thaís 31/01/2022
Escrevam!
Esse ensaio foi meu primeiro contato com a escrita da Virginia Woolf e preciso dizer que estou muito empolgada para ler suas obras! Estou muitíssimo curiosa para descobrir se vou gostar ou não de seus livros ? acho que vou amar.
Algo que me impressionou nesse ensaio de Woolf é como algumas coisas demoram a mudar ? ou nem mesmo mudam ?, mesmo já tendo se passado quase 100 anos desde que ela escreveu essas ideias, em 1928. As mulheres realmente conquistaram muito mais espaço e direitos no decorrer do século XX e agora no século XXI. Temos muitas autoras mulheres de enorme sucesso escrevendo romances, peças, ensaios, poesia, livros de história, filosofia e muito mais. As mulheres estão adentrando cada vez mais esses círculos que antes lhes eram negados, que eram restritos a homens brancos.
Mas, infelizmente, alguns pensamentos conservadores se mantém presentes mesmo nos dias de hoje.
Na página 82, acredito que no capítulo IV, Woolf escreve o seguinte:
"Esse é um livro importante, pressupõe o crítico, porque lida com a guerra. Esse é um livro insignificante, pois lida com os sentimentos das mulheres numa sala de visitas."
Nesse trecho, Woolf está falando sobre as críticas e comparações feitas entre Guerra e Paz, de Tolstoi, e Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. A frase não precisa de explicações, mas a autora está evidenciando o quanto histórias escritas por homens, com ênfase na vivência dos homens, são sempre mais bem recebidas pela crítica, são obras que possuem um valor simbólico e material, porque assume-se que seja uma obra que retrate uma vivência e realidade universal. Já as obras de Jane Austen nada tem a nos passar e dizer, pois se trata do dia a dia de mulheres da classe média inglesa, e seus sentimentos e sua realidade não são importantes para nós, já que mulheres não são inteligentes e complexas como os homens.
É interessante pensar que em 1928 Virginia Woolf já estava falando sobre isso. Porque mesmo hoje em dia, em 2022, ainda existem homens que acreditam que Tolstoi seja muito mais relevante que a Austen, apenas por seu livro representar a guerra. Eu mesma já conversei com homens que expressaram essa mesma frase do ensaio de Woolf.
E com isso, não pretendo dizer de fato qual obra é melhor e mais relevante, mas sim, expôr o machismo na construção e na crítica do que é uma literatura de qualidade.
Dito isso, também acho necessário dizer que não concordo com todas as análises de gênero (ela fala sexo no ensaio) que Woolf faz. Muito tempo se passou e muitas concepções mudaram, e tudo bem, já que Virginia estava escrevendo suas ideias em 1928, ainda na primeira onda feminista.
E isso também quer dizer ela não considera questões de raça, algo essencial para nós que somos brasileiros considerarmos em qualquer análise social.
Mas, em suma, é um ensaio muuuito bom, estou muito feliz por ter lido, queria ter tido essa experiência antes! Pretendo continuar lendo Virginia Woolf, estou ansiosa por isso. E fico feliz em ver que em quase cem anos dessa publicação, tivemos mudanças e avanços na literatura e em diversas outras áreas das ciências e artes. E encerro com esse trecho fantástico:
"Desde que vocês escrevam o que desejarem escrever, isso é tudo o que importa; e se vai importar por séculos ou apenas horas, ninguém pode dizer."