Larissagris 11/06/2020ROLETA RUSSA - JASON MATTHEWS
🔎 "A Rodina, a sagrada Pátria Mãe de terra escura e céu sem fim, teria que resistir um pouco mais enquanto o cadáver da União Soviética era içado do pântano em que o haviam afundado e seu coração era ressuscitado, e só então as velhas prisões poderiam ser enchidas de novo com os infiéis que não se emendavam." (Pág.27)
🔎 "Os russos odeiam os estrangeiros tanto quando odeiam uns aos outros. E já nascem conspiradores. Sabem muito bem que são superiores, mas também são inseguros: têm a necessidade de ser respeitados, sobretudo temidos, exatamente como nos tempos da União Soviética. Eles querem estar no palco, querem ser aplaudidos. Têm verdadeiro horror ao papel secundário a que foram relegados no cenário internacional. Por isso Vladimir Putin está montando sua versão 2.0 da União Soviética. E ninguém vai se colocar no caminho dele." (Pág.27)
🔎 "Sabem aquele garotinho birrento que puxa a toalha da mesa e quebra a louça só para chamar atenção? Pois então. O Kremlin é esse garotinho birrento. Não quer ser ignorado, e aí vai quebrar toda a louça até que lhe deem ouvidos." (Pág.28)
🔎 " - Tem mais. Parece que a sinestesia dela se estende às reações humanas. Ela não vê apenas sons e palavras como cores, mas também os diferentes conteúdos emocionais. Contou que costuma ver algo parecido com um halo colorido em torno da cabeça e dos ombros das pessoas." (Pág.34)
🔎 "Após uma série de exames ortopédicos, uma cirurgia de emergência e uma bota de gesso até a altura do tornozelo, Dominika foi dispensada da academia. Num piscar de olhos sua carreira de bailarina havia chegado ao fim." (Pág.38)
🔎 "Dominika não tinha como saber disso, mas Vassily teria sussurrado à filha idealista que um cidadão pode muito bem se apaixonar pelo Estado, mas que o Estado não corresponde nunca. Jamais." (Pág.39)
🔎 "Como era possível que tanto dinheiro se concentrasse nas mãos de uma única pessoa quando tantas outras ainda enfrentavam filas para comprar pão?" (Pág.46)
🔎 "Seu rosto pairava a poucos centímetros do de Dominika, cuja boca estava aberta em um grito silencioso. Ustinov a fitava com os olhos injetados, completamente aturdido, uma veia saltando da testa, os dedos tentando, em vão, aliviar o aperto do garrote. Um fio preto de sangue escorreu de sua boca para o rosto de Dominika, e não demorou para que ele começasse a convulsionar, estremecendo como um peixe no anzol. Dominika se deu conta de que ele ainda estava dentro dela." (Pág. 49)
🔎 "Durante a invasão soviética no Afeganistão, Matorin servira como comandante num grupo de elite, o Grupo Alfa de Operações Especiais, à época sob a liderança da KGB, e em algum momento dos cinco anos que passara nos vales daquele país um parafuso se soltara em sua cabeça. Dali em diante não houve quem conseguisse apertá-lo de volta. Os oito homens de sua equipe seguiam ordens, mas Matorin não gostava muito de obedecer a ninguém. Tinha se transformado em um lobo solitário que apreciava matar pessoas." (Pág.50)
🔎 "Pra você foi apenas uma "situação desagradável". Um homem foi assassinado a poucos centímetros do meu rosto. Estávamos nus, ele em cima de mim, como você bem deve saber. Fui banhada com o sangue dele. Meu cabelo ficou todo empapado e até hoje está fedendo a sangue." (Pág.53)
🔎 "Caso Dominika se levantasse e fosse embora descontrolada, sem querer ouvir, ela não poderia sair daquele prédio com vida. Matorin cuidaria disso." (Pág.54)
🔎 "As cores a ajudavam na rua: os azuis e os verdes das equipes nas vans de vigilância permitiam que ela se orientadas melhor na multidão nos bulevares. Ela deixava as equipes de vigilância totalmente perdidas, calculava com meticulosidade o tempo dos encontros-relâmpagos nas plataformas de metrô, ia se reunir com os falsos agentes em becos imundos à meia-noite, assumia o controle desses encontros, lia o que se passava na cabeça dos interlocutores. Os veteranos secavam o suor do rosto, depois diziam: - Fanatichka!" (Pág. 63)
🔎 "O psicólogo em Mikhail já havia se dado conta de que aquela transa não tivera nada a ver com ele. Sabia que a garota não diria nada a ninguém. Nunca. Sabia também que jamais haveria uma segunda vez. E de certo modo ficou aliviado." (Pág.65)
🔎 "Conhecia os rumores que circulavam em torno do tal instituto: tratava-se da extinta Escola Quatro, mais conhecida como Escola de Pardais, onde homens e mulheres eram treinados nas técnicas de sedução para fins de espionagem. O tio a estava mandando para uma escola de putas." (Pág.69)
🔎 "Ouça com atenção. Tem duas coisas que você precisa saber sobre nosso ramo. Primeiro: ninguém amadurece como operador sem fazer pelo menos uma grande cagada no caminho. Segundo: você é julgado pelas informações que traz e pela capacidade de proteger seus informantes. Nada mais importa." (Pág.75)
🔎 "Uma lição para Nate: quando você começa a achar que é o cara, aí dá merda." (Pág.77)
🔎 "Uma coisa é certa: quando as coisas dão errado, é assim, de uma hora para outra." (Pág.78)
🔎 "Na manhã seguinte, Anya não apareceu para o café e duas moças subiram para procurá-lá no quarto. Precisaram arrombar a porta, e encontraram-na morta do outro lado, pendurada ao gancho de casacos por uma meia de náilon em volta do pescoço. Tivera a força de espírito para manter as pernas erguidas até perder a consciência e deixar que o peso do corpo fizesse o resto." (Pág.93)
🔎 "A neblina amarelada em torno do coronel começava a crescer e a escurecer. Dominika sabia que o homem estava frustrado, irritado, constrangido, e tinha consciência de que sua petulância e insubordinação bastariam para que ela fosse sumariamente enxotada do SVR." (Pág.103)
🔎 "Simyonov tinha pressa: queria que o homenzinho fosse seduzido o mais rápido possível, para ter controle total sobre ele. Dominika, por sua vez, resistia, inventando pretextos para ganhar tempo e beirando as raias da insubordinação." (Pág.107)
🔎 "Talvez tivesse ficado mais seguro de só com a intimidade dos encontros de estudo, ou talvez mais fatalista, já intuindo que estava, aos poucos, sendo tragado pelo ralo da espionagem." (Pág.112)
🔎 "É por isso que o serviço tem tanta dificuldade para continuar existindo. Graças a atitudes como essa, a oficiais como Simyonov, a Rússia não pode competir com os gigantes. Agentes cono ele são sanguessugas grudadas na barriga da pátria, sugando todo o sangue dela, impossíveis de ser retiradas." (Pág.121)
🔎 "Pois é exatamente isso que você fará. Trata-se de uma missão delicada que demandará muita habilidade. Talvez a mais difícil de todas: neutralizar um agente da CIA." (Pág.122)
🔎 "Os americanos eram materialistas, vaidosos, nekulturny. Os instrutores da academia sempre frisavam que a CIA obtinha seus sucessos apenas com dinheiro e tecnologia, uma vez que eram desprovidos de alma." (Pág.124)
🔎 "Não havia dúvida de que ela sabia o que estava fazendo, de que amava seu país, mas sob a superfície parecia haver algo borbulhando secretamente como um lençol freático. Orgulho, raiva, desobediência. Um lado secreto, certa inclinação à rebeldia. Era como se ela flertasse com o risco com a compulsão de um vício." (Pág.167)
🔎 "Sei que você não é um diplomata trabalhando no setor econômico da embaixada americana. Sei que é um agenda da CIA. E você sabe muito bem que eu trabalho como oficial de segurança na rezidentura da minha embaixada. Pelo menos deve ter deduzido quando contei que meu chefe e é Volontov. Suponho também que saiba que meu tio Vanya Egorov é o primeiro vice-diretor do serviço." (Pág.189)
🔎 "Meu tio afirma que me considera parte integrante de sua equipe de operadores, mas olha pra mim como se eu fosse apenas um pardalzinho a seu serviço, como se ainda estivéssemos em 1960. Eles estão impacientes com a lentidão do meu progresso. Querem ouvir que levei você pra cama." (Pág. 190)
🔎 "Não vai achar muita graça quando souber que minha missão e descobrir sobre seu passado em Moscou, sobre o informante que você coordena. Tio Vanya me mandou a Helsinque para ficar de olho em você, para avisar quando estivesse ativo, operando seu contato, como ficou por duas semanas no mês passado." (Pág.190)
🔎 "Muitos agentes são perdidos por causa da contrainteligência, ou por falta de sorte, ou por um mau timing, tipo você se atrasa meia hora, perde o trem e depois disso tudo muda. Mas quem já ouviu falar de um operador que perde a informante porque ela acha que todos os americanos são babacas?" (Pág.210)
🔎 "No entanto, naquele momento Dominika precisava de algo mais que a adrenalina dos segredos inconfessáveis, que a consciência de que sua determinação era maior que a de todos os demais, de que estava dando uma bela rasteira nas forças do Sr. Putin. Precisava que alguém precisasse dela. Precisava que ele precisasse dela." (Pág. 211)
🔎 "Dominika via o pai caminhando a seu lado, via um sorridente Nate à sua espera sempre que ela entrava numa sala qualquer, algumas quentes, outras frias, algumas escuras, outras muito claras. Vez ou outra a amarravam aos braços de uma cadeira, jogavam baldes d'água sobre ela, depois ligavam os ventiladores, e Nate ficava ali a seu lado, segurando sua mão enquanto ela tremia de medo e frio." (Pág. 234)
🔎 "Os interrogatórios eram feitos ora de dia, ora de noite, mas invariavelmente aos berros e com crueldade. Por vezes a amarravam deitada numa mesa metálica, com a cabeça caindo da borda. Dominika resistia com bravura, mas não buscava forças no ódio, pois isso seria frágil demais. Em vez disso, procurava cultivar o mais profundo desprezo por aqueles desgraçados: jamais sucumbiria à vontade deles, jamais se deixaria dobrar." (Pag.235)
🔎 "Foi a imagem de Marta que renovou suas forças, e por fim ela conseguiu tirar os pensamentos do abismo para o qual eles tinham resvalado. Dominika buscou abrigo em si mesma e decidiu usar tudo aquilo que vinha deles como uma arma a seu favor, inclusive as alucinações." (Pág. 237)
🔎 "Quanto mais alto eles berravam, mais feliz ela ficava. Sim, feliz. Dominika adorava aqueles homens e mulheres que a atormentavam, amava o coronel de aura azul-turquesa. Eles sabiam que não poderiam continuar com aquilo indefinidamente. Estavam correndo contra o tempo. A menos que forçassem uma confissão, não teriam nada." (Pág.238)
🔎 "Às vezes ela entrava no armário do corredor e se fechava ali para reviver o que passara na prisão, só pelo prazer de saber que poderia sair quando quisesse. Pelo mesmo motivo, em outras ocasiões, amarrava os punhos com meias de náilon, usando a boca para dar o nó. Passados esses impulsos esquisitos, ela simplesmente chorava baixinho, as lágrimas encharcando-lhe o rosto." (Pág.240)
🔎 "Olhando-se no espelho, a jovem via o vermelho intenso da fúria que tingia sua aura e era tomada por uma sensação de redenção, a mesma que tinha sempre que ouvia a coda de uma fuga barroca. Tratava-se de uma raiva profunda que ela poderia facilmente controlar. Uma ira que teria vida longa, da qual ela poderia se alimentar." (Pág.240)
🔎 "Eu vou lhe explicar o que significa "dar uma espiada". É invadir de forma ilegal a residência particular de uma cidadã americana supostamente inocente, contra a qual não há nenhuma evidência de delito, invasão essa que será realizada por dois oficiais não autorizados da Agência Central de Inteligência, estes sim em delito por estarem conduzindo por conta própria uma investigação de contraespionagem em território nacional, o que por lei está dentro da jurisdição do FBI, segundo estipulado no decreto número 12.333. Foi isso que eu quis dizer com "dar uma espiada". (Pág.267)
🔎 "Sozinho à mesa, Marble continuou tomando sua sopa, tentando aparentar o máximo possível de naturalidade. Seria aquilo o começo do fim? Do seu fim?" (Pág.298)
🔎 "Por enquanto vamos procurar tirar vantagem do fato de Diva, uma informante recrutada por você, recém-submetida a uma investigação de contrainteligência, ter sido designada pela ingênua diretoria do SVR para seduzi-lo com p objetivo de descobrir o nome do oficial sênior que você opera, isto é, Marble, que por coincidência é o novo chefe dela e está orientando a garota numa operação para neutralizar você, o operador dele." (Pág.301)
🔎 "Desde que descobrira os joguinhos de Vanya para desmascarar o informante do SVR, as armadilhas que ele vinha distribuindo por aí, Korchnoi vira sua vida de agente duplo resvalar da tensão cotidiana à qual ele já se acostumara para o pavor, a constante suspeita de um desastre iminente. Por catorze anos ele vivera sob pressão e adaptara-se a ela, mas havia uma grande diferença entre vazar informações sem ninguém desconfiar e ser caçado." (Pág. 308)
🔎 "O voluntário americano que ajudei a operar foi preso logo depois de fazer sua entrega. Além de mim, o rezident era a única pessoa que sabia desse encontro. Ninguém entendeu nada, então eles partiram para a pior das hipóteses, a de que eu havia vazado a informação para os americanos." (Pág.313)
🔎 "Nesse momento ela decidiu saltar do penhasco e colocar a vida nas mãos dele.
- Eles não me recrutaram. Eu escolhi trabalhar para eles. A decisão foi minha. Assim como as condições." (Pág.315)
🔎 " - Sabe de uma coisa? Tenho plena consciência de que minha tristeza não vai trazer minha mulher de volta, mas, desde que fiquei sem ela, não acredito mais em causa nenhuma. Meu coração virou uma pedra. Perdi completamente a fé na ideologia oficial. Continuava fazendo meu trabalho, mas não me considerava um deles. Eles não mereciam minha fidelidade, assim como não merecem a sua agora. Eles mesmo justificam o nosso desprezo." (Pág. 316)
🔎 "Korchnoi explicou que um espião precisava estabelecer limites entre o risco e a inconsequência: tinha que saber ouvir com discernimento, e não necessariamente aceitar, as instruções que recebia de seus operadores americanos." (Pág.329)
🔎 "O general ainda falou sobre a santíssima trindade que lhe permitira sobreviver por catorze anos como informante da CIA: autocontrole, discernimento e paciência." (Pág. 329)
🔎 "A polícia grega conhecia o rosto dele, e agora havia uma grande operação em curso para encontrar a jovem russa que sumira do Grande Bretagne, deixando para trás um presunto no quarto." (Pág.373)
🔎 "Na manhã seguinte, Zyuganov entrou na sala de Egorov com o laudo do laboratório. O vice-diretor arrancou o papel das mãos dele, ansioso para ver os resultados: "Metka encontrado em quantidades significativas na maçaneta da porta e na borda direita do risque-rabisque. Análise: Composto 234, lote 18. Hospedeiro: Nathaniel Nash, Amerikanskij posol'stvo." Embaixada americana." (Pág.386)
🔎 " - Esse trabalho, Dominika.... ele está no seu sangue, não dá pra desistir assim. Está em cada fragmento do seu corpo: no seu nariz, embaixo das suas unhas, crescendo junto com seu cabelo. Admita." (Pág.411)
🔎 "Os russos tentaram recuperá-la ontem à noite em Atenas. Se apresentaram como uma equipe de resgate. Não faço a menor ideia de como nos encontraram. Talvez por algum informante no hotel, na polícia, sei lá. Ela matou os dois. À queima-roupa." (Pág.416)