Wanderreis 27/03/2023
Excertos
O conhecimento científico é um juízo sobre coisas universais e necessárias, e tanto as conclusões da demonstração como o conhecimento científico decorrem de primeiros princípios (pois ciência subentende apreensão de uma base racional). Assim sendo, o primeiro princípio de que decorre o que é cientificamente conhecido não pode ser objeto de ciência, nem de arte, nem de sabedoria prática; pois o que pode ser cientificamente conhecido é passível de demonstração, enquanto a arte e a sabedoria prática versam sobre coisas variáveis. Nem são esses primeiros princípios objetos de sabedoria filosófica, pois é característico do filósofo buscar a demonstração de certas coisas. Se, por conseguinte, as disposições da mente pelas quais possuímos a verdade e jamais nos enganamos a respeito de coisas invariáveis – se tais disposições, digo, são o conhecimento científico, a sabedoria prática, a sabedoria filosófica e a razão intuitiva, e não pode tratar-se de nenhuma das três, (isto é, da sabedoria prática, do conhecimento científico ou da sabedoria filosófica), só resta uma alternativa: que seja a razão intuitiva que apreende os primeiros princípios.
(Livro VI – Capítulo 6)
...porque se um homem soubesse que as carnes leves são digestíveis e saudáveis, mas ignorasse que espécies de carnes são leves, esse homem não seria capaz de produzir a saúde; poderia, pelo contrário, produzi-la o que sabe ser saudável a carne de galinha.
(Livro VI – Capítulo 7)
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Como diz o provérbio: os homens não podem conhecer-se mutuamente enquanto não houverem “provado sal juntos”.
(Livro VIII – Capítulo 3)
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...os amantes parecem às vezes ridículos, quando pretendem ser amados em troca; quando ambos são igualmente dignos de amor a pretensão talvez se justifique, mas é ridícula quando não têm nenhuma qualidade própria para despertar o amor.
(Livro VIII – Capítulo 8)
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...tudo indica que os antigos sacrifícios e reuniões ocorriam após as colheitas como uma espécie de festa das primícias, pois era nessa época que os homens tinham mais lazeres.
(Livro VIII – Capítulo 9)
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Os benfeitores, segundo se pensa, amam aqueles a quem fizeram bem mais do que estes os amam, e discute-se este ponto como se fosse paradoxal.
(Livro IX – Capítulo 7)
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São criticados aqueles que amam a si mesmos mais do que a qualquer outra coisa e dá-se-lhes o nome de ególatras, que é considerado um epíteto pejorativo; e um homem mau parece fazer tudo no seu próprio interesse, e isso tanto mais quanto pior ele for. É acusado, por exemplo de não fazer nada espontaneamente, enquanto o homem bom age tendo em vista a honra, sacrificando os seus interesses pessoais, e isso tanto mais quanto melhor ele for.
(Livro IX – Capítulo 8)
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(...) se quem vê percebe que vê, e quem ouve percebe que ouve, e quem caminha percebe que caminha, e em todas a outras atividades há também alguma coisa que percebe que estamos agindo, de modo que, se percebemos, percebemos que percebemos, e, se pensamos, percebemos que pensamos; e se perceber que percebemos ou pensamos é perceber que existimos (pois que a existência foi definida como percepção ou pensamento); (...) – se tudo isso é verdadeiro, assim como o seu próprio ser é desejável para cada homem, igualmente (ou quase igualmente) o é o de seu amigo.
(Livro IX – Capítulo 9)
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Pelo fato de certas coisas agradarem a pessoas de constituição viciosa, não devemos supor que elas também sejam agradáveis a outros, assim como não raciocinamos dessa forma a respeito das coisas que são saudáveis, doces ou amargas para os doentes, nem atribuímos a brancura às que parecem brancas aos que sofrem dos olhos.
(Livro X – Capítulo 3)
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Anaxágoras também parece supor que o homem feliz não seja rico nem um déspota quando diz que não se admiraria se ele parecesse à maioria uma pessoa estranha, pois a maioria julga pelas exterioridades, uma vez que não percebe outra coisa.
(Livro X – Capítulo 8)