Robson 05/04/2015Ler “EntreMundos” – de Neil Gaiman e Michael Reaves – é como encarar uma obra-de-arte surrealista!O jovem Joey Harker sempre teve dificuldades em se encontrar nos corredores de sua própria casa, quem dirá encontrar as diversas salas do colégio. Ele já estava acostumado a isso, afinal, toda a sua vida fora assim. Em um típico dia de sua típica existência, Joey se perde dos colegas – o que é extremamente normal para ele –, mas ele começa notar algumas coisas bobas diferentes das quais está acostumado. Tudo começa com a cor de cabelo abruptamente diferente de sua amiga Rowena e, para piorar toda a situação constrangedora, a garota nem mesmo conhece. É claro que Joey pensa que era uma pessoa extremamente parecida com a amiga, mas a partir deste momento, ele percebe que nada se encaixa, principalmente ao chega à sua casa e encontrar com sua família totalmente diferente do que conhece, como se ele nunca houvesse existido.
Diante de toda essa confusão, Joey se vê perdido e sem entender o que está acontecendo e o que ele fez para que seu mundo se desfizesse diante de seus olhos.
Joey começou a “caminhar”, transitando entre mundos e realidades alternativas.
Enredo
Para ser sincero? O enredo de “EntreMundos” não é, nem de longe, algo extremamente original. “Realidades alternativas” é um assunto muito utilizado em livros de ficção científica, quem dirá nas séries de TV e filmes (Quem assistiu Fringe sabe bem do que estou falando!), mas não tenham medo, isso não tira nem um pouco da qualidade do livro.
De início as coisas podem ser um pouco confusas no livro, afinal, tudo é confuso para o protagonista – não vejo um situação em que uma pessoa seja jogada de cabeça em algo desconhecido, em que ela não fique confusa e perdida – e é exatamente isso que ocorre com Joey. O coitado fica perdido como uma barata tonta após um golpe de radiazol. Admiro a maneira como os autores lidaram com isso, conseguindo transpassar toda essa confusão ao leitor e, gradativamente, clarear o entendimento de todo o enredo.
“EntreMundos” tem uma complexidade pouco típica dos YA. Os termos científicos e “estranhos” são constantes no texto e podem assustar um pouco no começo, mas nada tão complicado que o Google não resolva. Neil e Michael empregam um grande bocado de teorias conspiratórias e científicas para formar sua trama, o que enche os olhos dos grandes fãs da ficção científica. Tudo isso, é claro, único à uma boa aventura YA que envolve descoberta pessoal e amadurecimento.
Os cenários exóticos e bem-elaborados de “EntreMundos” aguçam a imaginação do leitor, demandando atenção total ao texto. A ambientação é bela, cheia de cores e criaturas jamais descritas na literatura YA. Como disse antes, é como encarar uma boa porção de obras-de-arte do período surrealista!
Protagonista
Joey é um protagonista um pouco sem sal, devo confessar.
Demora um pouco para que sua personalidade seja formada, para que as coisas comecem a ser do jeito dele e isso me irritou bastante no começo. Mas, mais uma vez, não retiro o mérito dos autores. Eles constroem o personagem aos poucos, dando mais naturalidade ao enredo e tudo mais.
Posso dizer que as ações de todos no universo de “EntreMundos” contribuem imensamente para a formação de Joey. Aos poucos ele vai se descobrindo e as coisas vão funcionando um pouco melhor, até que tudo está perfeitamente encaixado.
Joey amadurece a cada novo capítulo do livro, adquirindo força e objetivo diante das problemáticas impostas por Gaiman e Reaves.
Narrativa
A narrativa empregada em “EntreMundos” é em primeira pessoa, restringindo o leitor ao ponto de vista de Joey – que é um pouco ingênuo inicialmente –, mas não chega a ser um problema.
Fluída e detalhada, a narrativa de Gaiman e Reaves proporciona uma boa visão dos “mundos” criados por eles. O ritmo não é nem lento, nem extremamente corrido, é balanceado, do jeito que a maioria dos leitores gosta.
Neil e Michael constroem as cenas minunciosamente, de modo a facilitar a imaginação do leitor. Todos os detalhes podem ser “observados” nos cenários e situações descritas por eles, dando mais credibilidade para o enredo.
Cliffhangers (ganchos) não fazem muito o estilo de Gaiman e isso fica bem claro aos finais de capítulos, esse elemento só é utilizado quando extremamente necessário. A narrativa, por si só, envolve o leitor e o deixa curioso.
A simplicidade é um ponto chave para que o leitor fique preso a “EntreMundos”, tudo é muito claro e objetivo desde o começo. Então, se vocês gostam disso, vão ler agora!
“EntreMundos” vale a pena?
Sem dúvidas, Gaiman e Reaves tecem uma aventura fantástica digna dos cinemas, além de passar boas lições durante todo o desenvolvimento de seu enredo.
“EntreMundos” é o livro certo para os amantes da literatura fantástica e apreciadores da ciência!
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