O EGÍPCIO

O EGÍPCIO Mika Waltari




Resenhas - O Egípcio


30 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Adri Ramalho 07/11/2011

O herdeiro
Trata-se de uma história forte e um cenário triste, cru e insano.

Sinuhe foi um bebê abandonado em um cesto de vime rio abaixo. Foi uma criança muito esperada por um casal sem filhos. Foi um adolescente interessado em aprender. Foi um jovem médico usurpado de seus bens em busca do amor. Foi um médico real. Foi um assassino real.

Sinuhe nos descreve todas as sangrentas batalhas que ocorreram no Egito, Síria e Gaza. Através de seus relatos conhecemos os sanguinários líderes de diferentes povos.

Sinuhe encontra o amor através de Medéia, uma sacerdotisa prometida ao deus de Creta – o Minotauro. O labirinto descrito é medonho, o Minotauro é assustador e o fim de Medeia é revoltante.

Mérito é a pessoa que surge como ponto de equilíbrio para Sinuhe. Uma mulher amorosa e mãe do filho de Sinuhe, Thoth. Mérito e Thoth se tornaram vítimas mortais da revolta entre os deuses Ammon e Aton, revolta encabeçada pelos sacerdotes.

Li como Tutankhamon foi coroado Faraó e também o fim desse curto e inocente reinado.

Eu sofri com os desencontros de Sinuhe. Afligi-me com as mortes. Espantei-me com o amigo, comandante e futuro Faraó Horemheb.

Horemheb jovem, idealista e fervoroso foi apaixonante.

Horemheb comandante dos exércitos dos Faraós Amenhotep III, Akhnaton e Eie foi forte, corajoso, manipulador e competente.

Horemheb homem foi desprezado pela herdeira do trono, tornando-se cínico.

Horemheb Faraó foi solitário.

Li sobre o nascimento de Ramsés.

Todo o momento é relatado o poder dos sacerdotes de diferentes e diversos povos em embutir crenças e deuses. Vi como o ódio entre nações surge e é alimentado por mentiras. Li que não importa quem governe porque sempre é o povo que arca com o ônus de manter uma nação, de financiar uma guerra e de sustentar um estandarte.

Ao menos eu conheci Kaptah, o escravo de Sinuhe. Kaptah foi o porto seguro de Sinuhe, foi o cérebro da missão, foi a pessoa sempre presente na vida de seu amo. Os diálogos de Kaptah são envolventes, hilários e comoventes.

Mesmo sabendo tratar-se de um personagem inserido em um contexto histórico real, eu ansiei por um final diferente. Ansiei por um final mais brando para Sinuhe - o herdeiro do trono.

Ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii de paixão. Estou inclinada a ler sobre Ramsés.

Bjsss
Maria 08/11/2011minha estante
Que resenha maravilhosa e apaixonante! Não dá, depois de lê-la, de deixar de ler este livro.


Sueli 08/11/2011minha estante
Adriana que resenha maravilhosa!!!! Eu fiquei extremamente comovida com suas palavras, pois "O Egípcio" sempre foi um de meus livros preferidos e, depois da sua resenha, vou voltar a lê-lo com mais entusiasmo ainda...E, caso vc queira realmente, tenho todos os volumes de Ramsés, é só me dizer que eu mando para você! Parabéns!
Vou adorar esperar pela sua próxima resenha!


Adri Ramalho 08/11/2011minha estante
Aiiiiiiiiiii, meninas, Sueli e Maria, vocês são uns amoressssssssss.
Esse livro é muito bom.
Céussss, Ramsés está em vários livros?????
Bjssss


Clea Counago 03/06/2021minha estante
Adorei sua resenha, achei-a super fiel a história , parabéns! O Egípcio é um dos meus livros favoritos,. Eu que amava o Egito Antigo fiquei ainda mais apaixonada.


Leonardo Cesare 30/12/2021minha estante
Definitivamente este livro está no meu panteão de melhores livros já lidos. Recomendo também 'o romano' do mesmo autor.




Leila de Carvalho e Gonçalves 17/07/2018

No Tempo Dos Faraós
Mika Waltari (1908-1979) é o maior escritor finlandês. Entre seus sete romances históricos, O Egípcio destaca-se como o mais conhecido e já foi traduzido para mais de 40 idiomas.

Abordando a corrupção e a decadência dos valores morais, esse livro foi publicado em 1945, no final da Segunda Guerra. Indubitavelmente, uma ocasião bastante propícia, porém, a atemporalidade do tema mantém o interesse e garante frescor à narrativa.

Mediante um exaustivo trabalho de pesquisa, Waltari se inspirou numa das obras mais populares da literatura do Antigo Egito, Aventuras de Sinuhe, um funcionário da corte que teria vivido no tempo dos faraós da XII Dinastia e cujos relatos de viagem forneceram a mais antiga descrição sobre a Síria e a Palestina. No entanto, o autor resolveu transferir sua história para a XVIII Dinastia, particularmente, para a época do Faraó Amenófis IV, um importante período da história da Antiguidade.

Seu protagonista também se chama Sinuhe e é um médico. Já velho, ele vai contando sua vida, desfiando um rosário de intrigas, mortes e guerras, entrelaçadas a uma boa dose de ódio e paixão. A narrativa mescla ficção e realidade e eviscera com crueza o dia a dia dessa misteriosa civilização, aliás, o escritor é mestre na reconstrução do passado: O Anjo Negro, considerado sua obra-prima, exibe um importante retrato da Queda de Contantinopla em 1453.

O Egípcio foi adaptado para o cinema em 1954, mas o filme, dirigido por Michael Curtiz, deixa muito a desejar. Merece destaque apenas a atuação de Peter Ustinov como Kaptah, o servo do protagonista.

Finalmente, essa história marcou profundamente minha formação como leitora. Foi uma divisora de águas entre as adaptações dos clássicos para o público infanto-juvenil e os policiais de Agatha Christie que marcaram minha adolescência. Cinco estrelas e das mais saudosas.
Carlos Nunes 21/12/2020minha estante
Esse livro é excelente! Acabei de publicar um vídeo falando de dois outros livros dele: O ROMANO e O SEGREDO DO REINO.


Leila de Carvalho e Gonçalves 22/12/2020minha estante
Não li. Seu vídeo foi publicado no YouTube?


Carlos Nunes 22/12/2020minha estante
Tá aqui o link: https://youtu.be/1taBCszZeQE


Leila de Carvalho e Gonçalves 22/12/2020minha estante
Grata, vou assistir.


Leila de Carvalho e Gonçalves 22/12/2020minha estante
Grata. Assisti-o vídeo e já me inscrevi no canal.




Fabio Shiva 18/11/2013

Sensacional!!!
Sabe aquele livro tijolão que você começa a ler e não consegue mais parar, que vai ficando melhor a cada página e que acaba se tornando uma de suas leituras inesquecíveis? Pois então, certamente O Egípcio se enquadra nessa categoria!

É claro que eu tinha tudo para amar essa leitura, que segue a cartilha adotada em alguns de meus livros favoritos, como Musashi de Eiji Yoshikawa e Xogum de James Clavell: um texto simples, escrito nos moldes do folhetim, que oculta em sua aparente simplicidade muitas reflexões profundas, em meio a muitas peripécias e aventuras! Amo muito tudo isso! Não é à toa que procurei adotar essa mesma estrutura em meu próprio livro, O Sincronicídio (http://www.caligoeditora.com.br/osincronicidio/).

O que primeiro impressiona em O Egípcio é o nível da pesquisa, que certamente foi muito bem feita! A prosa é leve e fluida, e logo conquista o leitor. E a história é simplesmente de tirar o fôlego! O livro vai ficando mais e mais impactante, à medida que vamos começando a vislumbrar as intenções do autor.

Tenho para mim que a proposta essencial da obra é traçar um panorama do reinado de Akhenaton, o enigmático faraó que tentou converter o Egito ao monoteísmo, e paralelamente propor uma reflexão sobre as contradições e limitações de nossa própria sociedade. Muito, mas muito bom!!!

Sou muito grato à querida amiga Maria Inês pelo grande aprendizado proporcionado por essa leitura!


***
Conheça O SINCRONICÍDIO:
http://youtu.be/Vr9Ez7fZMVA
http://www.caligoeditora.com.br/osincronicidio/


LEIA AGORA (porque não existe outro momento):
http://www.mensageirosdovento.com.br/Manifesto.html


Venha conhecer também a comunidade Resenhas Literárias, um espaço agradável para troca de ideias e experiências sobre livros:
.
http://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com.br/
*
http://www.facebook.com/groups/210356992365271/
*
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=36063717
*


site: http://www.caligoeditora.com.br/osincronicidio/
Jossi 15/08/2014minha estante
Um dos melhores livos, que mais gostei. Lido aos 15 anos e jamais esquecido! Sinuhe, seu amor infeliz por uma meretriz que o humilhou e destruiu, sua vida como médico do faraó... O livro (como outros clássicos históricos escritos na mesma época) é comovente, rico e envolvente!


Renato Pimenta 25/09/2014minha estante
O melhor livro que li na minha juventude, um romance belíssimo e rico.




Nivia.Oliveira 19/12/2020

Sinuhe, filho adotivo de Senmut e Kipa conta-nos a história que se passa em Tebas. Como Moisés, ele nasceu no Egito e chegou num cesto pelo rio. Fator comum na época cujos bebês eram frutos de relações proibidas.
O contexto histórico é o momento em que Amenotep IV rompe com os costumes da tradição (mais ou menos 1348 A.C): para ele não havia vários deuses e sim um único Deus chamado Aton, representado pelo Sol com raios em formato de mãos. Construiu a cidade de Aketaton, a nova capital do Egito, hoje Tell el-Amarna.
Assim a história gira em torno dessa transformação que será combatida pelos sacerdotes por questões religiosas, políticas e econômicas.
O significado do nome das pessoas no Egito era muito importante e “Sinuhe” significa, “o que está só” e a história se revela coerente com seu epíteto.
Sinuhe queria ser guerreiro, mas se tornou médico. Ele me lembra o Rob do livro “O físico” de Noah Gordon (cujo título fora traduzido errado. O correto seria O médico!) Em suas viagens vai curando pessoas, conhecendo lugares e apreendendo muito sobre a cultura local. Diferindo, entretanto, quanto à ética... ☹
Sinhuhe vai para Esmirna na época na Síria (hoje Turquia) e Ilha de Creta (Grécia), porque esses povos estavam envolvidos na expansão territorial da época. O bacana é que ele sempre retorna à terra natal!
A Cidade dos Mortos é uma espécie de funerária onde os corpos eram mumificados e algumas vezes profanados. Há relatos de técnicas de embalsamento como retirar o cérebro pelo nariz com pinças.
A Cidade da Vida: uma espécie de hospital e faculdade de Medicina. Inclusive os egípcios nos deixaram um legado medicinal: no infográfico conto tudo. (piscadela)
Thothmens, amigo de Sinuhe é uma alegoria ao artista que queria inovar: no Egito a arte era restrita às regras. Veja mais detalhes no infográfico.
Meu pavor de infância era MINOTAURO após assistir O Sítio do Pica-pau Amarelo do Monteiro Lobato! E ele aparece no livro para mostrar a influência da Mitologia Grega nos povos precedentes. Sinue incorpora Teseu...e esse capítulo vale o livro!
As MULHERES que passaram pela vida do nosso protagonista são alegorias para os vários tipos femininos: Nefernefernefer faz o tipo mulher fatal dominada pela vaidade. Nefertiti, a Monalisa do Egito é bela, super-mãe e astuta. Kipa, representa a mulher sonhadora e resignada. Bat, deusa do amor tem a configuração de um gato: “patas macias que escondem unhas”. Mineia: a atleta focada; o espírito livre, porém casto. Mérito: o dom da maternidade. Taia, Rainha-mãe: a feiticeira. Baketaton: a vingativa. Muti: a generosa.
Para relatar a importância da MORTE para os egípcios, Sinuhe provoca algo terrível para sua família... :(
Quando uma pessoa morria normalmente já havia preparado todo um ritual funerário para entrar na imortalidade. Porque morrer no contexto da época, era passar para outra vida (Terra do Poente). Daí a inclusão de alimentos, riquezas e objetos pessoais nos túmulos. Mas os criminosos eram jogados no rio ou para as feras.
Apesar de vários dramas que transpassam a vida de Sinuhe, há uma pegada cómica principalmente com o escravo e amigo Kaptah.


site: https://www.instagram.com/niviadeoliver/?hl=pt-br
Deivi.Lucio 30/12/2020minha estante
Maravilhosa resenha , lendo o livro também lembrei do Físico.




Bruce 21/12/2016

Muito bom
Muito bom o livro o personagem parece um Forest Gump egípcio no sentido que de alguma forma se via envolvido nos maiores acontecimentos do seu tempo.
Existe a versão cinematográfica que conheci inclusive antes do livro, apesar de relativamente bem adaptado para o cinema o livro é ainda muito melhor.
Nath @biscoito.esperto 14/04/2017minha estante
HAHAHAHA melhor comparação! Forrest Gump egípcio kskasjasjasja adorei!




Geógrafo da Alma (Poeta) 19/01/2009

Apaixonante
Essa é uma obra que literalmente eu amo. Sempre que saio de férias leio e torno a me emocionar como na primeira vez. Sinueh o médico é um grande protagonista, antagônico em suas atitudes e simplesmente deslumbrante.
comentários(0)comente



Wellington V. 16/02/2010

Uma Obra Faraônica
"Eu Sinuhe, filho de Senmut e de sua mulher Kipa escrevo isto. Não o
escrevo para a glória dos deuses da terra de Kan, porque estou cansado de deuses, nem para a glória dos faraós porque estou cansado de seus feitos. Tampouco escrevo por medo ou por qualquer esperança no futuro; escrevo para mim, apenas."

Não, não, não e não. O protagonista deste classicaço literário NÃO escrevera para si mesmo apenas. Suas palavras, a despeito do que disseste, endereçaram-se a uma grande parte de pessoas, ao redor do
mundo, que talvez precisassem tomar ciência do que disse O Egípcio.

Foram, são e serão pessoas que, de uma forma ou de outra, creem numa vida após a morte (ou não...), numa vida eterna, num tempo vindouro, porém (não se sabe o quão) distante, pessoas que tem uma ligação muito forte com o pretérito e o futuro, nesta ponte que é o presente. Em suma: pessoas que trazem estas características supracitadas, além, é claro, de carregarem em seus corações marcas deixadas pelas eras, pelas lembranças dos tempos.

Ganhei o meu exemplar de um dos que foram os maiores professores que já tive, numa das épocas mais memoráveis de minha vida. O Mestre Raimundo Nonato -- abração, Mestre!!! --, professor de História e Filosofia, me presenteou com seu "O Egípcio", em 1994. Julgo ter feito jus a tal presente porque, dois anos antes, eu já me destacava -- sem falsa modéstia -- por ser seu melhor aluno (o mais participativo).

Principalmente no que se referia ao assunto Egito Antigo. (Ô, Saudade...)

Considero o ponto alto (altíssimo!) do disco -- Ops! Eu quis dizer "livro"(1) -- os capítulos sequenciais "Minéia" e "A Mansão Escura". Até hoje noto um paralelo entre eles e alguma coisa em minha vida. Por falar nisso, entre boa parte do livro e minha vida. (Mas isso é outra
história...)

Quem ainda não leu essa "jóia rara" (mais jóia que rara) deveria fazê-lo. Por quê? As respostas somente semelhante tesouro em papel poderá dar.



NOTA


(1) Estou a ouvir "Sequent 'C'" (Dó sequencial), do Tangerine Dream. A
faixa, emuladora de flautas num orgão, tocado por Peter Baumann, parece estar em sintonia com o livro. Ademais, faz parte daquela que é
considerada a obra-prima do TD: "Phaedra" (lê-se "Fedra"), de 1974.
Discordo: "Phaedra", muito bom album, é finalizado com "Sequent 'C'", uma das composições mais expressivas do TD, talvez a melhor faixa do album. A obra-prima do Td talvez seja "Rubycon" (1975).

comentários(0)comente



Eraldo 23/02/2010

Muito Bom
Ótima leitura. Deslumbra a vida e costumes desta época fascinante.
comentários(0)comente



Carla.Parreira 10/04/2024

O egípcio (Mika Waltari)...
Escrito em 1945, o livro narra a fascinante jornada de um médico egípcio que, abandonado quando criança, foi acolhido por pais adotivos. Mika Waltari, ao compor o personagem central de seu romance, encontrou inspiração em uma das obras mais populares da literatura do Antigo Egito, intitulada "Aventuras de Sinuhe". Essa obra retrata a vida de Sinuhe, um funcionário da corte que teria vivido durante a XII Dinastia, e seus relatos de viagens fornecem a mais antiga descrição conhecida sobre a Síria-Palestina.
No entanto, tanto o romance quanto o filme adaptado dele transferem a trama para a XVIII Dinastia, mais especificamente para a época do Faraó Amenhotep IV. A história de Sinuhe é contada em forma de flashback, começando com sua infância, quando ele foi encontrado em um cesto à deriva nas águas do Nilo e adotado por um médico pobre chamado Senmut. Seguindo os passos de seu pai adotivo, Sinuhe também se torna um médico habilidoso.
Anos mais tarde, Sinuhe tem a oportunidade de sua vida. Junto com seu amigo atlético Horemheb, ele salva a vida de um homem solitário que estava adorando o sol e sendo atacado por um leão. Esse homem é nada menos que o recém-entronizado faraó do Egito, Amenhotep IV. O fato de terem tocado o corpo do "deus-vivo" poderia resultar na morte para os dois amigos, mas, surpreendentemente, eles são recompensados pelo monarca agradecido. Sinuhe se torna o médico da corte e Horemheb se torna um oficial dos exércitos reais.
É durante sua vida luxuosa no palácio que Sinuhe conhece Nefer, uma cortesã ardilosa e luxuriosa que gosta de ser chamada de "Nefer-Nefer-Nefer" (três vezes bela). Nefer é capaz de inspirar ardentes e desastrosas paixões nos homens que a seduz. Para ter algumas poucas horas de prazer ao lado de Nefer, Sinuhe se humilha, mendiga e gasta todos os bens que possui, incluindo a sepultura de seus pais, que é essencial para garantir a entrada deles na eternidade. Ele negligencia seus deveres médicos e acaba perdendo tudo, encontrando-se na sarjeta sem nada para oferecer à cortesã.
Sinuhe deixa o Egito e passa anos vagando por terras estrangeiras, onde seu talento como médico é reconhecido e ele adquire valiosas experiências de diferentes culturas. Essa parte de sua vida no exterior, inclusive em terras como a Síria-Palestina, é a maior parte do romance de Waltari. No entanto, no filme adaptado por Curtis, essa parte da história é apenas brevemente retratada.
Ao retornar à sua pátria natal, Sinuhe enfrenta o Egito em profundo estado de Guerra Civil. O faraó Amenhotep IV, que agora adota o nome de Akhenaton, instaura uma revolução religiosa no país, promovendo o culto monoteísta dedicado à adoração do "disco solar" (Aton) e decretando a ilegalidade de todos os demais deuses. O médico perde a amada esposa, Merit, e seu filho, Toth, e vive seus últimos dias em uma ilha remota, exilado sob a ordem de seu antigo amigo, Horemheb, que se ergue como rei e abafa a iniciativa monoteísta.
O livro interliga fatos históricos e fictícios, traçando um tapete de realidade e invenção. Por exemplo, a sucessão dos faraós é retratada conforme a história, mas a saga do protagonista é um capítulo de ficção.
Melhores trechos: "...Quando fiz sete anos ganhei uma tanga de menino e minha mãe me levou ao templo para assistir a um sacrifício. O templo de Ammon em Tebas era naquele tempo o mais grandioso do Egito. Uma avenida ladeada por esfinges com cara de carneiro e esculpidas em pedra levava ao templo, diretamente, defronte do templo e do lago da deusa Lua. A área do templo era cercada por muralhas maciças e com os seus muitos edifícios formava uma cidade dentro da própria cidade. Do alto dos pilonos, em torre flutuavam galhardetes, e gigantescas estátuas de reis guardavam as portas de cobre de cada lado do recinto. Atravessamos os portões e os vendedores de Livros da Morte puxavam minha mãe pelas roupas e faziam suas ofertas em tom áspero ou sussurrante. Minha mãe me levou a ver as lojas de carpintaria abarrotadas de imagens de madeira de escravos e servos que, depois de consagradas pelos sacerdotes, serviriam para os seus possuidores no outro mundo a ponto destes nem precisarem erguer um dedo para obter qualquer coisa. Minha mãe pagou a espórtula erigida aos espectadores, e eu vi sacerdotes em trajes brancos e de mãos gentis matarem e esquartejarem um touro entre cujos chifres um rolo de papiro trazia um selo testificando que o animal não tinha a menor mácula e nem um único pelo preto. Os sacerdotes eram nédios e santos, e suas cabeças raspadas luziam untadas de óleo. Havia cem ou mais pessoas para assistir ao sacrifício, mas os sacerdotes não prestavam a menor atenção a essa gente e conversavam livremente entre si, durante a cerimônia, tratando de seus negócios. Observei as pinturas de assuntos guerreiros nas paredes do templo e me maravilhei com as gigantescas colunas, não atinando absolutamente com o motivo da emoção de minha mãe quando ela, com os olhos cheios de lágrimas, me levou de volta para casa. Lá, me tirou os sapatos de criança e me deu as sandálias novas que eram incomodas e que magoavam meus pés enquanto não me habituei com elas... Éramos vinte e cinco, entre jovens e meninos; apresentamo-nos para ser recebidos no templo. Depois que nos banhamos no lago do templo, nossas cabeças foram raspadas e vestimos trajes grosseiros. O sacerdote designado para nosso diretor não era tão meticulosamente exigente como alguns outros. A tradição obrigava a sujeitar-nos a toda sorte de cerimônias humilhantes, mas havia entre nós alguns de alta condição social e outros que já tinham passado em exames - homens feitos que entravam a serviço de Ammon apenas para garantir um futuro melhor. Estes trouxeram consigo abundantes provisões e presentearam com vinho muitos dos sacerdotes; alguns chegavam até a sair de noite para casas de divertimentos, já que isso de iniciação para eles não significava nada. Eu me submetia ao regime com grande mágoa, com o espírito cheio de pensamentos amargos, satisfazendo-me com um pedaço de pão e uns púcaro com água - a dieta tradicional dos noviços - aguardando com ânimo discreto e solícito os dias vindouros. Era tão jovem que ainda possuía uma ânsia indizível relativa à fé. Diziam que Ammon aparecia em pessoa durante a iniciação e falava individualmente com cada candidato; ser-me-ia um inefável conforto poder sentir alívio, abstraindo-me de mim e me voltando para qualquer objetivo universal e bem determinado... Na Casa da Vida, que fazia parte do grande templo de Ammon, o ensino era dirigido nominalmente pelos médicos reais, quanto a cada disciplina. Nós, porém, os víamos raramente porque tinham enorme clínica, recebiam valiosos presentes dos ricos e moravam em espaçosas casas fora da cidade. Mas sempre que era recolhido à Casa da Vida algum doente cujos sintomas deixavam embaraçados os médicos habituais, ou se estes não se aventuravam a empreender tais ou quais tratamentos, o médico real vinha ver e tratar o caso e demonstrar sua proficiência diante dos que se estavam especializando em tal setor. Desta forma mesmo o paciente mais pobre podia ter o benefício dos cuidados de um médico real, e isso para a glória de Ammon. O período de prática era longo mesmo para aqueles que dispunham de talento. Tivemos que tomar um curso sobre drogas e poções, aprender nomes e propriedades de ervas, as estações e as horas em que deviam ser colhidas, a maneira de secá-las para fazer os extratos; e isso porque um médico tinha que estar apto a preparar, seus próprios remédios conforme a necessidade. Muitos embirravam não vendo a serventia disso já que bastava uma simples receita para ser obtido o fornecimento pela Casa da Vida de todo e qualquer remédio corretamente pesado e misturado. Tal conhecimento, todavia, me viria a ser de grande proveito, conforme mostrarei mais tarde. Tivemos que aprender os nomes das diferentes partes do corpo, bem como as funções e finalidades de cada órgão humano. Aprendemos a manobrar escalpelos e instrumentos de extração. Acima de tudo, no entanto, tivemos que acostumar nossas mãos a reconhecer a doença tanto através dos orifícios naturais do corpo como ao longo da pele. Observando os olhos, também, tínhamos que depreender a espécie do distúrbio. Habilitamo-nos a partejar uma mulher em trabalho sempre que o serviço das parteiras redundava inútil. Devíamos estimular e aliviar dores conforme o caso requeria. Aprendemos a distinguir as queixas banais das importantes, os distúrbios de origem mental dos de proveniência física. Habituamo-nos a diferenciar a verdade da imaginação na conversa dos doentes, e a fazer perguntas de modo a esclarecer um quadro sintomático. Esse longo período de experiência foi seguido pelo dia em que - após o cerimonial da purificação - vesti um blusão branco e comecei a trabalhar na sala do ambulatório onde aprendi a arrancar dentes das mandíbulas de homens fortes, a fazer curativos, a lancetar inflamações e tumores, a coaptar ossos quebrados. Nada disso era novo para mim. Graças aos ensinamentos de meu pai fiz bons progressos e fui designado instrutor dos meus companheiros... A Cidade dos Mortos era guardada estritamente dia e noite, e impossível me seria encontrar uma tumba sem vigilância onde esconder meus pais a fim de que pudessem sobreviver eternamente em meio às oferendas que eram trazidas para os mortos ricos e ilustres. Levei por isso os corpos deserto adentro, com o sol a queimar minha pele e o percurso a estafar meus membros, até me estatelar, gemendo, certo de que ia morrer. A verdade é que ainda assim consegui transportar a querida carga para além das montanhas, através de atalhos perigosos utilizados apenas por bandidos. Penetrei assim no vale proibido onde jaziam sepultados os faraós... Se as raparigas do templo não eram do agrado do homem, tinha este que tomar uma esposa ou comprar uma escrava. Todos os dias havia leilões de escravas porque os navios não cessavam de entrar no porto trazendo mulheres e crianças de todos os tamanhos e idades e para todos os gostos. Mas as deformadas e inválidas eram vendidas barato para o sacrifício a Baal em proveito do conselho da cidade cujos membros riam e se davam pancadinhas mútuas comentando a esperteza com que iludiam seu deus. Não deixei de oferecer sacrifício a Baal já que se tratava do deus da cidade. A prudência me levava a lhe render preito. Como eu era egípcio não lhe levei oferendas humanas; dei-lhe ouro. Visitava às vezes o templo de Astarté que se abria de tarde; ficava a ouvir música e a contemplar as sacerdotisas - que não chamarei de donzelas - enquanto elas dançavam voluptuosamente para a glória da deusa. Como era costume, eu me deitava com elas, admirando-me das novidades que me ensinavam; e eu consentia sem grande prazer nem interesse, apenas por curiosidade. Depois que me ensinaram suas práticas me saturei e deixei de visitar o templo. A meu ver não havia divertimentos mais monótonos do que os que ali se praticavam... Uma vez escravo eternamente escravo, mesmo quando envolto em lã fina... Assim, Akhnaton pode ser um médico para o coração humano, mas não pode ser ubíquo, estar em toda parte. Há corações tão duros e tenebrosos que nem mesmo a verdade de Akhnaton lhes poderá valer de nada... A rainha Nefertiti voltou à Tebas para o nascimento do seu próximo filho, pois não tinha coragem de ir para a cama dar à luz sem a ajuda dos médicos de Tebas e dos feiticeiros negros. E lá teve a terceira filha, que se chamou Ankhsenaton e que futuramente seria rainha. A fim de facilitar o nascimento os feiticeiros estreitaram e encompridaram a cabeça da criança, conforme já haviam feito com as outras princesas. Quando a menina cresceu, todas as damas da corte e outras mulheres que queriam se manter na moda e imitar os estilos da corte, começaram a usar fundos falsos em suas cabeças. As princesas, porém, conservaram as cabeças raspadas para mostrar o formato elegante de seus crânios. Os artistas também admiravam isso e fizeram muitas esculturas e pinturas das princesas assim, sem suspeitar que tal diferença tão distinta não passava de uma aberração resultante da arte de mágicos. Depois que Nefertiti deu à luz a criança voltou a Akhetaton e fixou residência no palácio que nesse ínterim já se tornara habitável. Deixou as outras mulheres em Tebas, ficando vexada de haver dado nascimento a três filhas, e não querendo que o faraó gastasse a virilidade no leito de outras mulheres. Akhnaton ficou satisfeito com isso, pois estava cansado de ter que cumprir seu dever no harém quando apenas desejava uma única mulher, Nefertiti: e todos quantos contemplaram sua beleza hão de compreender bem tal preferência; mesmo o seu terceiro parto não prejudicou em nada suas perfeições. Parecia mais jovem e mais radiosa do que antes, mas não saberei dizer se essa mudança era conseqüência da nova moradia na cidade de Akhetaton ou feitiçaria dos negros. Assim, num ano só Akhetaton surgiu das brechas e desertos; palmeiras ondulavam garbosamente ao longo de suas esplendidas ruas, romãs amadureciam muito rubras em jardins, e nos lagos coalhados de peixes flutuavam flores de lótus. A cidade inteira era um jardim florido, pois as casas de madeira eram lindas e frágeis como pavilhões, e suas colunas coloridas alegremente com vergas e palmeiras. Os jardins invadiam até as próprias casas, pois as pinturas das paredes representavam palmeiras e sicomoros agitados por brisas de eternas primaveras. Nos assoalhos havia cenas pictóricas de caniços acamados, de peixes multicores nadando e de patos erguendo vôo. Na cidade não faltava nada para rejubilar o coração humano. Gazelas mansas vagueavam pelos jardins enquanto nas ruas as carruagens mais leves eram puxadas por soberbos cavalos adornados com plumas de avestruz. As cozinhas eram olorosas por causa das especiarias trazidas de todas as partes do mundo. Assim a Cidade Celestial foi terminada, e quando o outono voltou e as andorinhas emergiram do barro para dardejar em bandos imensos por cima das águas que já começavam a subir, o faraó Akhnaton consagrou a cidade e a região à divindade Aton. Consagrou as pedras demarcadoras do norte e do sul, do oriente e do ocidente, e em cada um desses marcos havia a representação de Aton lançando a benção de seus raios sobre o faraó e a sua casa. Inscrições nas pedras recordavam a afirmação do faraó de nunca mais por os pés fora daqueles limites. Para esta cerimônia os operários tiveram que abrir estradas pavimentadas nas quatro direções da região de modo a que o faraó pudesse percorrer os limites em sua carruagem de ouro e a família e os membros da corte o acompanhassem em carros e liteiras. E flores juncavam tal percurso enquanto flautas e instrumentos de corda tocavam em louvor a Aton..."
comentários(0)comente



sjmarcel 29/08/2010

Mais um excelente livro sobre o Egito
Eu sou um entusiasta de egiptologia e não pude deixar de comprar mais essa obra. É um livro muito bom, não fala somente do Egito, mas narra através do Romance as relações políticas que o país mantinha com seus vizinhos, uma trama muito bem fundamentada com pitadas de humor. Ótimo livro.
comentários(0)comente



cid 23/02/2011

Que homem há que conheça o próprio coração?
Sinuhe fala de suas aventuras e desventuras, das pessoas que conheceu e amou, do faraó herético Akenaton, de Tutankhamon, do Egito, da Babilônia e de Creta. E quase no fim da sua jornada, lá pela pagina 440, inconformado com o seu próprio proceder pergunta : Que homem há que conheça o próprio coração?
E confuso prefere dizer que tudo estava escrito nos astros, a vida enchera sua taça e êle a bebera.
Mas, o coração é um instrumento insaciável, mais ainda que os crocodilos do Nilo, e termina suas memórias dizendo ser um solitário, que viveu sózinho todos os dias de sua vida. Tão atual...
comentários(0)comente



Isabelle 17/06/2011

O EGÍPCIO é um livro que vale a pena para quem gosta de história. Digo "vale a pena" porque é extenso, e a linguagem é um pouco arcaica para os padrões de hoje, cheia de mesóclises e de plurais retóricos.
Não é um livro sobre medicina de outros tempos, como O FÍSICO de Gordon ou O UNITÁRIO de Puech. Há muito mais de política nele do que de medicina. O antagonismo entre o "socialismo" e o "capitalismo", que sempre existiu na mente humana, é explorado pelo autor no palco do antigo Egito.
Um livro cheio de lições que podem ser transpostas para o nosso tempo, ambientado deliciosamente no tempo dos faraós.
comentários(0)comente



sonia 04/03/2012

para quem gosta de história antiga
através da história do médico egípcio Sinuê, é apresentada a cultura egípcia com riqueza de detalhes.
há um mistério na vida do médico, que foi adotado pela princesa real, mas isso voce só vai saber quando ler o livro e eu não vou estragar a surpresa.
comentários(0)comente



Andressa 15/02/2013

Livro que surpreende
Quando escolhi esse livro na biblioteca pública não dei mto por ele. Era enorme, antigo e caindo aos pedaços. Mas hoje entendo o porquê. Era o excesso de uso. Afinal, mta gente deve ter lido e recomendado a outras pessoas, como faço agora. Foi maravilhoso entrar no dia a dia dos egípcios, seus costumes estranhos e peculiares e andar lado a lado com o personagem principal, todo cheio de planos para conquistar o que tanto almejava. Os costumes do povo, aliás, são um atrativo especial. Vc lê e pensa: "Uau! Não acredito que eles faziam tal coisa!" E se deixa levar pela curiosidade de encontrar mais detalhes. Recomendo.
comentários(0)comente



day 20/05/2013

maravilhoso livro!!
Um livro maravilhoso!!!! Assim que comecei a leitura fui teletransportada a Tebas...
Me vi no meu do cotidiano de um bairro pobre do egito na era dos grandes faraós .
Neste livro acompanhamos a história do menino Sinuhe que foi achado as margens do rio nilo e foi criado por um médico e sua esposa devotada.
Sinuhe desde de cedo pensa de onde veio,quem eram seus pais na verdade,porque o abandonaram no Rio nilo...
Ainda jovem ele segue a carreira de médico e grande será seu sucesso no egito.
Um dos grandes problemas dele ,para mim um dos maiores erros da vida dele,foi se envolver com Nefernefernefer,que arruinou sua vida completamente.
O livro mostra várias fases da vida de sinuhe ,desde a infância pobre ,a sua riqueza e sucesso como médico real.
O mais interessante do livro é que realmente ele faz um passeio pela era dos faraós e nos sentimos no meio de tudo,como testemunha ocular de acontecimentos que mudaram o egito.
Eu poderia passar a vida toda escrevendo sobre esse livro,mais não gosto muito de contar sobre tudo,pois acho que livros são mistérios a ser revelados.
Porém falo com a mais pura certeza :O LIVRO É MARAVILHOSO!!!!!
comentários(0)comente



30 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR