PorEssasPáginas 14/11/2016
Resenha: O Cisne e o Chacal - Por Essas Páginas
A série Na Companhia de Assassinos foge um pouco da minha zona de conforto literária, é verdade, mas os dois primeiros livros (A Morte de Sarai e O Retorno de Izabel) foram leituras empolgantes, que possuíam romance e sensualidade na dose certa e muito suspense e ação, o que realmente me interessava. A combinação era ótima e eu esperava que J. A. Redmerski continuasse mantendo a receita que parecia funcionar tão bem. Na verdade fiquei bem feliz quando li o aviso da autora no início de O Cisne e o Chacal, no qual ela diz que se você quer ler um romance, leia outro dos seus livros (como Entre o Agora e o Nunca), porque essa série não é sobre romance. “Oba!”, é o que eu penso. O aviso, porém, cabe direitinho quando o assunto são os dois primeiros livros. Quanto a esse, bem, ele é um romance sim, e infelizmente não é um romance bom.
Apesar de achar que a série fechou muito bem, obrigado, no segundo livro, eu estava curiosa para ler esse novo volume, uma vez que ele é sobre um dos personagens mais interessantes de O Retorno de Izabel. Porém, Fredrik Gustavsson é um personagem que funciona muito melhor como coadjuvante que protagonista. Quando você tem acesso a seus “sentimentos” e pensamentos, bem, fica difícil achá-lo tão atraente. E nem é porque ele é um assassino frio e perverso, que gosta de torturar e matar pessoas, coisa que é horrível, mas nessa série é algo interessante, ela não se chama Na Companhia de Assassinos por nada, afinal. O motivo pelo qual Fredrik é um personagem odioso (e chato, em vários momentos) é porque ele é um cara extremamente machista e pedante, abusivo e dramático. Ele fica falando o tempo todo sobre as trevas e a escuridão no seu coração, e cara, essa história já cansou. Supere. A melhor comparação que posso fazer: o cara é muito parecido com Christian Grey. E, pra mim, esse tipo de personagem não desce.
Para completar temos Cassia (que também é muito parecida com uma tal de Anastacia Steele, conhecem? Parece que a autora andou lendo muito Cinquenta Tons de Cinza antes de escrever esse livro…), uma personagem insossa, completamente submissa, com cara de anjo de candura, capaz de arrebatar e mudar o coração de um homem. Ugh. Fredrik, que está à procura de sua esposa sádica, Seraphina, mantém Cassia presa no porão de sua casa acorrentada pelos tornozelos porque acha que ela pode levá-lo de alguma maneira à sua mulher, que o traiu e quase matou. Só que Fredrik diz o tempo todo que Cassia é inocente, que se sente culpado por mantê-la assim (mas continua mantendo) e, bem, ela não fica lá no porão só para ser interrogada, ela também sacia ocasionalmente os desejos sexuais de Fredrik, e ela gosta. Ela não quer ir embora porque tem medo que Seraphina a mate e diz que ama Fredrik mesmo que, bem, ele a mantenha presa em um porão por mais de um ano, acorrentada, e transe com ela quando quer (isso para não dar o verdadeiro nome aos bois aqui).
“- Ela quer ficar com você? Meu Deus, Fredrik, ela está com uma corrente no tornozelo. Está trancada em um porão. (…)
Se ela acha que o único motivo pelo qual estou mantendo Cassia encarcerada é porque estou apaixonado por ela, isso vai parecer menos cruel (…)
“- (…) e agora está sendo mantida prisioneira, acorrentada em um porão como um animal, e o que torna tudo isso mais doentio é que ela acha que está apaixonada por você!” Páginas 145 a 147.
Não, gente. Não dá. Não dá pra ler um livro sobre um relacionamento abusivo e achar que é legal só porque tem umas cenas picantes aqui e ali e um romancinho. Não desce, não dá pra engolir. A escrita é boa, como nos outros livros, mas aqui é só boa o suficiente para que eu tenha chegado ao final do livro, mas não tão boa para que eu não tenha tido vontade de largá-lo (ou de vomitar) em alguns momentos. O livro até dá uma “explicação” para o que Fredrik está fazendo, e a trama que se desenrola daí é interessante, mas não o bastante para ignorar o desconforto. Não dá pra gostar de Fredrik, não dá pra gostar de Cassia e definitivamente não dá pra gostar da ideia deles juntos. Gostaria que Seraphina tivesse aparecido mais, uma vez que ela é o motor de toda a história e bem mais interessante, mas ela não aparece muito. Uma pena.
Mas vamos esquecer o fato de que esse é um romance sobre um relacionamento abusivo (como se desse pra esquecer). O que realmente me deixou irritada foi que eu esperava, assim como a nota da autora no começo avisava, um livro de suspense, um thriller psicológico, um mistério e, às vezes, um suspense romântico. Temos isso? A resposta é não. Temos aqui exatamente o que autora avisa que o livro não é: um romance, uma história de amor, literatura erótica, um New Adult. Mais romance, menos suspense, uma cena aqui e ali de ação, mas o romance sempre está lá, tomando conta da história. E aí eu, como leitora, me senti completamente traída.
Os personagens dos outros livros, especialmente Izabel e Victor, aparecem um pouco no livro. Izabel, aliás, é dona do que talvez seja o melhor diálogo do livro, quando ela diz umas boas verdades para Fredrik. Pena que depois ela esfria, fica com pena dele e, bem, só lendo o livro para saber o resto. Pelo menos a essência da personagem que me fez gostar dos dois primeiros livros ainda está lá, o que já é um consolo.
A edição da Suma de Letras está bonita e confortável, com a qualidade de sempre. A capa é de um material diferente, mais espesso e granulado, o que foi muito interessante. A imagem, porém, não é das minhas favoritas, prefiro as capas anteriores.
“- Se eu já tivesse ficado com outros homens, você me manteria aqui mesmo assim?
Minha mão fica rígida em seu cabelo, e eu a abraço com força, pondo a outra mão em suas costas.
Não sei.” Página 178
Na Companhia de Assassinos é uma série de cinco livros, e eu não sei se vou ler todos, especialmente depois desse. A história principal, ao menos para mim, que é a de Izabel, ainda não foi azedada, mas tenho medo que isso aconteça. Às vezes, e eu já disse isso na resenha de O Retorno de Izabel, a melhor coisa é parar quando o time está vencendo e sair por cima. E depois de ler O Cisne e o Chacal, uma obra pobre em comparação com suas antecessoras, com personagens rasos e tediosos, e que não cumpre com seu papel de suspense, bem, eu tenho certeza que algumas séries deveriam ser mais curtas.
site: http://poressaspaginas.com/resenha-o-cisne-e-o-chacal