gleicepcouto 11/06/2014Marianne Kanavagh pode até estar estreando na literatura, mas a inglesa já tem ampla experiência no jornalismo, passando por importantes revistas (Marie Clare foi uma delas) e também periódicos (Telegraph e The Guardian). Talvez por ter uma carreira tão sólida na área, seu primeiro livro, Uma Vez na Vida (Editora Única), tenha conseguido a difícil tarefa de ter os direitos de publicação vendidos para diversos países logo de cara.
Uma Vez na Vida é uma comédia romântica que tem por objetivo, a grosso modo, nos fazer acreditar na existência da tão procurada (e lendária) alma gêmea. A história gira em torno de Tess e George. Eles não se conhecem, mas são almas gêmeas. Isso é o que dizem os amigos em comum que têm. Enquanto ela é uma garota que odeia o emprego e queria mesmo era trabalhar com moda (ama roupas vintage), ele é um músico de jazz que quando não está se preocupando com o pai doente, vive às turras com os companheiros de banda. Em meio a uma década de muitos encontros e desencontros, frustrações e afins, a pergunta que fica é: o destino é capaz mesmo de unir caminhos tão diferentes?
"As pessoas sempre dizem você é jovem demais, que ainda não se conhece. Mas não dá pra controlar quando é que você vai encontrar sua alma gêmea. Se tiverem sorte, vocês se descobrem cedo. E se isso acontecer, vocês têm mais tempo para passar juntos. Vocês têm a vida toda para poder se conhecer."
Sempre fui cética nessa questão de alma gêmea, de metade da laranja, de tampa da panela. E depois desse livro... Bem, continuo sendo.
Sei, porém, que o assunto tratado pela jornalista e escritora é bem atrativo – ainda mais para o público feminino (sim, sou daquelas que não considera os homens tão românticos assim). Dessa forma, para seu primeiro livro, ela buscou um caminho com uma possibilidade de aceitação maior. Acredito até que consiga... Mas, a fórmula, para mim, não fez efeito.
A narrativa de Kanavagh é ok. Ponto. Sem muitas surpresas, conseguiu contar a sua história. Mas qual, não é mesmo? O plot é fraco, o desenvolvimento preguiçoso, o romantismo insosso. Não consegui me conectar à história, não senti emoção, e os encontros e desencontros me fizeram suspirar um whatever – quando o ideal deveria ser eu ficar pé da vida com a autora e torcer para o casal. Mas é aí que está. O casal não ajudou também. A empatia não aconteceu nem com Tess, e muito menos com George. Achei ambos chatinhos. Dei de ombros para o destino dos dois – juntos ou separados.
A autora foi feliz, porém, no modo como contou as situações do cotidiano. Questões relacionadas às dúvidas na vida profissional, relacionamentos fadados a fracassar mas nos quais insistimos, e outros. É o famoso “tentativa e erro” da vida que todos nós conhecemos. Kanavagh tem uma sensibilidade para retratar o dia a dia que gostei bastante. Uma pena que, às vezes, essa percepção se perdia um pouco em diálogos que pareciam falas e não uma conversa fluída.
Na verdade, acho que parte da culpa por não ter curtido tanto o livro foi minha. Fui com muita sede ao pote, fascinada pelo currículo de Kanavagh. Mas esbarrei naquela velha e conhecida questão: não necessariamente quem escreve bem, sabe contar uma história (ou mesmo tem uma história que valha a pena ser contada).
Por fim, Uma Vez na Vida tem um enredo mais ou menos, contado em uma narrativa mais ou menos, com personagens mais ou menos. É muito mais ou menos para algo que esperava ser muito bom. Como dito antes, porém, tem o seu público, e eu descobri que não faço parte dele.
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