Vitoria.Milliole 22/02/2023
Brandon Sanderson, você me paga!
Contrariando a esmagadora maioria das opiniões, não achei esse mais lento que o anterior. Muito pelo contrário. Talvez seja porque, quando peguei esse pra ler, já estava habituada ao cenário e aos personagens, ou talvez eu simplesmente tenha me apegado a um estilo de escrita mais detalhado que nem perceba mais, mas aqui eu li até mais rápido que o anterior. Esse segundo volume focou mais na política, é verdade, mas de forma alguma eu achei isso ruim. Gostei dele tanto quanto do primeiro, senão mais.
Depois daquele final arrebatador do primeiro livro, Vin, Elend, Sazed e os outros estão à frente do governo de Luthadel, colocando as coisas em seus devidos lugares. As coisas que o Senhor Soberano não permitia. Ao contrário da maioria dos livros, especialmente os segundos volumes, aqui a gente não tem aquele lenga lenga dos personagens vivendo o luto e então se reerguendo: eles não têm tempo pra isso. Assim, Brandon Sanderson também não nos dá tempo de lamentar a perda de personagens queridos, o que, de certa forma, eu achei incrível! É como se a gente tivesse dentro daquelas páginas, sentindo a tensão a todo momento, tendo que deixar pra lá o fato de um amigo próximo ter morrido pra tratar de outras questões. É, eu realmente não entendo como alguém pode ter achado lento.
Eu simplesmente amei o desenvolvimento dos personagens, e aqui eu dou destaque ao Elend. De um nobre rebelde que gostava de filosofar e questionar a divisão do mundo, idealizando uma utopia onde todos são tratados como iguais, aqui temos um rei inseguro, cuja bondade acaba sendo um empecilho pra sua coroa. Até que não é mais. Com a ajuda de Tindwyl, uma Guardadora amiga de Sazed, ele aprende a falar e se portar como rei, mas até Tindwyl sabe que ele conseguiria com ou sem ela. E é incrível ver a transformação daquele nobre metido a rebelde em um verdadeiro rei, bondoso e justo, mas sem mais receios quando se trata de punir aqueles que merecem.
O desenvolvimento do poder da Vin também foi surreal de bom. A Nascida das Brumas mais poderosa do Império, uma arma poderosa contra seus inimigos, a gente até esquece que um dia ela foi aquela menininha desconfiada até da própria sombra que tentava a todo custo não ser notada onde quer que estivesse. Além disso, também foi interessante ver as interações entre os membros da gangue, especialmente entre Trevo e Brisa, e acompanhar os estudos de Sazed.
Isso sem falar nos kandras. O que só temos uma prévia no primeiro livro, aqui é muito bem explorado. Eu amei as interações da Vin com o kandra e como eu passei a gostar dele naquele corpo de cão de caça. Aliás, o autor fez uma jogada genial ao tratar de um certo kandra impostor.
Assim como a Vin e o Elend, eu também fui 100% manipulada até o último capítulo. Que plot twist bem feito! O legal é que eu poderia tentar explicar quase sem me preocupar com spoilers, porque só lendo pra entender a jogada de mestre do Sanderson. Mas não vou fazer isso, até porque nem explicar de forma breve eu conseguiria.
E tem o grande destaque do livro, claro: a trama política. Tem livros de fantasia que se tornam maçantes quando focam na política (cof cof A Rainha Vermelha), que você lê arrastado. Aqui, nem de longe. Tantas manobras e reviravoltas políticas sem perder a coerência uma página sequer. Intrigas, mortes, ataques. Tudo muito coeso, muito frenético, muito cativante. O autor consegue trabalhar com vários arcos ao mesmo tempo e consegue dar destaque a todos, inclusive às criaturas pra lá de esquisitas que ele criou, muitas com suas próprias políticas. O sistema de magia tem as regras muito claras, com limitações e consequências, o que fica ainda mais claro nesse segundo livro.
Eu entendo por quê a maioria gosta mais do primeiro: o que o final dele criou foi um divisor de águas, foi incrível e criou efeitos que foram vistos o tempo inteiro nesse segundo livro também. Mas os finais são incomparáveis, cada um foi incrível à sua maneira. Cada um foi arrebatador à sua maneira.
Quando eu gosto de um livro, não sei escrever pouco, e sinto que nada que eu escreva será o suficiente pra passar a grandiosidade disso aqui, tampouco o meu desespero com aquele final. Só posso dizer que há muito tempo não leio nada tão frenético quanto Mistborn, se é que um dia já li. O fato do terceiro livro ter uma média de avaliações maior que a desse me assusta, no bom sentido, e espero que não frustre as minhas expectativas. E, Brandon Sanderson, você me paga!