Euflauzino 29/09/2014A vida passada a limpo (com pano sujo)Iniciei o desejo da leitura deste livro, movido apenas pelas indicações e parcas resenhas que li a respeito. Já em minhas mãos namorei um tiquinho me deliciando com as orelhas, uma delas escrita por Jô Soares e com a contracapa feita por Pedro Bial. E vocês acham muita propaganda? Isso é porque não viram o conteúdo ainda, algo que não há parâmetros com os quais eu possa comparar.
Antes que eu morra (Record, 319 páginas) é um livro diferente de tudo o que li, isso por si só já me faria cair com tudo pra cima, com apetite. O livro começa com um oferecimento sagaz, inteligente e com citações que eu adoro, mas quando vem carregado delas começo a torcer o nariz, porque é como se o livro fosse a simples reescrita de algo que já passou, sem ideias novas ledo engano este meu:
"Ninguém lê um livro. Lê-se através dos livros."
Luis Erlanger, hoje diretor de Análise e Controle de Qualidade da Programação da Vênus Platinada, sim ela, a TV Globo, brinda-nos com um livro surpreendente. O psicanalista Bernardo Genuss aceita como paciente alguém que quer pagar para ser ouvido, que tem ânsia de colocar para fora sua história. O problema é que sua história é bizarra, absurda, mas plausível:
"... numa sessão de cinema, na busca discreta por comprimidos ansiolíticos no bolso, acabei por engolir duas diminutas baterias de íon-lítio, supostamente compradas para meu igualmente microtecnoaparelho auditivo em teste..."
Olha só que loucura! E toma-lhes referências! Avalanche de informações, oceano, carro desgovernado nos alucinando todo momento. Corre-corre para o pai Google pra conferir. Às vezes cansativo, mas imensamente saboroso. Caldo grosso! Mistura de arte, filosofia, psicologia, ciência, política, cultura inútil.
Para mim cultura inútil não existe, tudo se aproveita, tudo se transforma. Sigo a máxima de Chico César: o carneiro sacrificado morre, o amor morre, só a arte não!. Protagonista corre agoniado ao elevador e pensa sobre o medo, sobre a morte:
"... quando o veterano de guerra Dwight Truman, condecorado por heroísmo em campo de batalha porque se esgueirou em terreno minado para salvar um companheiro, foi decepado na altura do peito, ao tentar sair de um Otis parado entre dois andares de um edifício... Quando estava ultrapassando o vão, o elevador movimentou-se. Já viu? Aconselhável não ver. O cidadão escapa de dezenas de Schrapnellmine alemãs... para morrer esmagado entre as seções de vestuário masculino e artigos esportivos de uma Sears da vida. Foda."
E é aí que tudo se inicia, uma sequência de aventuras e desventuras que culmina em assassinato:
".. segui adiante fazendo merda em cima de merda. Que imagem fina. Teria que dar muita explicação para uma sucessão de ocorrências tão fantasiosas. E eu estava visivelmente drogado, por iniciativa própria."
E lá vem mais reflexões, todas irônicas. Ironia é sinal de inteligência, entendê-la também deve sê-lo, penso eu:
"Você é colhido no meio do percurso por uma enorme rede invisível e inexorável. Pluft! A gente se prepara a vida inteira, sem saber, é para morrer. Pode nos incomodar individualmente, porque a gente entra numa de que o mundo roda por você, mas o mundo está andando para isso..."
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