Meridiano de sangue

Meridiano de sangue Cormac McCarthy




Resenhas - Meridiano de Sangue


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Magasoares 27/03/2020

Sangrento
Uma verdadeira estória de faroeste, com muito sangue... e bota sangue nisso!!! Acho que nunca tinha lido um livro com pessoas tão sanguinárias e más.
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phddelavia 16/02/2020

Sangue como suco
Jamais imaginei que leria uma carnificina
tão gigantesca e cruel. É muita maldade banalizada num livro só, não no sentido ruim, veja bem. É de fato um livro carregado de péssimas sensações, mas lindamente bem escrito. Preciso reler esse livro para entender tudo que há por trás do que está explícito. Vale a leitura, mas cuidado, o sangue jorra das páginas.
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Nilza Russo 03/07/2019

Violento, mas valioso
Acabei a leitura de Meridiano de Sangue, do McCormac.
Foi muito difícil. Houve momentos em que eu quis abandonar a leitura.
É o livro mais violento que eu já li na vida.
Não dá para gostar de ter lido este livro. Não é um livro gostável. Como poderia?
Mas concluir a leitura dá um gosto de pequena batalha vencida. Ganha-se uma chave para refletir muitas questões e, de quebra, observa-se com perplexidade uma das personagens mais intrigantes da literatura recente: o aterrorizante juiz Holden.
Embora pareça aventuresco, o ritmo é lento, assim como é lenta a jornada das personagens a cavalo no deserto inóspito, em meio à carestia e violência extrema, um estado de guerra, na oeste americano do século XIX.
Não é um livro de redenção, as descrições são realistas e chocantes (com linguagem direta, porém não vulgar). Há momentos poéticos, ainda que enregelantes.
O livro já é um grande clássico norte-americano, sem sombra de dúvidas.
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Biblioteca Álvaro Guerra 14/12/2018

Esta obra-prima descreve o mundo brutal na fronteira entre o Texas e o México
na metade do século XIX. Ao se basear inicialmente em fatos reais - uma gangue
de pistoleiros que cruza uma terra de ninguém com a missão oficial de escalpelar
índios-, McCarthy recria um Oeste americano violento e imprevisível, em uma
história com dimensões apocalípticas.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. De graça!


site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788560281930
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Toni Nando 28/04/2018

Cruel
Livro muito forte, recheado de horrores, mas com um enredo sensacional. Vale a pena
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Pedro 12/04/2018

Na árida fronteira entre Estados Unidos e México, um jovem é recrutado por mercenários contratados pelo governo para exterminar o maior número possível de índios. Ao perseguir os temidos apaches, a gangue de colecionadores de escalpos aos poucos se desvia do propósito original da expedição, e o grupo se vê perdido entre desconfianças, intrigas e carnificinas. Neste sanguinário faroeste de Cormac McCarthy, a fundação de um país surge entre os delírios de grandeza e a ambição desmedida de homens sem honra, para os quais a violência prescinde de justificativa. Com uma linguagem dura e personagens inesquecíveis, McCarthy mostra as entranhas da História, na qual civilização e barbárie se confundem, e sua descrição da brutalidade nos espanta por detalhar uma violência que até hoje não pode ser inteiramente compreendida.
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Alan Martins 27/07/2017

A história violenta do Oeste dos Estados Unidos
“O homem que acredita que os segredos do mundo estão escondidos para sempre vive em mistério e medo. A superstição o arrasta para o fundo”. (MCCARTHY, Cormac. Meridiano de sangue. Alfaguara, 2009, p. 210)

Assim como boa parte da história do mundo, a história da expansão territorial dos Estados Unidos foi marcada por episódios sangrentos e horríveis. Esse livro fala sobre a violência do Oeste no século XIX. É uma narrativa de estilo Western, misturando fatos históricos e ficção, com o estilo do autor. Um livro violento, de leitura pesada, porém que revela como a violência moldou o mundo. Afinal, conquistas territoriais nunca foram pacíficas.

UM POUCO SOBRE O AUTOR
No início de sua carreira, McCarthy não era um escritor tão aclamado assim. Seu trabalho foi sustentado por instituições que apoiam artistas, seus livros não vendiam tanto. Isso mudou nos anos 1990, quando venceu o National Book Award, um prêmio muito importante para a literatura nos EUA.

Atualmente é um escritor de sucesso, com boas vendas, estudado em universidades e detentor de um prêmio Pulitzer. Também é considerado um dos maiores escritores da história recente de seu país. O que muitos dizem, também, é que ‘Meridiano de sangue; ou o rubor crepuscular no Oeste’ (nome completo da obra) é sua obra-prima.

Já teve obras adaptadas para o cinema, sendo a adaptação de maior sucesso o filme ‘Onde os fracos não têm vez’, filme que venceu o Oscar. ‘A estrada’ lhe rendeu o Pulitzer de melhor ficção. A sua qualidade de escrita é inegável, reconhecido por leitores comuns e por outros escritores. Sua obra merece ser conhecida.

“Um homem sofre pra entender sua mente porque sua mente é tudo o que ele tem pra entender a mente”. p. 25

O VELHO OESTE SANGRENTO
Para expandir seu território ao Oeste, os EUA não mediram esforços. Houve diversos conflitos, o país entrou em guerra com o México. Saiu vitorioso dessa guerra e teve uma grande área territorial anexada, compreendendo o Estado da Califórnia e partes de outros Estados, pois eram território mexicano até então. O Texas era uma república independente até o início dessa guerra, em 1846 e desempenhou um papel importante nessa guerra.

No meio disso tudo também havia os índios, que eram vistos como pagãos. Muitas tribos foram dizimadas, não eram bem vistos por nenhuma das duas nações. Porém, lutaram até o fim. Algumas tribos eram bastante violentas, como os Apaches, que escalpelavam suas vítimas.

O livro se passa logo após essa guerra, onde os EUA ainda continuavam a se expandir, mandando gente ao Oeste. Um ambiente isolado e muito deserto era quase uma terra sem lei. Havia grupos de batedores que tocavam o terror nas aldeias e vilas. Para o mundo ser como é hoje, muita gente morreu e costumes foram esquecidos, perdidos no tempo com a imposição de outros.

“Só agora a criança se despe enfim de tudo que foi. Suas origens tornam-se remotas como seu destino e nunca mais outra vez por mais voltas que o mundo dê haverá plagas tão selvagens e bárbaras a ponto de pôr à prova se a matéria da criação pode ser moldada à vontade do homem ou se o seu próprio coração não é uma argila de outro tipo”. p.10

UM ENREDO VIOLENTO
A história se inicia falando sobre o nascimento do protagonista e como ele fugiu de casa aos 14 anos. Ele não possui nome, é conhecido como “Kid” e há muito pouca descrição sobre seus sentimentos e seu físico. Seus diálogos são breves. É um jovem com tendência à violência que acaba se tornando parte de um grupo que viajará para o Oeste.

Esse grupo se dá mal, pois é atacado por índios e poucos sobrevivem. O Kid teve sorte e logo após se junta a outro grupo de pistoleiros, liderado por uma figura histórica, o mercenário John Joel Glanton. Uma outra figura histórica está presente nesse grupo, o juiz Holden. São dois homens que realmente existiram, porém há muito menos informações sobre o segundo.

É um grupo que mata a troco de dinheiro, governos o contratam para proteção. Porém, matam até gente inocente, além dos índios que são o alvo principal. Além de matar, roubam, queimam aldeias, estupram, maltratam crianças e animais, e escalpelam. Há muito sangue nesse enredo e algumas cenas fortes e descritivas.

No meio do livro o foco pousa mais sobre Glanton e Holden, voltando a focar no Kid na parte final. O grande antagonista é Holden, um ser desprezível, que provoca certa admiração pela sua inteligência, mas que causa repulsa pela sua violência. McCarthy quase o transformou numa figura mitológica, quase um ser fantástico.

“É da natureza do mundo vicejar e florir e morrer mas nos negócios do homem não há definhamento e o zênite de sua expressão sinaliza o começo da noite”. p. 155

UMA ESCRITA DIFERENTE
Quem já leu ‘Onde os velhos não têm vez’ — confira minha resenha AQUI — já sabe como se trata de um autor de escrita violenta. O juiz Holden se assemelha ao antagonista desse livro, Anton Chigurh. Os dois são a personificação do mal, um mal imparável. McCarthy já escreveu diversos Westerns e retrata bem a violência do Oeste. E quem já leu ‘A estrada’, sabe que ele pode escrever diálogos curtos e, às vezes, confusos.

Nesse caso, a confusão é maior. O texto é todo corrido, não há marcação de diálogo. Ele não fez uso de aspas ou travessão. A narrativa em terceira pessoa é direta. A falta de vírgulas também causa estranheza, há muitos momentos onde elas deveriam ser usadas, porém não são. Isso pode ser conferido em algumas citações que inseri aqui.

Tudo isso deixa o livro um pouco arrastado. Há muita ação e violência, o que poderia deixar a leitura frenética, mas a forma como é escrita deixa o texto cansativo. Não é fácil encontrar o sentido do enredo, aonde que deseja chegar. Não há um objetivo central que motiva os acontecimentos. Passa a ser mais uma amostra da violência desse período da história dos EUA e um pouco de filosofia sobre o homem, porém o autor deixa as interpretações para os leitores, não entrega nada mastigado. Também relata o preconceito contra os índios e negros, como foram injustiçados.

“[…] o fogo que de fato contém em si parte do próprio homem pois este o é menos sem ele e se vê separado de suas origens e se torna um exilado. Pois cada fogo é todos os fogos, o primeiro fogo e o último que um dia haverá de ser”. p. 256

SOBRE A EDIÇÃO
Quem conhece os livros da Alfaguara sabe que a editora possui um padrão para suas publicações. Esse não poderia ser diferente. Brochura, capa comum com orelhas, papel Pólen Soft e boa diagramação.

A tradução de Cássio de Arantes Leite ficou boa, porém algumas palavras adaptadas ficaram um pouco ruins, como utilizar a expressão “diacho”. Mas foi bem legal ele ter deixado alguns termos em inglês, assim como não traduzir “Kid” para “Garoto”. É uma tradução digna, para um livro com momentos confusos, de escrita estranha. O trabalho da revisão foi muito bom.

“Pois a existência tem sua própria ordem e esta nenhuma mente humana pode abarcar, sendo a própria mente apenas mais um fato entre outros”. p. 257

CONCLUSÃO
É um livro um pouco difícil, pela forma que é escrito. Não é uma narrativa muito empolgante nem muito rápida, porém é interessante, cheia de valor histórico. O leitor precisa interpretar bastante o que o autor quer dizer com tudo aquilo. Dos livros que já li de McCarthy, não considero esse o melhor.

Quem não gosta de sangue, violência, às vezes descritiva demais, não vai gostar muito da leitura. Em certos pontos é preciso ter estômago. As personagens interessantes. Não diria que o protagonista é forte, porém o vilão é. Holden conseguirá o ódio de qualquer um, um dos maiores violões já criados.

Acredito que valha a pena a leitura. O difícil é conseguir o livro, só em sebos e no site Estante Virtual. É bem possível que a Alfaguara republique-o. Vamos aguardar.

Obrigado por ler.

“Qualquer um que fosse capaz de descobrir seu próprio destino e portanto de eleger algum curso contrário conseguiria quando muito atingir a mesmíssima localização na mesma hora designada, pois o destino de cada homem é tão grande quanto o mundo que ele habita e contém dentro de si igualmente todas as oposições”. p. 345

Minha nota (de 0 a 5): 3,5

Alan Martins

Visite o blog para mais conteúdo.

site: https://anatomiadapalavra.wordpress.com/2017/07/27/minhas-leituras-28-meridiano-de-sangue-cormac-mccarthy/
Lola444 03/04/2020minha estante
Adorei tua resenha e fui ler as outras, você escreve muito bem!




Luiz Miranda 10/04/2017

Viagem ao inferno
Não é pra iniciantes nem pra leitores casuais. Vencer Meridiano de Sangue é domar um touro pelo chifre: parágrafos longos e sem vírgula, dezenas de metáforas, tudo traduzido nos moldes do material original, o que não apenas atropela a gramática convencional, como desafia o leitor a um nível de concentração gigantesco.

Uma jornada ao inferno do Velho Oeste, onde índios, mexicanos e americanos se revezam em atos de sadismo e crueldade inenarráveis.

Um pântano literário pra ser vencido a terçadadas. Quanto mais você se aprofunda mais absurdo e surreal fica. Obra-prima pra poucos.
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su fern@ndes 01/02/2017

A última e mais difícil leitura do mês de janeiro/2017. Não pela escrita do Cormac, que dispensa apresentações e que eu já conhecia. Mas, meus amiigos, foi difícil sobreviver a brutalidade desse livro! Uma jornada absurda pelo oeste americano. Mercenários contratados para matar o maior número possível de índios e trazer seus escalpos para as autoridades locais. Um menino sem eira, nem beira se junta ao grupo e, para sobreviver, vale tudo. Pessoas (adultos, crianças, bebês) são mortas o tempo todo, animais são mortos o tempo todo. Difícil. Você chega à última página ardendo e sangrando, mas respira fundo e admite que valeu o sofrimento. Um grande livro! Acho que vou ficar assombrada por uns tempos, principalmente por conta de uma das personagens mais emblemáticas que já conheci: o juiz. Leitura recomendadíssima, mas só quando a cabeça estiver muito no lugar (e o estômago também). Observação: fronteira Estados Unidos/México-impossível não fazer certas "associações" durante a leitura.
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Julio.Argibay 29/09/2016

México x EUA
Um livro bom para quem gosta de literatura de guerra. Gostei de saber a dinâmica da guerra da fronteira entre EUA e México.
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Rub.88 23/08/2016

A Guerra Esperava Pelo Homem.
O velho oeste mais que selvagem; Insano e animalesco. A guerra contra os nativos norte americanos atraiu muitas almas perdidas para suas fileiras degeneradas.
A estória acompanha o garoto, personagens sem nome e sem perspectivas, que se junta ao grupo de caçadores de escalpos chefiada pela figura sinistra e hipnotizante do Juiz Holden, homem totalmente imberbe que tem a mania de andar pelado e de fazer anotações num caderno.
Ambientes áridos, clima escaldante ou gélido, modorrentas cidades mexicanas, fome e sede de causar loucura, massacre generalizado da espécie humana e nenhum sentimento nobre. Nada de amor. Nada de compaixão. Nada de esperança. Nada de bom no horizonte. Tudo isso é narrado na linguagem mais dura e seca possível. Tudo pela sobrevivência. Tudo.
Eu não li muitos faroestes. O homem de olhar duro cavalgando sozinho para o por do sol. O saque rápido do revolver que solta muita fumava quando disparado. Brigas em bares que tem a ícone porta bang bang. Duelo ao meio dia, na rua principal, para a população assistir enquanto almoça. Tiros contra flechas na refrega glamourizada contra os peles-vermelhas. Nada disso se encontra nas paginas do O Anoitecer Vermelho no Oeste. Neste fantástico livro só existe a crueldade, a humilhação, a desconfiança e muitos mortes sem nenhuma lagrima derramada, tanto de quem morre como de quem mata.
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AleixoItalo 22/11/2015

Meridiano de Sangue é uma fábula sem objetivo e sem moral, uma odisseia na qual os personagens vivem e morrem pela lei da bala. Nenhum deles está lá para apresentar sua ideologia ou sequer têm a oportunidade de divagar sobre o rumo da história, todos simplesmente jogam com as cartas que tem em mãos, uma partida onde não existe o certo ou o errado mas, apenas a lei do mais forte.

Cormac McCarthy é considerado um dos maiores romancistas norte americanos e viu algumas de suas obras adaptadas para o cinema — Todos Os Belos Cavalos, Child of God e os aclamados, A Estrada e o vencedor do Oscar, Onde os Velhos Não Tem Vez. O autor é um dos expoentes da safra "neo western" — se é que tal gênero exista oficialmente — que seria baseado no rompimento com os clichês do western clássico. O gênero que outrora presava a aventura e romantizava a expansão norte americana, traçando linhas bem definidas entre mocinhos e bandidos, nas últimas décadas se tornou mais sóbrio e realista, imergiu em tons de cinza, teceu seus próprios discursos críticos e passou a tratar da existência do homem nessas paragens regidas pela violência.

Em Meridiano de Sangue somos apresentados à um personagem sem nome, o Kid, nascido de uma mãe morta e nunca batizado pelo pai, conhece desde cedo a violência e nenhum futuro melhor lhe é apresentado, amaldiçoado por tal sina, abandona seu passado e parte sozinho numa jornada sem rumo — e sem desfecho. Durante a jornada, encontra e é alistado pelo o bando de John Joel Glanton: personalidade histórica que liderou grupos de mercenários, contratados pelas autoridades para assassinar e reclamar escalpos dos Apaches.

Aqui não temos um único personagem principal: o Kid, estoico e de poucas palavras, está disposto à qualquer coisa para completar as missões que lhe caibam, como um bom soldado, não lhe cabe divagar a própria existência — nem mesmo em ser o protagonista; divide com ele esse papel, o próprio Jhon Glanton, líder sanguinário e genial, homem de poucas palavras e disposto a tudo em nome do dinheiro — inclusive retirar escalpos de qualquer pessoa na ausência de um índio; e o mais notável e misterioso personagem do livro, conhecido apenas como O Juiz, uma figura sem passado ou renome, que surge e desaparece ao seu próprio bel-prazer, com direito a feitos fantásticos — como fabricar munição praticamente do nada no meio do deserto.

Além da obra portentosa, os personagens de Meridiano de Sangue representam por si só arquétipos universais. O Kid é o típico homem médio, motor da civilização, sem aspirações ou sonhos, apenas apto a executar o que a história exige de si. Jhon Glanton é uma amostra de que muitos dos heróis que nós admiramos hoje em dia, só perduraram porque escreveram seu nome pelo sangue, afinal a maldade é muito mais duradora do que qualquer bondade executada. E gosto de enxergar o Juiz como uma metáfora para a natureza humana: mal, inteligente, pragmático, “senhor” de todas as formas de vida e defende com argúcia que o objetivo do homem no mundo é fazer a Guerra, enquanto anota tudo em sua caderneta e defende que nada que Ele não tenha permitido existir — e tenha contabilizado — deve existir.

O livro é uma obra pesada e densa e McCarthy não preza pela sutileza, abraça a violência de tal forma que mais cedo ou mais tarde nos acostumamos à ela. O primeiro livro que li do autor foi na minha adolescência, Onde os Velhos Não Tem Vez e até hoje me lembro de como fiquei revoltado com uma trama que não tinha justiça e terminava de modo abrupto. Levei mais alguns anos para me aventurar de novo pelas páginas do autor e me apaixonar por elas. Disso se trata sua obra: esgarçar a violência como se abre uma ferida, afim de mostrar que ela faz parte da nossa história.

Uma das maiores qualidades do autor é o seu poder de descrição, sublime e etérea ao ponto de atingir uma aura mística — destaque para a descrição do fogo de santelmo, que cobre o bando de Glanton como se eles fossem cavaleiros espectrais vindos de outro mundo:

"Nessa noite atravessaram uma região elétrica e selvagem onde estranhas formas de fogo azul suave dançavam acima do metal dos arreios e as rodas das carroças giravam em arcos de fogo e pequenas formas de luz azul pálida vinham pousar nas orelhas dos cavalos e nas barbas dos homens. Por toda a noite relâmpagos difusos sem origem definida estremeceram a oeste atrás das massas tempestuosas de nuvens da meia-noite, provocando um dia azulado no deserto distante, as montanhas no horizonte súbito abruptas e negras e lívidas como uma terra longínqua de alguma outra ordem cuja genuína geologia fosse não pedra mas medo. Os trovões aproximavam-se a sudoeste e raios iluminavam todo o deserto em torno deles, azul e estéril, grandes extensões estrondeantes expelidas da noite absoluta como algum reino demoníaco sendo invocado ou uma terra changeling que com a chegada do dia não deixaria mais vestígio ou fumaça ou destruição do que qualquer sonho perturbador."

A narrativa ganha ares místicos e a dissociação com a realidade é tal, que podemos considerar a obra como pós-apocalíptica — mesmo se passando no século IX. Embora desprovida de glória, a jornada efetuada pelo bando sanguinário de John Glanton é épica. No intuito de fazer do homem um mero coadjuvante perante a natureza, McCarthy pinta o México como um planeta distinto, belo e hostil: as montanhas geladas de altitudes indefinidas, os desertos de extensão infinita, as florestas tropicais, o contato com o povo estranho que habita o local, especialmente com os índios portadores de badulaques e troféus macabros retirados de suas vítimas, são praticamente paisagens de outro mundo.

As terras ermas da imensidão mexicana são uma emulação do Inferno de Dante, onde os personagens pagam pelos seus pecados com sua própria existência. Um dos maiores romances do século XX e uma espécie de ensaio sobre a solidão e a maldade humana. Cabe aos mais fortes sobreviverem, ninguém vai ajudar, ninguém vai sequer argumentar a favor do certo ou errado, porque o meridiano de sangue é uma terra onde os fracos não tem vez!
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Júlio 04/02/2015

Esse livro é focado ao redor da violência, e utiliza seus diversos tipos (violência gerada por crueldade, necessidade, entretenimento, etc) para contar uma história genial, não em trama mas em forma e estética. Apesar de conter vários clichês do gênero (protagonista sem nome, excursões ao México, americanos vs índios) é uma obra única, singular na beleza em que descreve os cenários mais áridos e violentos que eu pude conferir na literatura (junto com a Ilíada).

A história gira em torno de dois personagens, o protagonista e o juiz Holden, mas é seguro dizer que sem Holden a história não seria o que é, e o protagonista muitas vezes serve apenas como olhos para que possamos observar o comportamento do juiz. Ele provavelmente será, isso se já não for, um dos personagens mais icônicos da literatura americana, que não deve nada em termos de complexidade e originalidade mesmo quando comparado a Ahab e Gatsby.
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Gustota 14/07/2014

Cavalgando com o diabo
Por mais que queira interpretar esse romance de desconstrução da figura do cowboy, não consigo pensar em termos que não sejam o de uma reconstrução do inferno, cavalgando na companhia do diabo.

Sob uma linguagem que lembra algo entre Melville e Hemingway, conhecemos a história de kid (criança, assim mesmo, no diminutivo), rapaz sem nome nascido num mundo de violência do desbravamento do Oeste americano. Sua predisposição para a violência o coloca num grupo paramilitar demarcador de fronteiras, que acaba exterminado por um grupo de índios. Sendo um dos únicos sobreviventes, acaba se unindo a um grupo de mercenários caçadores de escalpos, buscando matar índios entre o México e o Texas em função dos pagamentos do governo.

Essa é a primeira premissa, mas não se deixe levar por esse tipo de proposta de filme do John Wayne, o que temos na verdade é um mar de violência sem limites. Os caçadores de escalpos são homicidas inacreditavelmente cruéis, esmagadores de crianças e estupradores ocasionais de mulheres. Temos a impressão de que, se no início o autor nos guiou para pensarmos que kid se uniu a um grupo de mocinhos, na verdade percebemos que ele está muito mais próximo de estar cavalgando com os vilões.

Vilania é um termo vago para tratarmos a obra. No mundo amoral do Velho Oeste de McCarthy, não há uma definição clara entre caráter e sua falta. Temos a impressão de que alguns personagens possuem maior caráter e maior compaixão, como kid, Toadvine e o ex-padre Tobin. Em contraposição aos líderes dos escalpeladores, Glanton e o juíz Holden, completamente amorais. Este segundo é um caso à parte: Holden, um gigante de dois metros com alopécia (sem nenhum pelo no corpo), pálido e sempre sorrindo. Domina uma série de ciências naturais (botânica, geologia, zoologia, paleontologia e antropologia evolucionista), fala vários idiomas, entre outros domínios intelectuais. No entanto, Holden é um personagem aterrador, absolutamente amoral, sádico e pervertido, mesmo sempre calmo, político e conciliador.

Ele nos é apresentado no início do livro interrompendo um sermão de um padre numa capela, acusando-o de pedófilo e zoófilo e causando seu linchamento. Posteriormente ele revela, cheio de bom humor, que nem o conhecia e fez aquilo por diversão. Vemos sempre ele um passo à frente de todos os personagens, sempre lúbrico, seminu e sempre buscando mais violência dentre as violências praticadas pelo grupo de escalpeladores, incluindo matanças de animais domésticos e abusos de crianças, matando-as depois. Sua inteligência sempre se sobrepõe estranhamente ao seu caráter perverso. E no final, causa direta ou indiretamente a morte de todos os membros do grupo de escalpeladores.

A impressão que tive quando o personagem apareceu, quando o ex-padre Tobin sente acima de todos o desconforto moral que aquele indivíduo causava e seu pedido constante que ele seja morto, foram me dando a impressão de que Holden é o próprio diabo. Ele seria uma espécie de Mefisto, personagem que concilia a sedução intelectual, o desprezo religioso e a mais grosseira e selvagem das violências. O final bacante, com um Holden que não envelhece e o misterioso epílogo confirmam o triunfo do mal e da violência sobre o caráter na obra, de um personagem que coraria até mesmo o coronel Kurtz. Esse final, extremamente próximo ao Fausto de Goethe, nos faz questionar a existência material de Holden.
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