Meridiano de sangue

Meridiano de sangue Cormac McCarthy




Resenhas - Meridiano de Sangue


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joaoggur 03/02/2024

Aridez da morbidez.
É sempre triste quando nos deparamos com um livro/autor aclamado e não o julgamos tão bom tal como a maioria. Creio que é o meu caso com Cormac McCarthy.

Vou fazer um Mea Culpa; entendo a relevância do autor para a prosa estado-unidense da segunda metade metade do século XX, e estou disposto a acreditar que minha falta de entrosamento com a leitura é oriunda da minha falta de maturidade literária. Entretanto, não consegui achar nenhum fato a me prender, nenhuma ponta para eu sentir vontade de continuar a história.

Entendendo que não faz sentido falar que ?não senti simpatia? em uma obra em que acompanhamos um grupo de bandidos que massacraram tudo que veem pela frente (em especial grupos originários da América do Norte, - sei que não foi gratuito). Este fato, por mais que tenha importância para a obra (e por ser um retrato mordaz do que ocorria no centro-oeste estado-unidense no meio do século XIX), é percalço para continuarmos a leitura; o livro pode ser resumido no bando em questão em um ciclo de cavalgar, acampar, massacrar e voltar a cavalgar, para novamente tudo se repetir.

Não posso ignorar os pontos positivos, - tentarei não ser parcial, mesmo paradoxalmente isso sendo uma resenha contendo minha opinião. O autor é marcado por sua linguagem marcante, sucinta, dispensando a prolixidade, e não posso falar que sua escrita não combinara com o estilo do livro; o Western casa bem com as-poucas-palavras, trazendo a aridez do solo para as palavras. Também irei destacar as conversas entre os personagens, - Kid, o sanguinário Juiz Holden , Glanton , Toadvine, - que mesmo não tendo muita influência narrativa, conseguem tirar leite de pedra; por alguns momentos, é o mais próximo de adentrarmos a narrativa que conseguimos.

A ideia do dualismo também é sempre marcante na literatura do autor. Em ?A Estrada? temos o dualismo entre o Pai (um ser que tende ao racional, a desconfiança excessiva, a estar na retaguarda dos fatos) e o filho (um ser esperançoso, que crê na bondade humana, que confia nos forasteiros), tal como aqui temos entre Kid (que não pode ser julgado como bom, mas é racional em um sentido moralmente aceito) e o Juiz (que usa da racionalização para a perversao).

Cormac McCarthy; odeie-o ou ame-o, tem sua influencia. Só não foi para mim. Mas não é de todo o ruim.
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Linhares 02/02/2024

Um livro sensacional, mas que não te entrega nada de mão beijada.

Quem já leu outros livros do autor, sabe que ele não costuma a separar diálogos e deixa muita coisa subentendida nas entrelinhas, o que pode fazer com que alguns pensem que o livro só fale de violência. Mas acredite, esse é um livro excepcional.
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Mathias Vinícius 01/02/2024

Um comentário sobre: Meridiano de Sangue
Meridiano de Sangue é uma obra singular que mergulha de forma virtuosa na representação da violência, apresentando-a de maneira crua e visceral ao longo de toda a narrativa. Cormac McCarthy utiliza uma prosa descritiva e sensorial, que atrai o leitor e o transporta para o cenário árido e brutal do Velho Oeste americano.

Podemos dizer que McCarthy se propõe, para este livro, uma reinvenção da mitologia do Oeste americano, baseando-se nos dados históricos dos acontecimentos ocorridos na fronteira entre os EUA e o México no século XIX e envolvendo diversas populações indígenas, como os Apaches, Comanches, entre outros. A história acompanha um garoto sem nome, conhecido apenas como Kid, que é forçado a deixar o lar ainda na infância. Para sobreviver, ele ingressa na gangue brutal do capitão John Joel Glanton, ou simplesmente Glanton, uma companhia de mercenários que, a mando dos governantes locais, atravessa o deserto com a missão de matar o maior número possível de índios e trazer de volta seus escalpos. Glanton é acompanhado pelo juiz Holden, um personagem macabro que nunca dorme e anota em um caderno todas as suas observações cruéis.

Com uma forma única de persuadir o leitor a encarar de frente as feridas mundanas e a complexidade dos seres humanos para explorar temas como moralidade, justiça e redenção. A linguagem coloquial destaca-se na narrativa, enriquecendo os diálogos e guiando sutilmente o enredo autêntico. Além disso, o autor habilmente tece uma teia de simbolismos e metáforas, mergulhando nas profundezas da condição humana e das interações entre os personagens, cujas trajetórias são entrelaçadas em um contexto brutal e implacável, com diversas alusões às passagens bíblicas que adicionam uma camada extra ao texto. Essas referências provocam uma reflexão sobre temas como fé, destino e a natureza do bem e do mal. A escrita imersiva e envolvente convida o leitor a refletir sobre a natureza da violência e da sobrevivência, confrontando-os com nuances sombrias e dilemas morais. Os ditos portentosos presentes na obra contribuem para a atmosfera densa e filosófica do livro, incentivando o leitor a mergulhar mais fundo na complexidade dos temas abordados. "Meridiano de Sangue" é uma leitura desafiadora e profundamente impactante, convidando o leitor a refletir sobre a condição humana e a natureza da violência de forma visceral e inesquecível.

Gostaria de deixar um trecho para instigar a leitura daqueles que ainda pensam em lê-lo:

"O que isso quer dizer, velho?

Cruzem aquele rio com seu exército de flibusteiros e não vão cruzar de volta.

Ninguém quer cruzar de volta. [...] E desde quando isso é da sua conta, velho? O menonita fita as trevas ensombrecidas perante os homens conforme lhe são refletidas no espelho acima do balcão. Vira-se para eles. Seus olhos estão úmidos, fala vagarosamente. A ira de Deus está adormecida. Ficou escondida um milhão de anos antes dos homens e só os homens têm o poder de despertá-la. O inferno não encheu nem a metade. Escutem o que estou falando. Vão levar a guerra criada por um louco a uma terra estrangeira. Vão acordar bem mais que os cães." (Pag.46)

Meridiano de Sangue é uma leitura desafiadora e profundamente impactante, que convida o leitor a refletir sobre a condição filosófica humana e a natureza da violência de forma visceral e inesquecível.
AndrAa58 08/02/2024minha estante
???? parabéns pela resenha. Se não estivesse lendo agora, começaria nesse momento ?




Andre41 30/01/2024

Falaram que era um clássico maravilhoso, me senti enganado
É um livro dificil, percebi isso logo nas primeiras paginas. A escolha narrativa do autor não me agradou (nao separa dialogos da narraçao! Na verdade a prosa segue de uma forma como se nao desse uma pausa). Achei uma escrita pouco atrativa. E agora focando na historia, ela é basicamente uma descriçao de brutalidade e de paisagens deserticas. Basicamente um massacre atras do outro, e isso nao me agradou.
Nao vou falar para nao lerem, mas não se enganem, nao é tão bom quanto fazem parecer!!
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Jorge.Coelho 23/01/2024

Um soco no estômago
A pontuação estranha e a falta de travessões ou aspas me fez estranhar, inicialmente, mas servem para criar uma atmosfera diferente por mexer com o ritmo da leitura. Não é um livro fácil de ler, mas é uma experiência ímpar.
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Carine 22/01/2024

A violência nas páginas deixa cicatrizes no leitor - brutal!
"Meridiano de Sangue" um convite a mergulhar fundo nos recessos sombrios do Velho Oeste, pintando um retrato cru e brutal de um território vasto e implacável.

Cormac McCarthy, com sua prosa visceral, nos conduz por uma jornada épica onde a violência e a redenção dançam em um compasso implacável.

O enredo segue a trajetória de um jovem conhecido apenas como "The Kid" - menino/rapaz, encarregado de caçar e eliminar os índios apaches que assolam as fronteiras. Nesse cenário árido e desolado, a narrativa desenrola-se com uma intensidade que ecoa a própria terra que serve como palco para essa epopeia. A crueldade da natureza humana é espelhada na impiedosa paisagem desértica. Homem e natureza são devastadores.

McCarthy não se restringe apenas à trama, mas tece uma tapeçaria literária rica em simbolismo e metáforas. Cada personagem, seja o misterioso Juiz Holden, o padre Tobin, ou os índios selvagens, são espelhos das forças primordiais que moldam a condição humana. A moralidade é despedaçada, a fronteira entre o bem e o mal torna-se obscura, e a busca pela redenção é uma jornada tortuosa e sem fim.

A escrita de McCarthy é uma sinfonia de palavras, uma prosa lírica e austera que captura a essência brutal e poética do oeste selvagem. Ele pinta imagens vívidas, repletas de detalhes cruéis, mas ao mesmo tempo, mergulha na beleza desoladora do deserto. É uma dança entre a vida e a morte, a esperança e o desespero, um mundo cruel encapsulado em cada frase.

"Meridiano de Sangue" transcende as fronteiras do gênero western - velho oeste - faroeste, emergindo como uma obra literária de impacto profundo. McCarthy nos desafia a questionar nossa própria humanidade, explorando temas atemporais como o destino, a solidão e a efemeridade da civilização diante da vastidão selvagem. Uma leitura que, assim como o oeste inexplorado, deixa cicatrizes indeléveis na alma do leitor.

Avisos: muita violência explícita, racismo, morte, abuso!

Obs.: O gênero western, também conhecido como "filme de faroeste" ou simplesmente "western," é um tipo de obra cinematográfica, literária ou artística que se passa no Velho Oeste americano durante o século XIX. Esse gênero é caracterizado por ambientações que incluem paisagens áridas, cidades fronteiriças, cowboys, xerifes, pistoleiros, índios nativos americanos e temas relacionados à expansão territorial e à fronteira. Os westerns geralmente exploram conflitos entre a ordem civilizada e a fronteira selvagem, bem como questões de justiça, honra, vingança e sobrevivência em um ambiente hostil. Ao longo dos anos, o gênero western evoluiu, incorporando elementos de drama, ação, aventura e até mesmo introspecção psicológica.
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Maria 19/01/2024

Meridiano de sangue
Eu gostei muito desse livro.
A escrita é ótima, apesar do tema ser bem pesado. Em alguns trechos tive que parar para respirar fundo e prosseguir.
Os personagens são cruéis, ultrapasam os limites, cada um com sua personalidade.
O desenvolvimento do kid, do juiz, do ex padre e o final, achei sensacional, com aquele tom fantástico misturado com realidade.
Além disso, durante toda a leitura, fiz incríveis relações com o jogo Red Dead Redemption 2, o que deixou a leitura mais incrível.
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Rosangela Max 14/01/2024

Cavaleiros do inferno.
?O que une os homens não é a partilha do pão, mas a partilha dos inimigos.?

Miséria, seca, massacres?. A história parece se passar no inferno. Se era a intenção do autor passar essa imagem, ele teve êxito.
Basicamente é a história de um grupo de homens que vai se aventurando por terras sem lei, sem esperança, sem Deus. Causando o terror.
No final, tudo se resume a um embate entre 2 homens: Um rapaz chamado de ?Kid? e um homem conhecido como ?o Juíz?. Uma das testemunhas deste embate é Tobin (um ex padre). Mais figurativo e representativo que isso, impossível!
O que não me agradou é que tudo parece girar em torno de uma violência ?gratuita?, sem sentido. E o final ficou a deriva. Mas gostei do conceito geral.
Recomendo a leitura.
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Rodrigo1001 06/01/2024

Dois Estômagos (Sem Spoilers)
Título: Meridiano de Sangue ou O Rubor Crepuscular no Oeste
Título original: Blood Meridian; or the Evening Redness in the West
Autor: Cormac McCarthy
Editora: Alfaguara
Número de páginas: 344

Bárbaro, dilacerante, selvagem e indômito.

Com um estilo de escrita épico-monumental que cria cenários de beleza estarrecedora, Meridiano de Sangue sequestra o leitor, tornando-o refém de uma orgia de sangue e violência em seu estado mais elementar.

Para lê-lo, são necessários dois estômagos.

Assim, de antemão, alerto que Meridiano de Sangue não é um livro palatável. É, na verdade, extraordinariamente indigesto. Um livro difícil. Um livro duro se ser lido até o fim. Nele se adensam os subterrâneos da barbárie, da incredulidade e do horror. Um épico que te desconcerta de início só para fisgá-lo logo à frente, mantendo-o em rédeas curtas até o virar da última página. Um livro que domina o leitor de capa à capa.

Pessoalmente, tive uma catarse com esse livro. Enveredei madrugada afora sem conseguir soltá-lo, tamanho o seu magnetismo. Pérfido e sedutor, o livro nos envolve em uma prosa brilhante e assombrosa, causando pequenos curtos-circuitos durante o processo de leitura - afinal, diante de tanta barbárie, como se pode gostar de um livro desses?

Mas, é justamente aí que reside o encanto de Meridiano de Sangue! O autor esculpe as frases. Tudo é milimetricamente pensando - cada palavra, cada vírgula omitida, cada travessão ignorado, cada situação. Tudo isso faz com que o livro não apenas conte uma história, mas tenha uma cadência, um compasso durante a leitura que nos aprisiona, nos perturba e nos desafia como leitores.

Com relação aos personagens, todos são lapidados à mão. A tocha do protagonismo é passada de personagem para personagem sem aviso prévio. A violência é entorpecente, rotineira como a chuva e corre em cada página como sangue fresco pulsando nas veias. Durante todos esses dias, enquanto lia e relia o livro, a história ficou alojada como uma lasca no meu cérebro, não se soltando mesmo quando eu estava longe dela. Não há espaço seguro (não no sentido contemporâneo do termo) de onde você possa observar o que se desenrola. Um tipo de farpa cuja dor e beleza você deseja sentir antes de finalmente extirpá-la em um ato final de desespero.

E mesmo que eu tenha lido com o máximo de cuidado possível, há partes que terei de ler novamente para poder digerir completamente suas propriedades místicas. Qualquer pessoa que tenha lido McCarthy sabe como uma única de suas frases preenche rotineiramente um parágrafo inteiro ou mesmo páginas inteiras. Não apenas isso, mas essas frases podem consistir em verbos e substantivos ininteligíveis e, às vezes, em palavras que são puras invenções: houve mais de uma ocasião em que procurei uma palavra no dicionário apenas para descobrir que, assim como as criações febris de McCarthy, é uma coisa fantasmagórica que só existe no céu e no inferno de seus personagens. Há muita associação livre em Meridiano de Sangue, mas de alguma forma, tudo é hipnotizante.

Extremamente violento, e, ainda assim, belo.

E é assim que este marco épico deve ser lido - como um aviso sobre as profundezas humanas e a própria escuridão espiritual.

Por fim, entendendo que nada mais posso adicionar à uma obra tão amplamente consagrada, estudada e debatida como Meridiano de Sangue, só me cabe alçá-lo ao meu rol particular de obras favoritas e irretocáveis.

Um recorte essencial da história da fronteira entre EUA e México no século XIX...

Uma força da natureza...

Enfim, um dos livros mais interessantes que li nos últimos tempos e que certamente me assombrará por um longo período.

Leva 5 de 5 estrelas cadentes.
Gleidson 06/01/2024minha estante
Excelente resenha meu amigo! Sintetizou bem o que o livro representa. ??




Francisco.comasetto 07/12/2023

Massa
Sensacional, simplesmente.
Tive muita dificuldade em passar pelas extensas linhas de descrição, mas terminei em relativo pouco tempo.
Muito se fala da repetitividade dos conflitos ao longo da narração, com isso concordo, mas se deu, pelo menos no meu caso, pela dificuldade em imaginar o que estava sendo descrito, talvez porque é (ainda) um pedaço muito novo da história americana para mim.
Nunca tive a mínima curiosidade no velho oeste, mas as temáticas contidas no livro são muito bem exploradas, algo que me fez permanecer firme na leitura.
O pricipal do livro concerteza é a figura do juíz. Fica claro o subtexto bíblico que cerca os dois protagonistas da narrativa, porém, nesse ponto, muitas interpretações divergem a respeito da composição do personagem Holden. Em minha percepção, ele é o próprio filho diabo, assim como Cristo é o próprio filho de Deus.
Holden cataloga cada objeto que o cerca e depois o descarta. Seja isso com os objetos arqueológicos ou a trupe de Glanton. O Diabo é visto como onipresente na vida de cada um dos membros da trupe, todos morrem e, para mim, o Kid é só mais um.
Versado em tudo que lhe possa ser útil, Holden é tão velho quanto o homem. Figura inevitável, é como se tudo na existência algum dia tenha seu fim nas mãos do Juíz. Um parasita obrigatório, nunca à espreita, sempre em plena luz, sorrindo e esperando cada um de nós.
Os diálogos são densos e confusos em muitas partes do livro, mas neles está a verdadeira essência dos protagonistas. A escrita é acessível, repleta de uma violência que espero ser somente ficção. Tal violência dificulta o progresso no livro, assim como a falta de virgulas, recurso quase que metalinguístico, talvez para transparecer o cansaço e a fadiga sentida pelos personagens.
O final é o ponto mais alto do livro. Se Cormac Mcarthy fosse meticuloso assim pelo resto do livro, seria facilmente meu livro favorito.
Impossível tocar em todos os pontos levantados pela narrativa, porém a essência está ai. Espero ler livros tão bons como este no futuro.
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Leila 18/11/2023

Misericórdia! Misericórdia! Misericórdia!
Pensa num livro bom pra c@r@lho? mas que também é ruim! Então...é o caso de Meridiano de sangue de Cormac McCarthy. Gente do céu, isso aqui é para os fortes (literalmente). Eita livrinho que me deu trabalho para ler, não porque seja difícil de ler, mas porque é indigesto demais, violento demais, há maldade em excesso aqui, então há de se ter muito estomago para lê-lo e digeri-lo. (Sim, o texto hoje é aos borbotões, porque não tenho estrutura emocional para fazer algo formatadinho e bonitinho, superem!)
Quando eu pensava que já tinha lido de tudo de ruim que o ser humano era capaz de fazer, veio o McCarthy me mostrar que eu ainda não havia visto tudo, que eu ainda tinha uma certa inocência sobre a índole humana (tadinha de mim). Esse inferno de juiz Holden está no hall de piores personagens da face da terra, cruz credo, nossinhora! que homi ruim dos infernos, era o próprio capeta encarnado, num é possível?! Picopata passou longe dele, nunca vi um ser tão insano e cruel! Ainda vai e se junta com mais um bando de endemoninhados e saem Oeste americano afora fazendo miserê e "rancando" escalpo dos outros, sem salvar ninguém, nem mesmo crianças (olha as piores cenas pra mim são justamente com as crianças) mas de piores cenas o livro tá cheio e nisso você vai se esbaldar, caso goste.
Esse foi um dos raros casos de leitura que eu fiz muito picado, tipo lia um pouquinho e parava para fazer outra coisa, como assistir uma comédia romântica bem água com açúcar no netflix (só assim pra contrabalançar a coisa). O meu estarrecimento foi do início ao fim da leitura, então vou repetir de novo, é bom, mas é muito ruim. É uma obra que te tira totalmente da zona de conforto, te tira da inocência, da beleza da vida (do céu azul, do canto dos pássaros e das cores lindas da natureza) e te joga no inferno na terra. Não pense em se apegar a ninguém não, porque vida humana e grão de areia são a mesma coisa, tá? Nem o nosso outro personagem central, o kid (sim, com letra minúscula) que de todos é o menos pior, se salva nessa insanidade toda aí e vai lendo, vai lendo pra tu ver aonde tudo isso vai dar... Então se você quiser encarar, vá bemmm preparado, porque a rapadura não é nem doce aqui nesse caso e muito menos mole. Esteja avisado. Ahh pode ser que um remedinho para engulhos também seja necessário. rs
Erika 19/11/2023minha estante
Pesadooo


Leila 19/11/2023minha estante
sim, amiga, muito pesado




Krishna.Nunes 14/08/2023

O ser humano e sua fascinação pela violência
Nós podemos questionar se a violência é natural ou algo que a sociedade faz conosco. Mas é inegável que o ser humano sente uma fascinação pela violência. Estamos constantemente em posição de luta predatória, conflito ou dominância. Somo até capazes de encontrar beleza nela, quando nos deparamos com uma obra de arte, seja uma pintura, um filme, uma canção ou um livro que esbanjam violência. Por estarmos imersos em ambientes hostis, a violência também se torna parte da nossa cultura, de quem nós somos. É esse esbanjamento exuberante de violência que torna Meridiano de sangue uma obra monumental.

A concisão e a singularidade da linguagem do texto, de maneira aparentemente paradoxal imprimem a essa narrativa um tom muito detalhado, com descrições gráficas e minuciosas, sem ser prolixo, pois cada detalhe não está ali à toa. Poucas vezes o diálogo é usado como recurso textual. As descrições do calor escaldante, da imundície, da secura, da poeira e da lama, da sede e do sangue, da eminência da morte, são normalmente o fio condutor para a criação de cenas esplendorosas.

O kid, um anti-herói sem nome, frágil e despedaçado, não passa de um garoto que fugiu de casa aos 14 anos e que algum tempo depois viaja ao meio-oeste americano. Ali ele será exposto a perigos que exigem de si uma capacidade de sobrevivência desmedida, e acabará por ser recrutado para fazer parte de um bando de mercenários liderados pelo capitão Glanton, que viaja pelo deserto praticando saques e assassinatos, coletando escalpes para serem vendidos a governadores mexicanos que pagavam por esse serviço.

O deserto não existe por si só. Ele necessita dos seus atores para fazer com que o clímax, que deixa o leitor num estado de constante expectativa, vá sendo elevado a um nível de desafio sobre-humano. Um grupo diverso de homens de origens variadas, com passados obscuros e diferentes motivações, cada um com um desejo de sobrevivência tão pungente que os compele a atos absurdos. Tudo os obriga a se munirem da violência como único recurso que os impede de passar de atores para cenário. De carne com sangue pulsante para poeira e ossos embranquecidos pelo sol.

A trama em si é repetitiva. Acompanhamos esses homens em seu trajeto pelo deserto encarando dia após dia as doenças, perigos, fome e poeira, até chegar ao próximo destino onde irão mais uma vez saquear, destruir e violentar. A grande constante nessa história é a morte vil, com o abandono de toda a fé e esperança.

O enigmático juiz Holden, uma personagem absolutamente atípica de um homem gigantesco, sem cabelos num corpo albino, um homem culto em meio a toda aquela ignorância, artista e conhecedor de literatura, filosofia e falante de vários idiomas, serve para o autor como o receptáculo e a voz de todas as referências que ele desejava tomar como temas filosóficos e psicológicos nessa obra. Referências colossais a Milton, a Dante, a Goethe e especialmente à própria bíblia são desenroladas nas lições do juiz e nos debates que ele desencadeia ou protagoniza.

A narrativa bíblica e a dualidade entre o bem e o mal estão sempre presentes, especialmente no arco final do livro, em que o kid retorna ao protagonismo numa perseguição final em que as referências morais começam a perder o sentido para aqueles miseráveis buscando nada mais que a própria sobrevivência.

A estética da violência, do cenário e da linguagem permitem que a obra de McCarthy seja comparada à grande obra-prima da literatura brasileira, Grande sertão: veredas. Com um ambiente de homens brutalizados e um cenário desumanizante que exigem a violência como recurso inescapável, e com linguagens que se moldam de forma poética à secura desses ambientes, cada um desses livros remete a contextos de guerrilha, fé, sobrevivência e morte que são inseparáveis das Histórias de cada um dos seus países.
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PauloLeal 08/08/2023

Um livro que transforma algo horrível em algo apreciável.
"Meridiano de Sangue", a obra-prima de Cormac McCarthy, nos transporta para um cenário implacável do Velho Oeste, onde a violência, a moralidade e a busca interior entrelaçam-se em uma narrativa complexa. Assim como Ismael, narrador de Moby Dick, o protagonista sem nome do livro é um observador atento das catástrofes que cercam sua jornada. A influência de Herman Melville é evidente, como nos encontros do "Kid" com personagens misteriosos, como o estranho Elias em Moby Dick. Essa intertextualidade reforça a profundidade da trama, que dialoga bem com o estilo gótico sulista do McCarthy.
A viagem do "Kid" pelo deserto é uma jornada interior, uma exploração da alma humana em meio à brutalidade da história. A presença do terrível Juiz Holden, um vilão tão ambíguo quanto cruel, evoca as complexidades de Moby Dick, onde a baleia branca e corpulenta (assim como o Juíz) personifica o caos. McCarthy tece uma narrativa rica em detalhes.
No entrelaçamento desses elementos, "Meridiano de Sangue" nos conduz a um reflexo sombrio do Velho Oeste, desconstruindo a ideia ingênua de progresso e mostrando a barbárie que permeou aquela época. Com uma estrutura única e personagens marcantes, o autor nos desafia a questionar os propósitos ocultos da narrativa, assim como o protagonista do romance questiona os horrores que testemunha. Um livro que nos faz lembrar que "não são os anos, querida amiga, e sim os momentos que contam". E esses momentos, em "Meridiano de Sangue", são marcados pela complexidade da moralidade, a profundidade da busca interior e a crueldade que habita os recantos da alma humana.
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Campos 06/08/2023

Não é para mim
Sei que muita gente gosta do autor, mas para mim não funcionou. Um texto arrastado, com falas enormes, e cenas de crueldade com animais sem sentido algum, sei que fazem parte de um contexto histórico. Mas para mim nada funcionou
Krishna.Nunes 14/08/2023minha estante
Meridiano de sangue faz enormes referências a Paraíso perdido, A divina comédia, Fausto e principalmente à Bíblia. Tudo isso delimita nele um contexto filosófico que, se você já não conhece previamente, dificilmente apreciará as nuances do romance. Aí só sobrará violência gratuita, como você mesmo disse.




Adriana Scarpin 23/06/2023

Só recentemente li O Grande Sertão Veredas e não deixei de pensar nos paralelos entre ele e Meridiano de Sangue, não em termos de linguagem que são bem distintos, mas na construção da mitologia do bem e do mal.
Pude notar e entender também quando dizem que esse livro é infilmável, não tanto pela extrema violência presente, mas pela lacunas, pelas ausências, pelo subentendido que não aparece na narração, uma coisa que normalmente não é bem vista pelo público médio de cinema (tem gente que fala mal do final de Onde os Fracos não têm vez até hoje por conta disso).
Outra coisa que me saltou aos olhos foi o paralelo entre Meridiano e The Road, A Estrada não é um futuro distopico no sentido que todo aquele horror que se passa num mundo pós apocalíptico já foi cunhado no Velho Oeste, antes também na Idade Média e por aí vai desde a ascensão dos homens no mundo. The Road somos nós em qualquer tempo, assim como Meridiano de Sangue.
No mais, Juiz Holden, o demônio em pessoa, é uma das mais emblemáticas personagens da literatura no século XX.
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