Mauricio (Vespeiro) 15/09/201750 Tons de AmareloApós ler “O Símbolo Amarelo e Outros Contos” (tradução de Gabriel Oliva Brum), que traz os 4 contos da “mitologia amarela” (obra de Robert W. Chambers) e ainda e um bônus escrito por Ambrose Bierce, dei continuidade à “maratona amarela” com o texto originalmente publicado em 1895 como “O Rei de Amarelo”. Esta edição (da Intrínseca) traz, além dos 4 contos já mencionados, outros 6 escritos por Chambers. Foi muito interessante ler uma nova tradução (esta feita por Edmundo Barreiros), pois apenas isso já deu maior amplitude à obra. Contudo, o tradutor colaborou decisivamente com a experiência ao acrescentar valiosas notas ao final de cada conto. Os contos da mitologia (os 4 primeiros) ganharam uma dimensão inestimável, enriquecida pelo excelente trabalho de pesquisa feito por Barreiros. Quanto aos demais, algumas notas soaram forçadas, tentando criar vínculos improváveis com os contos anteriores. Nada que desabone a obra, mas fica o registro de que destoaram do trabalho inicial.
A “mitologia amarela” conta quatro histórias de pessoas que leram o livro fictício (o roteiro de uma peça de teatro) “O Rei de Amarelo” ficaram loucos. E as atitudes advindas dessa loucura (misteriosa e inexplicável) são ingredientes para contos de terror cósmico que inspiraram ninguém menos que H. P. Lovecraft, por exemplo. Os outros contos falam de amor, invariavelmente trágicos ou não correspondidos. Um deles (“A Demoiselle d’Ys”) ainda pertence à narrativa fantástica de Chambers. Os derradeiros são, até certo ponto, realistas.
É notório o quanto Chambers influenciou Lovecraft (um dos meus autores preferidos). O estilo da escrita é muito parecido, apesar de entender que Lovecraft trouxe ainda mais qualidade e profundidade ao clima aterrador e nos brinda com uma mitologia muito mais ampla, rica e marcante, como os abomináveis “mitos de Cthulhu”. Pode ser impressão minha, mas entendi que a misteriosa atmosfera que Chambers procurou criar envolvendo um livro imaginário foi elevada à máxima potência por Lovecraft quando criou o “Necronomicon”. Os contos de Chambers também inspiraram a espetacular e memorável primeira temporada de “True Detective”. Quem gosta do estilo e ainda não assistiu, não perca mais tempo!
Lendo “O Símbolo Amarelo e Outros Contos” pude enriquecer meu vocabulário com palavras como: grevas, escarcela, coxote, trapeiro, colbaque, casaco agaloado, colódio, tumefato, postigo, coruchéu, budoar, espineta, morrião, clerestório, doxologia. Já em “O Rei de Amarelo”, com contos que não estavam na outra edição, acrescentei mais algumas ao léxico particular: charneca, tojo, urze, urzal, narceja, (fiando com) fuso, gerifalte, azeviche, ablução, cornija, (gola de) astracã, embornal, vesbasco, asclépia, sicômoro, gobião, caboz, gendarme e flox.
A maratona continuará em breve com a adaptação “O Rei Amarelo” para os quadrinhos, publicada em 2015 pela Editora Draco. Pretendo assistir ao curta metragem lançado em 2001 intitulado “The Yellow Sign”, do diretor Aaron Vanek. Ele integra um DVD chamado “The Weird Tale Collection”, que encontrei na Amazon americana, mas é vendido como Região 1 (Brasil é Região 4). Teoricamente são formatos incompatíveis, mas sei que tem como desbloquear ou converter. Alguém que já fez este processo pode dar dicas?
P.S.: A Amazon americana não entrega este DVD no Brasil.
Nota do livro: 6,38 (3 estrelas).