Analuz 15/02/2021
O que me fez ter curiosidade para ler este livro foi saber que é a obra tcheca mais traduzida para outros idiomas, superando até "A Metamorfose" de Franz Kafka. E como nunca tinha ouvido falar sobre, fui atrás para ler.
Em "O Bom Soldado Svejk", tem-se uma narrativa inusitada acerca da Primeira Guerra Mundial. Em vez de adotar o tom dramático que usualmente se vê quando este assunto é abordado, o autor Jaroslav Hasek, que de fato combateu na guerra, utiliza o viés cômico ao criar esta sátira sobre um soldado idiota. Sim, isso mesmo: idiota! Ou melhor, assim ele foi diagnosticado quando participou do exército anteriormente, e por isso foi dispensado. Mas, com o ribombar da guerra, várias coisas acontecem (e em muitas delas, confusões em que ele mesmo se mete) e lá vai Svejk de novo para a zona de conflito.
Svejk, o protagonista, não é um herói que traça estratégias de guerra e combate duramente seus inimigos. Ele apenas está lá por situações do acaso, muitas vezes traçadas da forma mais absurda pelo autor. Aliás, tudo envolvendo o soldado beira o absurdo, incluindo seu diagnóstico como "idiota"!
É inegável que Svejk tem uma linha de raciocínio bem particular, mas também é perceptível que ele possui a malícia necessária para se dar bem em determinados momentos ou para limpar a barra de seus chefes.
Ainda que não tenha muito discernimento para entender a gravidade de algumas situações, ele não vê nenhum problema em enganar as pessoas, o que aliás é seu ganha-pão no início do livro. Svejk é um vendedor de cachorros, mas o problema é que ele inventa raças e misturas e vende os cães como se tivessem pedigree, quando na verdade se tratam de vira-latas. Este é só um dos exemplos da esperteza de Svejk, que apesar de ser um grande bobão, ainda carrega consigo uma malandragem nata.
Também deve ser dado o destaque para outra característica de Svejk: além de idiota e malandro, ele também é um grande contador de histórias! Diria que metade do livro é composta por pausas na narrativa da guerra em si, nas quais Svejk insere uma história sobre alguma coisa que aconteceu a alguém. São histórias divertidas, geralmente sem pé nem cabeça e que em nada agregam ao momento ou aos ouvintes do soldado. Mas ainda assim, é um bom recurso do autor para engrandecer a comicidade da obra.
No mais, todas as situações que envolvem o enredo chegam a ser bem loucas, mas também são uma grande crítica à sociedade no período de Guerra. Desde os motivos mais absurdos pelos quais as pessoas eram presas até a forma como os soldados eram convocados a lutar e suas tentativas desesperadas de contornar este fato.
Ainda que eu não saiba muito sobre a vida do autor, pelo pouco que sei é possível perceber que ele transpõe muito de si para o próprio Svejk, mesmo que de forma bastante inusitada. Afinal, o próprio Jaroslav Hasek lutou na guerra, inventava raças loucas para animais (acreditem!) e também foi mantido em um hospital psiquiátrico por um tempo (como o protagonista logo na primeira parte do livro). Enfim, percebe-se que ele aproveitou todas as situações incomuns e tristes pelas quais passou e as transformou em bagagem para a criação de "O bom Soldado Svejk", que foi publicado em partes separadas e de forma independente. Aliás, é importante ressaltar que o livro, originalmente planejado para ser escrito em 6 partes, encontra-se incompleto, pois o autor veio a falecer após a publicação da parte 4, nos deixando sem uma conclusão para as aventuras (ou desventuras) do bom soldado.
"O Bom Soldado Svejk" é uma obra que começa divertida e tem muitas partes cômicas, mas confesso que, da metade para o final, a leitura se tornou um tanto cansativa, seguindo uma fórmula pronta com os mesmos elementos. Dentre eles, vê-se Svejk se metendo em confusões, sendo um "idiota" e contando histórias sem lá nem crá. Não digo que a leitura se tornou enfadonha por abusar dos recursos, mas sim, ficou bem repetitiva...
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