Maria - Blog Pétalas de Liberdade 18/03/2016Fainne Situando-os no tempo e no espaço da trama, ainda que não seja dito claramente no livro, é possível entender que estamos na época do feudalismo, onde hoje é o Reino Unido e a Irlanda. A história se passa mais ou menos 18 anos após a história de “Filho das Sombras”, o segundo livro, e é narrada por Fainne. Então, não é uma continuação direta, e pretendo não dar spoilers dos livros anteriores.
Fainne era uma garota que vivia com seu pai em Kerry, uma região pouco povoada perto do mar. Eles não tinham uma casa comum, moravam em uma espécie de caverna. O pai de Fainne era um feiticeiro e vivia para estudar e aprender magia. Ele não usava seu conhecimento para fazer mal a ninguém e foi passando ensinamentos para a filha desde pequena.
A única companhia que Fainne tinha era a de seu pai, exceto quando o verão chegava e um grupo de viajantes vinha para Kerry (embora a palavra não seja citada no livro, pelas descrições que li, creio que eles eram ciganos). Fainne contava os dias para o verão, quando os viajantes chegavam ela tinha um amigo: Darragh, um garoto quase da idade dela, seu único amigo e companheiro de aventuras de verão.
De certa forma, ela era feliz, apesar do isolamento, ela tinha seu pai e um amigo no verão, até que veio a notícia: seu pai queria que ela fosse para Sevenwaters, um feudo onde a outra parte de sua família morava. A avó de Fainne, uma temida feiticeira, viria para Kerry para lhe ensinar coisas que seu pai não poderia ensinar. Mas o que Fainne não esperava, era que a avó tivesse um plano para ela, um plano que Fainne não tinha certeza se era do conhecimento de seu pai, assim como os métodos usados e o conteúdo que seria ensinado. Mas Fainne não tinha escolha, ela tinha que ir para Sevenwaters se quisesse proteger as pessoas de que gostava (seu pai e Darragh) das maldades da avó. Lá, ela deveria impedir que uma antiga profecia se cumprisse, dando a vitória para sua avó e destruindo Sevenwaters.
“Você vai terminar o que eu comecei. Vai reconquistar tudo o que o nosso povo perdeu. Vai mostrar aos Seres da Floresta que os amaldiçoados têm força e que não vão mais se curvar aos desejos deles. Vai mudar nosso destino. Eles serão vencidos, o povo de Sevenwaters e o povo do Outro Mundo. Essa é sua tarefa.” (página 69)
Sevenwaters era muito diferente de Kerry, Fainne estava acostumada com o silêncio quebrado apenas pelo barulho do mar, e com todo o vazio que o horizonte proporcionava. Já Sevenwaters lhe parecia sufocante com a densa floresta e a casa cheia de crianças onde seu tio morava. O que Fainne não esperava era começar a sentir algum carinho pelo povo de Sevenwaters, o que significa ter mais pessoas a quem a avó poderia ameaça-la para controlá-la.
Fainne precisava decidir se aceitaria o destino traçado por sua avó ou se se arriscaria e tentaria encontrar um jeito de mudar as coisas e salvar aqueles a quem amava e Sevenwaters. E se a missão já era difícil, ficaria ainda mais difícil pelo fato de que ela não poderia controlar outras pessoas que também tinham seus interesses na situação. Sorcha teve que ser determinada para cumprir seu destino, Liadan teve que ser corajosa para mudar seu destino, e será que Fainne teria forças o suficiente para conquistar um futuro para si?
“Filha da profecia” traz novidades para a série. Nos livros anteriores, tínhamos a visão apenas de personagens de dentro de Sevenwaters, e foi interessante ver como o lugar tão amado por Sorcha poderia parecer sufocante para Fainne. As protagonistas anteriores também tinham uma descendência do bem, por assim dizer, já Fainne tinha sangue “do mal” correndo nas veias, e fazer o mal parecia ser o destino dela, poucas eram as pessoas que viam e diziam para a garota que seu destino podia ser diferente. E, de certa forma, foi emocionante vê-la em lugares que a Sorcha ou a Liadan estiveram, sem saber da importância deles, mas eu, que já havia lido os livros anteriores, sabia e entendia. Acho que foi uma sacada bem interessante da autora. Quem por acaso não leu os anteriores, vai chegar em Sevenwaters assim como a Fainne, tendo que descobrir tudo, mas quem já leu, vai sentir aquela vontade de entrar na história e ajudar a protagonista.
Senti que nesse livro a revisão melhorou bastante, e a tradução também, a leitura está ainda mais fluida. Parabéns, pessoal da Butterfly! Até comentei lá no Instagram que achei que a história traz menos sofrimento do que os livros anteriores, pelo menos no começo, talvez por Fainne oscilar entre o caminho do bem e o do mal, ora ela é a sofredora, ora ela faz os outros sofrerem. Foi uma leitura que eu gostei muito, quando eu terminei as pessoas ficavam me perguntando porque eu estava triste, mas não era tristeza, Juliet Marillier me fez viver aquela história, me fez sentir, e eu precisaria de um tempo para me desligar dela e voltar a ser eu mesma.
Diferente de "Filho das Sombras", cujo título eu tive dificuldade de entender a quem se referia, em "Filha da Profecia" eu já suspeitava logo de cara sobre a relação título-personagem, mas quando a última parte do quebra-cabeças se encaixou eu pensei: “Meu Deus! Como eu não reparei nisso antes?”. Achei que foi mais uma ótima escolha da autora.
“Não existe amor nessa história, Fainne. Não existe luz, muito menos aceitação incondicional. Seu caminho é o da perdição e das sombras. Então, faça o seu trabalho. (...) Seu pai, assim como eu, sabe que você jamais será uma pessoa de valor.” (página 210)
Eu gostei muito da Fainne, uma garota que tinha muito conhecimento em certas áreas (magia), mas nenhum em relacionamentos. Me partia o coração vê-la sentindo como se sua vida fosse apenas ser um instrumento de maldade. Também gostei bastante do Darragh, de sua capacidade de abrir mão de tudo, menos de sua melhor amiga (a quem chamava de Cachinhos). Preciso falar de Eamonn, talvez um dos personagens mais bem construídos da série, pensei mesmo que o único desfecho satisfatório para ele seria aquele (que, obviamente, não vou contar para vocês que ainda não leram o livro qual foi), mas acho que depois de tudo o que vimos sobre ele em “Filho das Sombras” e “Filha da Profecia”, ele merecia ao menos mais uma cena, ao menos mais uma frase, eu sei que ele era daquele jeito, mas não consegui não me sentir sensibilizada por ele. Foi bom rever muitos personagens dos livros anteriores e saber mais sobre o que havia acontecido com eles depois de “Filho das Sombras”, mas mesmo fechando um arco da história, eu ainda fiquei querendo saber se a avó feiticeira tinha mesmo poder sobre o pai de Fainne ou não, mas como já vi que ele aparece nos próximos livros, espero realmente ainda descobrir isso. Ainda sobre o final, acho que nós leitores, depois de toda tensão pela qual passamos com a história, merecíamos ao menos mais algumas cenas fofas antes do epílogo.
“- Há sempre motivo para sorrir, Cachinhos. Mesmo que seja por coisas pequenas, tolas. O som de uma gaita ao anoitecer; a luz se refletindo sobre os cabelos de uma garota. Uma piada entre dois amigos. Você apenas se esqueceu de como é.” (página 485)
Sobre a parte visual: a capa continua linda (mas difícil de fotografar e conseguir mostrar todos os detalhes, e as letras são prateadas) e tendo tudo a ver a trama, o título é em alto relevo. A diagramação é ótima: margens, letras e espaçamento entre as linhas de ótimo tamanho, e as páginas são amareladas, é um livro lindo por dentro e por fora. E como já disse, a revisão está bem melhor do que os anteriores.
Enfim, acho que deu para perceber que eu gostei muito do livro, né?! E que eu super recomendo que vocês leiam a trilogia, e que “Filha da Profecia” fecha esse arco da história de uma forma surpreendente. E que vocês não devem temer as 600 páginas da obra, pois eu garanto que vão devorá-las em menos de uma semana. Quem gosta de bons livros, histórias intensas, personagens marcantes e do gênero fantasia, precisa ler os livros da Juliet Marillier!
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