bardo 20/05/2023
Engana-se quem subestima o relativamente curto romance O Deserto Dos Tártaros de Dino Buzzati, a despeito do número de páginas, a densidade e o peso da obra impressionam. O enredo aparentemente simples; as aventuras de um oficial aos poucos vai adquirindo contornos claustrofóbicos e angustiantes.
Pode-se dizer que quase assume contornos fantásticos ao mesmo tempo em que é dolorosamente factível e similar as experiências dos mais variados leitores. É o tipo de livro que bem pode criar uma crise existencial ou agravar a já existente.
Nosso protagonista lança-se a um ideal, a primeira vista seu objetivo nos parece tolo, fútil, insignificante, o autor todavia concede ao seu personagem tanta verdade, que aos poucos somos contaminados por sua angústia e espera desesperadas. A espera na narrativa adquire características quase que místicas, meio que uma profissão de fé. Tal sensação é confirmada quando um personagem esclarece ao protagonista os fatos que se sucederam à sua chegada ao Forte.
O autor escolhe o microcosmo de um forte e da vida militar, mas o que é tratado claramente pode ser extrapolado para outros contextos. Aliás a narrativa torna-se ainda mais atual em nosso mundo massificado, onde os rituais perdem significado, o próprio tempo torna-se fugidio e a existência tem seu sentido fragilizado.
Quando o leitor já está destroçado, em dado ponto pensa que o autor poderia parar por ali, não, a narrativa avança e o autor faz algo que torna tudo ainda mais doloroso e devastador. Curiosamente o final em si, não é totalmente melancólico, num certo sentido vai reforçar a discussão sobre propósito presente no livro. Em resumo é um livrinho para ser lido e provavelmente relido, tem muito para se pensar aqui.