ogatoleu 03/03/2023
Ambíguo
Tenho sentimentos muito contraditórios sobre esse livro kkk em alguns momentos o achei uma leitura fluida e emocionante; em outros, uma leitura densa e estacionária. Por vezes, achei seus personagens complexos e realistas; outras vezes, os achei estereotipados e novelescos.
Nesse sentido, a introdução de Villette pela editora Martin Claret, escrita pela professora Lenita Esteves, que li após a conclusão do livro, me ajudou a condensar o que sinto a respeito dele. Lenita vê os personagens, cujas oscilações de caráter são abudantes ao longo da obra, como algo enriquecedor para a sua história, refletindo o modo como "na nossa convivência com as pessoas, vamos transformando nossas opiniões sobre elas". Somado a isso, segundo a professora, temos em Lucy Snowe uma narradora ambígua e não confiável.
Essa é uma forma de analisar o romance. Seriam, contudo, os plot twists e inconsistências da trama produtos de um mero sensacionalismo, ou mesmo uma falta de planejamento da autora? Só nos resta ponderar.
O fato é que Villette não fica aquém de outras obras das irmãs Brontë. É uma narrativa surpreendentemente revolucionária para a época, que dá protagonismo a uma protagonista feminina forte e determinada, ainda que desprovida de beleza e fortuna. Acompanhamos essa personagem principal improvável de um romance enquanto ela enfrenta dilemas e situações que pelas quais simplesmente não passaria caso fosse bela e rica (destino paralelo exemplificado na figura da srta. Paulina de Bassompierre).
Em minha experiência particular, no fim das contas, achei Villette, por soturno que seja, um romance de conforto. O volume de páginas da história me garantiu, por um bom tempo, uma companhia empolgante o suficiente para que eu me motivasse a ler uma porção dele todos os dias e viajasse à época retratada enquanto bebericava um chá ou café bem quentinho. Fico em parte meio triste porque terminou, mas também ansiosa para ler outras obras das Brontë :)