Taisa 10/03/2017Quando vivencio algum momento feliz, principalmente momentos aqueles pequenos aos olhos dos outros mas que me fazem parar por um segundo e agradecer a vida, daqueles em que eu tiro um fotografia na minha mente , porque se eu fosse pegar uma câmera não ia dar tempo........... passou. Daqueles em que o tempo parece desacelerar, enquanto teu próximo está vivendo um segundo você vive esse segundo em dois, é desses momentos as quais me refiro.
Quando os vivo, ao mesmo tempo que eu aproveito também sofro. Sinto saudades do presente, sinto saudade do que ainda não acabou, que loucura! Parece impossível, mas não.
Certa vez no aniversário da minha filha, uma festa modesta, poucos convidados mas muita diversão. Quando todos foram embora minha mãe me olha e fala : "Taisa!! Nossa! Não tiramos nenhuma foto!". O primeiro sentimento que seria suposto eu sentir era o pesar mas eu fiquei feliz. MUITO feliz! Não tiramos foto porque simplesmente não deu tempo, todos conversamos, brincamos nos divertimos, o wifi era livre mas parecia uma época em que a internet ainda era discada, uma época em que não tínhamos necessidade de demonstrar aos nossos 23823892389273 "amigos" o quanto nossa vida é divertida.
Sei que laconismo não é uma característica que possuo, 195 palavras até agora e parece que não falei nada sobre o livro não é?
Não é bem assim.
Caderno de um Ausente é isso. Me fez reviver esses momentos, a maneira como o autor vai qualificando esses pequenos flashs, dando importância ao que é merecido. O caderno pode ser de um suposto ausente, mas no momento em que ele denomina assim só destaca o quanto ele valoriza a presença. Recordei de tanta coisa boa! Uma viagem em família no meio de rolos de tecido,uma época em que a responsabilidade era irresponsável e tudo era aventura, uma cabana de toalha de mesa do lado de for da casa, bolinhos de terra, um banho de chuva.
Nosso narrador na casa dos seus 50 anos sente que pela sua idade avançada ficará em divida com sua recém nascida filha, Beatriz. Acha que o tempo por ele a ser vivido não será suficiente para ensinar tudo que gostaria nem lhe mostrar toda a trajetória de sua família, resolve então escrever esse “diário” . Ele junta algumas fotos e com sua narrativa quase lírica vai juntando peças da sua vida com outras tantas da sua experiência .
O livro é muito lindo, nunca tinha lido nada do João Anzanello Carrascoza e me apaixonei pela forma que ela usa as palavras. É prosa mas tem uma delicadeza de poesia, uma beleza melancólica difícil de encontrar, flerta com a morbidez mais ainda é bonita.
Achei tão interessante o que ele fala sobre as palavras, exalta sua importância mas também a ausência delas. O livro é curtinho e não perde tempo, muita coisa é dita, me senti assim, não em uma leitura e sim numa conversa, com o autor, comigo, minhas histórias e meus projetos.
Logicamente não serão todas as pessoas que terão a mesma experiencia, mesmo assim não vou cansar de recomendá-lo.❤
Ps.: Só para complementar, esse livro ganhou em segundo lugar o Premio Jabuti de 2015 na categoria Romance. Se você tiver interesse maior sobre o autor clica aqui que tem tudo sobre ele, entrevistas, obras, vida, tudo.
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