos os avisos sobre os tabus, polêmicas e o quanto esse livro iria desgraçar minha vida. Literalmente.
Em Proibido, acompanhamos Maya e Lochan, dois irmãos consanguíneos que se apaixonam. Sim, incesto, meus queridos. Isso é polêmica e tabu suficiente pra vocês? Porque pra mim é, com toda certeza. E com certeza você deve estar pensando "poxa vida, é aí que começa a desgraça, né?", que foi o mesmo pensamento que eu mesma tive. Longe disso. Maya e Lochan vem de um lar, uma família destroçada. Abandonados pelo pai, a mãe é uma alcoólatra que também os abandona por pura irresponsabilidade e imaturidade. Situação complexa, não?
Juntos, Lochan e Maya tem que cuidar de outros três irmãos menores: Kit, Tiffan e Willa. Tabitha soube muito bem caracterizar toda a problemática de um lar destruído, do abandono e irresponsabilidade dos pais. Ao longo de todo o livro, eu nutri um profundo ódio por essas duas figuras paternas.
Lochan e Maya foram obrigados a amadurecer rápido demais. Desde cuidar das crianças, da casa, até mesmo mentir para as autoridades simplesmente para não serem separados e encaminhados à um lar adotivo. Nesse contexto, durante a leitura, eu me pegava pensando que Maya e Lochan foram mais os pais dos outros 3 irmãos do que aqueles que os colocaram no mundo. Então, pra mim, não foi realmente um choque que eles tivessem se apaixonados e querido ficar juntos. Eles encontram um abrigo um no outro e em determinado momento eu passei a torcer para que eles ficassem juntos, que a relação deles fosse aceita, mesmo minha consciência dizendo que aquilo era errado, era bizarro.
"Mas como explicar ao mundo exterior que Lochan e eu somos irmãos apenas por causa de um acidente biológico? Que nunca fomos irmãos na acepção da palavra, mas sempre parceiros, tendo que criar uma família real à medida que crescíamos? Como explicar que jamais senti Lochan como irmão e sim como algo muito, muito além disso — minha alma gêmea, meu melhor amigo, parte das próprias fibras do meu ser? Como explicar que essa situação, o amor que sentimos um pelo outro — tudo que aos olhos da sociedade pode parecer doentio, pervertido, repulsivo —, para nós é totalmente natural, maravilhoso e... tão certo?" (Maya, cap. 22)
Você deve estar pensando "que nojo, incesto sendo romantizado", mas calma lá, meu jovem Padawan! O casal aqui tenta a todo custo renegar seus sentimentos, porque pra eles mesmo é visto como algo errado e nojento. E é interessante ver esse conflito entre eles, porque reflete e muito o conflito do próprio leitor ao ler esse livro. O conflito sobre o certo e o errado está presente a todo momento, e você só irá compreender isso ao ler Proibido. O segredo pra ler esse livro é ir totalmente com a mente aberta, do contrário a leitura não vai rolar. Fica a dica pra quem tem interesse em adicionar essa obra na lista, taokey?
Proibido é um livro intenso, dramático, polêmico e difícil de digerir. As cenas de desespero de Lochan, os conflitos de Maya, as crianças sendo ignoradas e desprezadas pela própria mãe; cenas onde Maya e Lochan odeiam e sentem repulsa de si mesmos pelos seus sentimentos são dolorosas demais. Intensas demais. Preparem-se para chorar muito durante vários capítulos, mas principalmente com o final, que foi o que mais me quebrou emocionalmente.
Tabitha Suzuma escreveu um livro que muda as pessoas, que as deixa em puro conflito. Que mostra que nada é o que parece. Proibido, apesar de, pra mim, ser um livro incrível e ter virado um de meus favoritos, não é um livro que eu indicaria para qualquer pessoa. Se for retirá-lo de sua estante, leia sem julgamentos, sem preconceitos. Estejam com a mente aberta. Esta é a única maneira de usufruir da leitura desta obra.
"(...) por que é tão terrível assim que eu fique com a mulher que amo? Todo mundo tem o direito de fazer o que quiser, de expressar seu amor como bem entender, sem medo de assédio, ostracismo, perseguição ou mesmo a lei. Até relacionamentos emocionalmente violentos e adúlteros costumam ser tolerados, apesar do mal que causam aos outros. Na nossa sociedade progressiva e permissiva, todos esses tipos de "amor" daninhos e doentios são permitidos — mas não o nosso. Não consigo pensar em nenhum outro tipo de amor que seja tão rejeitado, embora o nosso seja profundo, apaixonado, generoso e forte a tal ponto que uma separação forçada nos causaria uma dor intolerável. Estamos sendo punidos pelo mundo por uma única e simples razão: o fato de termos sido gerados pela mesma mulher." (Lochan, cap. 23)