Maria16091 07/01/2024
Tenebroso
Para começar, o livro é desnecessariamente denso. Descrições e mais descrições irrelevantes para história, bem como cenas completamente descartáveis. Li o livro acompanhando com o audiobook na velocidade 2x e mesmo assim não conseguia engatar na leitura. Foi realmente sofrível, mas queria continuar para saber se o desfecho valeria a pena. Agora posso dizer: não valeu. O livro é bem repetitivo, o autor volta em vários momentos, na tentativa de ter uma quebra de expectativa que para mim não dava muito certo. Ele simplesmente copia cenas inteiras, ao invés de deixar para o leitor lembrar-se o que havia acontecido anteriormente (sim, textos repetidos ao longo do livro para relembrar cenas). Sem contar a infinita enrolação para se chegar em uma conclusão. Depois de mil reviravoltas eu já não aguentava mais, ficou muito cansativo, era reviravolta atrás de reviravolta, toda hora ele dava uma explicação para o assassinato e voltava atrás com um plot para chocar e aí chegar em outra explicação totalmente diferente, várias e várias vezes. Foram histórias para quatro assassinos diferentes. Nenhum plot twist era capaz de surpreender porque após tantas tentativas o leitor acaba desinteressado. Eu particularmente não me surpreendi com nada por um único motivo: não consegui me importar com nenhum personagem e nenhum rumo da história, tanto faz o que de fato tinha acontecido porque não me importava. Muitos acontecimentos jogados na história sem relevância para a história principal, como as ligações com a mãe do Marcus, as consultas de Tamara Quinn na terapia, as reuniões de marketing, as mil ligações com o editor que só aparecia para ofender minorias, tudo que não tinha nada a ver com a trama principal e parece que só aparecia para encher linguiça. Mesmo assim continuei, porque só tinha visto resenhas positivas sobre o livro até então e queria dar uma chance, ver qual desfecho o autor escolheria e se seria um plot twist que explodiria cabeças. Não foi nada disso, mas pelo menos pude tirar minhas próprias conclusões. Agora chegando na parte mais importante e óbvia que tenho para criticar na história: a romantização da pedofilia. Em primeiro lugar, o autor descreve a personagem da Nola extremamente infantilizada, mais até do que deveria para uma menina de 15 anos. A impressão que eu tenho é que ele colocou essa idade para tentar ser menos problemático (não funcionou) mas na personalidade acabou descrevendo uma criança mais jovem ainda. Ou talvez o autor não saiba escrever mulheres, já que a Jenny que era uma personagem mais velha, também possuía certas características infantilizadas e as outras personagens mulheres são todas esteriotipadas. A tentativa de fazer parecer uma história de romance é descabida em vários aspectos. Primeiro que não há nenhum desenvolvimento de romance, os únicos diálogos que o “casal” tinha era para o autor retratar a Nola como uma menina loucamente apaixonada que não vivia sem seu amor. Não existe nenhum diálogo de verdade, em que eles conversem sobre algo que não o “amor” que sentem um pelo outro. Que bom que o Joël é autor de suspense e não de romance, porque ele seria péssimo. A história não convence. Ele tenta a todo custo absolver Harry da situação de maneira a colocar sempre a Nola como a pessoa que insistia na relação, pelo seu amor ser tão forte. Intragável. Desde o início, a coisa do romance é toda muito forçada. O harry, tendo 34 anos, vê Nola e à primeira vista já se apaixona, mesmo com a noção que a menina era nova. Bateu o olho e BUM, se apaixonou. Ele próprio descreve que ao vê-la pela primeira vez já sabia que era muito nova, ou seja, a partir daí, tudo que acontece depois é culpa dele. Em primeiro lugar, que tipo de homem de 30 e poucos anos, ao ver uma menina claramente MUITO jovem se apaixona à primeira vista? Espero do fundo do meu coração que as pessoas não olhem crianças/adolescentes e sintam atração por elas, porque foi isso que aconteceu. O Harry viu a Nola e sentiu atração por ela, sabendo que era menor de idade. A partir daí, ele podia ter evitado e deixado passar, mas fez o contrário, foi atrás dela e alimentou o sentimento. Além de que nada que é retratado se parece com amor, e sim com obsessão. Que tipo de maluco passa todos os dias da semana em um estabelecimento observando uma menina de 15 anos e escrevendo repetidamente o nome dela? Não tem justificativa para isso além de obsessão. Para completar o circo, além do “relacionamento”, o autor escreve várias situações de cunho sexual envolvendo a menina de 15 anos com outros homens acima dos 30. Não consegui desvencilhar o autor da obra nesses momentos, porque o cara simplesmente achou que era de bom tom escrever um livro que uma menina de 15 anos se envolve em várias situações de cunho sexual sempre com homens mais velhos. Não vou citar as situações aqui porque são nojentas. E além de tudo, ele usa esses acontecidos novamente para mostrar que Nola era tão apaixonada por Harry que faria qualquer coisa por ele. O que deveria ser retratado como nojento e errado, se tornou um “ato de amor”. E no final, tanto o Harry, quanto outro personagem associado à Nola, Luther Caleb, têm sua redenções. Sendo que tanto um quanto outro ainda eram homens velhos apaixonados por uma garota, sem contar na situação com Luther que foi esquecida e o próprio autor amenizou tudo e tentou fazer dele um cara legal no final. Sem contar que lá para perto do final da história, o autor jogou uma doença psiquiátrica para a Nola, de uma maneira zero desenvolvida e, óbvio, problemática também. Toda a história foi um misto de coisas de péssimo tom jogadas juntas em meio à 20 plots twists para tentar dar emoção e agradar o leitor, para que os leitores esqueçam tudo de problemático no livro e foquem em como o autor é brilhante e a narrativa surpreendente. Uma outra coisa que me incomodou, PASME, uma outra problemática: a forma como trechos do livro descrevem pessoas negras. Para começo de conversa, não há personagens negros na história, ao menos não na descrição física dos personagens apresentados. No entanto, o autor deu um jeito de enfiar isso na história. Se ele nem ao menos se deu ao trabalho de descrever um personagem do livro como uma pessoa preta, então porque acrescentar várias passagens falando de pessoas pretas de maneira pejorativa? Pode até ser que no caso de Tamara Quinn ele queria representá-la como uma pessoa preconceituosa e utilizou desse artifício, já que ela fala tanto de negros quanto de judeus. No entanto, não é a única parte do livro, o que me deixou pensativa se havia algum intuito nisso ou ele só queria ofender minorias de graça mesmo. Essas foram minhas impressões gerais, pelo menos as que eu consegui lembrar. Agora vou pensar 20 vezes antes de ler outro livro do autor, o que é uma pena porque tinha muito interesse, talvez devesse ter começado por outro, mas agora fica meio difícil desvencilhar tudo isso do autor para tentar ler algo dele novamente. Não vou nem avaliar, porque se tivesse que dar uma nota seria dó.