João Pedro 24/12/2021Crise poéticaUm pai de 50 anos escreve memórias, conselhos e reflexões sobre a família e a vida para sua filha recém-nascida. Tendo o tempo como seu principal objetor, ele lamenta a ausência que representará no futuro de sua filha, sem deixar de reconhecer a beleza dos instantes que viverão juntos.
"Caderno de um ausente" é uma declaração de amor de um pai para uma filha, trazida à luz pelo paulista João Anzanello Carrascoza e consagrada com um Prêmio Jabuti em 2015. Carrascoza escreve com um lirismo assombroso, dono de passagens verdadeiramente potentes e que imprimem no leitor profundas reflexões sobre a vida.
Sem dúvidas, a crise de meia-idade mais poética que já li. Fui remetido a "Morreste-me", do português José Luís Peixoto, sobretudo pelo constante uso de vocativos no texto. Achei a experiência em certa medida piegas, mas não a ponto de desabonar a leitura.
"Filha, acabas de nascer, mal eu te peguei no colo, e pronto, já chega, disse a enfermeira, e te recolheu de mim, foi apenas pra gravarmos uma cena, agora os pais assistem ao parto, e tudo é filmado, antes não havia nada disso, eu nasci das mãos de uma parteira, já na época do teu irmão - um meio-irmão, de quinze anos, é bom que logo saibas -, a moda era o registro fotográfico (...)" (p. 9)