spoiler visualizarTalita.Daniela 25/09/2020
"E chorei do jeito que se chora quando não há nada a fazer senão chorar." Winterson, Jeanette.
Como a própria autora naturalmente aborda, seria inocência de minha parte separar o pensamento do sentimento. Porém, apelando pra dicotomia cartesiana preciso dizer que eu seria completamente incapaz de resenhar sobre "Por Que Ser Feliz Quando Se Pode Ser Normal" de forma racional.
Beirando a megalomania psicótica de Dostoiévski nas Notas do Subsolo, li de cabo a rabo como se fosse minha essa "autobiografia semificcional" caótica, não linear, espiritual, esquizofrênica e quase multidimensional, mas, principalmente, severamente pessoal.
Talvez, fazer o leitor se identificar seja um dos elementos mais básicos requisitados pra qualquer romance ou poesia que se inscreva minimamente na categoria limitada de "bom". Mas, acredito que uma grande parte do público alvo da obra sejam aqueles que minimamente se identificam com as esferas principais "Adoção", "Criação religiosa" e/ou "Homossexualidade".
Não menos do que o conjunto das três foram exatamente o que me fizeram iniciar a leitura, em uma busca velada e confusa por autoconhecimento que, por menos incrível que pareça porque é exatamente o que se poderia esperar desse grande número de intersecções, se encontra em toda linha literária da vida de Jeanette.
Identidade, conceito caríssimo pra autora, me ocorreu não somente nas superfícies mais obvias e encontráveis em sua sinopse, mas na profundeza subjetiva constante que se materializa em toda vida de JW, em indiferenças, resistências, criatividade selvagem, buscas constantes e tudo envolto em incertezas extremamente vinculadas à seu meio externo e interno, na premissa da ideia mais ficcional de todas que é o amor.
O materialismo histórico e ideias psicanalistas junguianas são bem presentes nas ideias de construção de identidade coletiva e individual de Jannette e que, além de transparecerem em seu próprio eu, encontram-se também em sua forma de escrita e pensamento, como ela mesma aponta numa metalinguagem muito gostosa da mescla de forma e conteúdo que é o processo criativo absurdo de uma pessoa absurda.
A autora encontrou nos livros o seu soro e o peso da sua afinidade com a linguagem torna tudo muito instigante, uma vez que ela cita quase que religiosamente ("porque, se você foi criado pela Bíblia, não larga aquilo tudo simplesmente, seja lá o que digam.") grandes nomes da poesia e da prosa, principalmente os mais ocidentalizados - por motivos explicados e refletidos no próprio livro - mas também autoras célebres do feminismo enquanto movimento pioneiro, além de poetisas e poetas.
Não consegui fazer mais nada enquanto não terminasse e eu simplesmente amo essa sensação de ardência do despertar da La Loba que ela passa ao contar/inventar/recriar sua história, e a minha também.
Sobre estilo, influências e opinião pública acerca da obra eu não ouso afirmar nenhuma vírgula com certeza. Mas, no aspecto individual e situacional da minha ridícula existência até aqui, esse foi um dos livros mais influentes pro meu crescimento pessoal.
Senti a urgência de materializar.
Boa leitura!